Na manhã seguinte, ela se forçou a sair da cama. Tomou um banho longo e frio, tentando lavar a sensação de sujeira que a consumia. Quando saiu do banheiro, havia uma caixa na porta de seu quarto de hotel. Dentro, um vestido simples, mas elegante, de cor marfim, e sapatos combinando. Um bilhete de Gabriel dizia apenas: "Achei que você não ia querer usar branco. Te vejo às oito."
Pontualmente às oito, seu celular tocou. Era Gabriel, avisando que estava no saguão.
Enquanto descia no elevador, seu outro celular, o pessoal, que ela quase esquecera, começou a tocar incessantemente. Era Pedro. Ela ignorou. Então, uma enxurrada de mensagens.
"Laura, por favor, me atenda."
"Não faça essa loucura."
"Eu te amo, vamos conversar."
"Sofia e eu não significamos nada."
Laura leu as mensagens com uma frieza que a surpreendeu. O desespero dele não lhe causava pena, apenas um desprezo gelado. Ela silenciou o telefone e o guardou na bolsa.
Quando o viu no saguão, seu coração deu um salto. Gabriel estava impecável em um terno escuro, parecendo calmo e controlado. Ele sorriu levemente quando a viu.
"Você está linda," ele disse, a voz sincera.
"Você também não está mal," ela respondeu, tentando sorrir de volta.
No caminho para o cartório, o telefone dela começou a tocar de novo. Desta vez, ela atendeu, colocando no viva-voz.
"Laura, graças a Deus!" A voz de Pedro era uma mistura de alívio e pânico. "Onde você está? Volte para casa, vamos resolver isso."
Laura olhou para Gabriel, que mantinha os olhos na estrada, impassível.
"Não há nada para resolver, Pedro," ela disse, a voz sem emoção.
"O que você quer dizer com isso? O casamento é hoje! Nossos pais, os convidados... todos estão chegando! O que eu vou dizer a eles?"
"Diga a verdade," Laura sugeriu. "Diga que você engravidou minha melhor amiga e achou que eu não me importaria. Tenho certeza que eles vão entender."
Houve um silêncio chocado do outro lado. Então, a voz dele mudou, o tom suplicante desaparecendo, substituído por uma raiva contida.
"Você não vai fazer isso, Laura. Você não vai me humilhar assim."
"Eu? Humilhar você?" Laura riu, um som amargo. "Você e a Sofia já fizeram um ótimo trabalho sozinhos. Eu só estou... seguindo em frente."
"Seguindo em frente com o Gabriel?" ele cuspiu o nome como se fosse veneno. "Você está louca! Você vai se arrepender disso. Ele só está te usando!"
"Isso é irônico, vindo de você," ela retrucou. "Olha, Pedro, estou ocupada agora. Tenho um casamento para ir."
"Se você se casar com ele, Laura, eu juro, eu vou destruir você. Vou destruir a sua carreira e a dele. Você não sabe com quem está se metendo."
A ameaça pairou no ar. Laura sentiu um calafrio, mas não de medo. Era a confirmação final de que ela estava fazendo a coisa certa. O homem que ela pensava amar era um monstro.
"Adeus, Pedro," ela disse, com uma finalidade cortante. Ela encerrou a chamada antes que ele pudesse responder.
Ela se virou para Gabriel. "Desculpe por isso."
Ele deu de ombros. "Eu já esperava. Ele não vai desistir fácil." Ele parou o carro em frente a um prédio antigo e imponente. O cartório. "Ainda dá tempo de mudar de ideia."
Laura olhou para o prédio, depois para Gabriel. O rosto dele era sério, mas seus olhos mostravam uma preocupação genuína. Pela primeira vez em vinte e quatro horas, ela não se sentiu completamente sozinha.
"Eu não vou mudar de ideia," ela disse.
Eles entraram. Um funcionário os esperava, claramente instruído por Gabriel. Em menos de vinte minutos, eles estavam diante de um juiz de paz em uma sala pequena e austera.
Quando o juiz perguntou se ela, Laura, aceitava Gabriel como seu legítimo esposo, ela olhou para o homem ao seu lado. Ele não era parte do seu plano de vingança. Ele era um homem bom que estava arriscando sua reputação por ela.
"Aceito," ela disse, a voz clara e firme.
Quando Gabriel disse "aceito", ele olhou diretamente nos olhos dela, e por um instante, Laura viu uma promessa ali. Uma promessa de lealdade e proteção.
Eles assinaram os papéis. Estava feito. Laura agora era a Sra. Martins.
Ao saírem do cartório, de volta à luz do sol, Gabriel se virou para ela.
"E agora, Sra. Martins?" ele perguntou, um leve sorriso brincando em seus lábios.
Antes que Laura pudesse responder, seu telefone tocou novamente. Era Pedro. Ela rejeitou a chamada. Ele ligou de novo. E de novo.
Finalmente, ela atendeu.
"O que você quer?" ela perguntou, cansada.
A voz de Pedro era baixa e cheia de escárnio.
"Eu só queria dar os parabéns ao casal feliz," ele zombou. "Espero que vocês aproveitem a festa. Porque a partir de amanhã, a vida de vocês vai virar um inferno. E pode ter certeza, eu vou fazer questão disso pessoalmente."
Ele desligou. Laura ficou parada na calçada, o telefone na mão, o peso daquelas palavras caindo sobre ela. A guerra havia sido declarada.
Gabriel pegou o telefone da mão dela, desligou-o e o guardou no bolso do paletó.
"Chega dele por hoje," ele disse, firmemente. Ele pegou a mão dela. "Agora, vamos tomar café da manhã. Como meu sócio costuma dizer, nenhuma guerra deve ser travada de estômago vazio."
A mão dele era quente e forte. Laura se agarrou a ela, uma âncora no meio da tempestade que era sua vida. Pela primeira vez, ela sorriu. Um sorriso pequeno, mas real.
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