O ar pareceu ser sugado dos pulmões de Laura. O celular escorregou de seus dedos e caiu no tapete macio. Ela encarou o vestido, mas a imagem em sua mente era a da traição. A sala começou a girar. Cada detalhe do quarto, cada objeto que Pedro havia lhe dado, de repente parecia sujo, contaminado.
Ela ouviu a porta da frente se abrir e fechar. Passos subindo a escada. A voz de Pedro, animada.
"Laura, querida? Trouxe o champanhe que você gosta, para comemorarmos nossa última noite como solteiros."
Ele entrou no closet, sorrindo. O sorriso dele morreu quando viu o rosto pálido de Laura. Ele seguiu o olhar dela até o celular no chão. Ele se abaixou, pegou o aparelho e viu a foto. A cor sumiu de seu rosto.
"Laura, eu posso explicar," ele começou, a voz um sussurro desesperado.
Laura não disse nada. Apenas o encarou, o coração batendo forte de raiva e dor.
"Isso... isso não é o que parece. Foi um erro, uma única vez. Eu estava bêbado," ele continuou, as palavras tropeçando umas nas outras.
Nesse momento, o celular dele tocou. O nome na tela era "Sofia". Pedro empalideceu ainda mais e recusou a chamada apressadamente. Tarde demais. Laura viu.
Ela soltou uma risada, um som seco e sem alegria que a assustou.
"Um erro? Uma única vez?" ela repetiu, a voz tremendo. "Ela me mandou uma mensagem, Pedro. Disse que está grávida."
Pedro passou as mãos pelo cabelo, parecendo encurralado. Ele abandonou a mentira.
"Sim, ela está," ele admitiu, a voz baixa. "Laura, isso não muda nada entre nós. Eu amo você. Nós vamos nos casar amanhã. A Sofia... a Sofia e o bebê, eu vou cuidar deles. Vou dar dinheiro, resolver tudo. Ninguém precisa saber. Isso não vai afetar nosso casamento."
A calma com que ele disse aquilo foi mais chocante do que a própria traição. Ele não estava pedindo perdão, estava apresentando um plano de negócios. Ele queria manter a noiva herdeira e a amante grávida.
Laura o encarou, a incredulidade se transformando em um nojo profundo. Toda a dor, todo o choque, de repente se cristalizaram em uma fúria fria. O amor que ela sentia por ele se desintegrou, virando cinzas.
"Você quer que eu finja que nada aconteceu?" ela perguntou, a voz perigosamente calma. "Quer que eu me case com você amanhã, sabendo que minha melhor amiga está carregando seu filho?"
"É a melhor solução para todos," ele disse, tentando se aproximar dela. "Pense na nossa família, nos negócios. Um escândalo agora seria um desastre. Nós podemos superar isso."
Laura recuou, como se o toque dele pudesse queimá-la. Ela olhou para o rosto dele, o rosto que ela amou por três anos, e não viu nada além de um estranho ambicioso e manipulador.
Ela riu de novo, desta vez mais alto, uma risada que beirava a histeria. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas não de tristeza. Eram lágrimas de raiva.
"Superar isso?" ela repetiu, a voz subindo. "Não há nada para superar, Pedro. Acabou."
Ele a agarrou pelo braço. "Não seja tola, Laura. Não jogue tudo fora por causa de um deslize."
"Me solta," ela disse, a voz cortante. Ela se livrou do aperto dele.
Uma ideia louca, nascida do desespero e do desejo de vingança, tomou forma em sua mente. Se ele queria tanto um casamento para manter as aparências e solidificar sua posição, ela lhe daria um casamento. Mas não seria o dele.
Ela se virou, pegou o celular do chão e ignorou as dezenas de mensagens que chegavam de Sofia. Abriu sua lista de contatos e rolou até encontrar um nome.
Gabriel.
Um empresário do ramo imobiliário que ela conhecia de eventos do setor. Ele sempre a olhava com uma admiração silenciosa que ela, na sua ingenuidade apaixonada, nunca havia entendido de verdade. Ele era discreto, poderoso e, acima de tudo, o maior rival de Pedro nos negócios.
Ela apertou o botão de ligar. Pedro a observava, confuso.
"O que você está fazendo?"
Laura o ignorou. O telefone tocou uma, duas vezes. Uma voz masculina e calma atendeu.
"Alô?"
"Gabriel? É a Laura," ela disse, a voz firme, apesar do caos dentro dela. "Eu tenho uma proposta para você. Preciso de um favor. Você está ocupado amanhã de manhã?"
Houve uma pausa do outro lado da linha.
"Laura? Aconteceu alguma coisa? Amanhã não é o seu casamento?"
"Meus planos mudaram," ela disse, olhando diretamente para Pedro, que agora a encarava com uma mistura de choque e medo. "Eu preciso me casar amanhã. Você quer ser o noivo?"
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