"Temos de a proteger," dizia Liam. "Se a notícia se espalhar que nós os três estamos apaixonados pela filha do caseiro, as outras famílias vão usá-la contra nós. Vão destruí-la."
"É por isso que o casamento com a Liza é necessário," respondeu Jacob, com a voz rouca. "Um de nós tem de se casar com ela. Cria uma fachada, uma aliança que protege a Sofia de ser um alvo. Casamo-nos com a Liza, mas o nosso coração continuará a pertencer à Sofia."
Benjamin acrescentou: "É um sacrifício, mas vale a pena para a manter segura. A Liza sempre nos compreendeu. Ela não se importará."
Senti o chão a desaparecer debaixo dos meus pés. Um sacrifício. A minha vida inteira, os meus três casamentos, a minha dor, tudo tinha sido um sacrifício calculado para proteger outra mulher.
Uma gargalhada amarga escapou-me dos lábios. O som foi baixo, mas no corredor silencioso, pareceu um trovão.
Eles viraram-se, assustados. Os seus olhos arregalaram-se quando me viram.
"Liza!"
O alarme do meu telemóvel tocou nesse preciso momento, um lembrete para tomar um analgésico. O som quebrou o feitiço.
Eles aproximaram-se, os seus rostos uma mistura de surpresa e acusação.
"O que estás a fazer aqui?" perguntou Liam, os seus olhos a percorrerem as minhas ligaduras. "O que te aconteceu?"
"O que me aconteceu?" repeti, a minha voz fria como gelo. "A vossa preciosa Sofia atirou-me chá a ferver para cima, e depois vocês empurraram-me contra um vaso de vidro. Foi isso que aconteceu."
Eles ficaram chocados por um momento. A culpa brilhou nos seus olhos, mas foi rapidamente substituída pela justificação.
"A Sofia não faria isso de propósito," disse Jacob, apressadamente. "Ela estava perturbada. E nós... nós estávamos em pânico."
"Não importa," disse Benjamin, tentando suavizar a situação. "Liza, tu és importante para nós. Tu sabes disso. Agora, sobre o casamento..."
A ironia era tão espessa que eu podia sufocar nela. Eles queriam que eu escolhesse o meu próprio carrasco.
"Não se preocupem," comecei a dizer, pronta para lhes dar a notícia da minha decisão. "Vocês não terão de se sacrificar mais por mim."
Mas fui interrompida. A porta do quarto de Sofia abriu-se de repente, e uma enfermeira saiu a correr, com o rosto pálido.
"O estado dela piorou! Os rins dela estão a falhar! A medicação que lhe deram para a dor reagiu mal com a sua condição pré-existente!"
A notícia caiu como uma bomba.
"O quê?!" gritou Liam, agarrando a enfermeira pelo braço. "Façam alguma coisa! Eu quero os melhores médicos! Agora!"
A sua fúria era a de um homem poderoso habituado a ter o que quer. Em minutos, ele e os irmãos estavam ao telefone, a usar a sua influência, a mobilizar recursos, a chamar os melhores especialistas do país.
O hospital, sob uma pressão imensa, agiu rapidamente. O diagnóstico foi rápido e brutal.
"Ela precisa de um transplante de rim," disse o médico-chefe, com o rosto sombrio. "E precisa dele urgentemente. A busca por um dador compatível começa agora."