Quando o táxi parou em frente ao prédio, o porteiro a olhou com uma expressão de pena e confusão. "Dona Laura... O Sr. Pedro disse que a senhora..."
"Eu só vim buscar minhas coisas, Carlos," ela o interrompeu gentilmente. Ele assentiu e abriu a porta para ela.
O apartamento estava silencioso. Por um momento, ela pensou que ele não estava lá. Ela andou pelo corredor, em direção ao quarto. A porta estava entreaberta. E então ela ouviu. Risadas. A risada de Sofia.
Laura parou, o coração martelando contra as costelas. Ela empurrou a porta suavemente.
A cena que a cumprimentou foi como um soco no estômago. Sofia estava sentada no sofá do quarto, o sofá que Laura havia escolhido, vestindo um dos roupões de seda de Laura. Pedro estava ajoelhado na frente dela, massageando seus pés.
"Está melhor, meu amor?" ele perguntou, a voz cheia de uma ternura que ele raramente usava com Laura.
"Muito melhor," Sofia respondeu, inclinando a cabeça para trás, satisfeita. "Estou tão cansada. Planejar essa mudança de última hora foi exaustivo."
Mudança. A palavra ecoou na mente de Laura. Sofia não estava apenas visitando. Ela estava se mudando. Para a casa dela. Para a vida dela.
Laura lembrou-se de uma noite, meses atrás, quando ela estava exausta após uma longa semana de trabalho. Ela pediu a Pedro para lhe fazer uma massagem nos pés. Ele riu e disse: "Querida, eu não sou massagista. Peça um delivery." Agora, ali estava ele, aos pés de Sofia, agindo como um servo devotado.
A hipocrisia era tão espessa que Laura quase podia tocá-la.
Ela deu um passo para dentro do quarto. O barulho fez com que os dois olhassem para cima.
Os olhos de Pedro se arregalaram em choque. Sofia, por outro lado, sorriu. Um sorriso presunçoso e vitorioso.
"Laura! Que surpresa," Sofia disse, a voz falsamente doce.
Pedro se levantou rapidamente, parecendo culpado e irritado ao mesmo tempo.
"O que você está fazendo aqui?" ele exigiu, como se Laura fosse a intrusa.
"Eu moro aqui. Ou morava," Laura respondeu, a voz fria como gelo. Ela olhou ao redor do quarto. Malas de Sofia estavam abertas no chão, suas roupas misturadas com as de Pedro. "Vejo que você não perdeu tempo."
"Bem, eu preciso de um lugar para ficar," Sofia disse, colocando a mão protetoramente sobre a barriga. "Com o bebê a caminho, Pedro insistiu que eu viesse para cá, onde ele pode cuidar de mim."
"Eu não insisti em nada," Pedro murmurou, fuzilando Sofia com o olhar.
Laura ignorou a troca entre eles. Ela caminhou até seu closet, pegou as malas restantes e começou a enchê-las com suas roupas, seus sapatos, seus pertences. Ela se movia com uma calma mecânica, bloqueando a dor, focando apenas na tarefa.
"Você não pode simplesmente entrar aqui e pegar tudo!" Pedro protestou, seguindo-a. "Metade dessas coisas nós compramos juntos."
Laura parou e se virou para ele lentamente.
"Você está falando sério?" ela perguntou, incrédula. "Você me trai com a minha melhor amiga, a engravida, tenta me convencer a continuar com um casamento de fachada e agora você quer discutir sobre um par de sapatos?"
"Não é sobre os sapatos, é sobre o princípio!" ele gritou, o rosto vermelho de raiva. "Você me humilhou hoje, se casando com aquele... aquele abutre! Você fez isso para me provocar!"
"Não, Pedro. Você superestima sua importância," Laura disse, a voz cortante. "Eu não me casei para te provocar. Eu me casei porque você me mostrou exatamente quem você é, e eu não queria passar nem mais um segundo da minha vida sendo sua noiva. O Gabriel foi apenas... uma consequência conveniente da sua traição."
Ela se virou para Sofia, que observava tudo com um sorriso satisfeito.
"E você," Laura disse, o desprezo em sua voz evidente. "Eu te dei tudo. Minha amizade, minha confiança. Eu te tratei como uma irmã. E foi assim que você me retribuiu. Espero que você seja muito feliz aqui, no meu apartamento, com o meu ex-noivo. Vocês se merecem."
Laura pegou suas malas, sentindo o peso não apenas dos objetos, mas de uma vida inteira de memórias e sonhos destruídos. Ao passar por eles para sair, Pedro bloqueou seu caminho.
"Você não vai a lugar nenhum com minhas coisas."
"Saia da minha frente, Pedro," ela avisou, a voz baixa e perigosa.
"Ou o quê?" ele zombou. "Vai chamar seu novo marido para te defender?"
Naquele momento, algo dentro de Laura se partiu. A calma, o controle, tudo desapareceu.
"Você quer saber a verdade?" ela disse, a voz subindo. "Eu vi a mensagem. Eu vi a foto. Eu sei que vocês estão juntos há meses. Cada 'viagem de negócios' , cada 'noite com os amigos' . Era tudo mentira. Vocês dois me fizeram de idiota."
O rosto de Pedro ficou pálido. Ele não esperava que ela soubesse da extensão da traição.
"Eu sei que você só queria se casar comigo por causa da empresa do meu pai," ela continuou, as palavras saindo como veneno. "Você nunca me amou. Você amava o que eu representava. Acesso, poder, dinheiro."
Ela empurrou-o com força, pegando-o de surpresa. Ele tropeçou para trás.
"Fique com o apartamento. Fique com tudo," ela cuspiu as palavras. "Mas fique longe de mim."
Ela arrastou suas malas pelo corredor e bateu a porta com toda a força que tinha. Só quando estava dentro do elevador, sozinha, é que as lágrimas finalmente vieram. Lágrimas de raiva, de humilhação e, finalmente, de libertação. Estava acabado. De verdade, agora.
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