Sofia, por outro lado, estava radiante em um vestido vermelho-sangue, movendo-se pela multidão como uma rainha em sua corte, aceitando cumprimentos e sorrindo com uma confiança que fez o estômago de Maria revirar.
"Está quase na hora" , disse Pedro, sua voz era monótona. Ele não parecia um homem celebrando sua cura milagrosa, mas sim alguém indo para sua própria execução.
Maria tentou segurar a mão dele, mas ele a afastou sutilmente.
"Preciso ir ao palco preparar as coisas com Sofia" , ele disse, e se afastou antes que ela pudesse responder.
As luzes do salão diminuíram, e um único holofote iluminou o pequeno palco onde um leiloeiro sorridente estava parado. Ao lado dele, Pedro e Sofia.
"Senhoras e senhores, bem-vindos!" , começou o leiloeiro. "Hoje temos a honra de apresentar uma coleção única, as obras da artista Maria, que, como muitos de vocês sabem, foram instrumentais na notável recuperação do nosso anfitrião, o senhor Pedro."
Um aplauso educado percorreu o salão. Maria sentiu um breve momento de esperança. Talvez ela tivesse imaginado coisas. Talvez Pedro não tivesse se deixado levar pelas palavras venenosas de Sofia.
Então, Sofia pegou o microfone.
"Obrigada a todos por virem" , ela começou, seu sorriso era largo e predatório. "Meu irmão e eu estamos muito felizes em tê-los aqui. No entanto, antes de começarmos o leilão, há algo que precisa ser esclarecido. Uma verdade que precisa vir à tona."
O salão ficou em silêncio. A mudança no tom de Sofia foi abrupta e alarmante.
"Minha cunhada, Maria" , continuou Sofia, apontando para ela na multidão, "é, sem dúvida, uma mulher de grande... imaginação. Tão grande, na verdade, que às vezes ela mesma se perde em seus próprios delírios."
Os sussurros começaram imediatamente, confusos e chocados. Maria sentiu centenas de olhos se virando para ela. Seu rosto queimava.
"Essas pinturas" , disse Sofia, fazendo um gesto amplo para as obras de arte, "não são expressões de talento. São sintomas. Provas da frágil condição mental de Maria. Ela acredita honestamente que esses quadros têm poderes mágicos, que eles a curaram. Ela acredita que sonha com outros mundos."
Sofia fez uma pausa dramática, deixando a acusação pairar no ar.
"A verdade é que meu irmão foi curado por tratamentos médicos convencionais, enquanto Maria se afundava em sua própria fantasia. E nós, por amor e preocupação, seguimos o jogo dela. Pensamos que talvez, ao dar a ela este palco, ela pudesse ver a realidade."
A crueldade era tão calculada, tão perfeitamente executada, que Maria mal conseguia respirar.
Sofia se virou para Pedro. "Pedro, querido, diga a eles."
Pedro parecia paralisado. Ele olhou para Sofia, depois para a multidão, e finalmente seus olhos encontraram os de Maria. Havia uma agonia neles, uma luta, mas estava sendo vencida pela influência de sua irmã.
Ele pegou o microfone. Sua mão tremia.
"Minha irmã... está certa" , disse ele, as palavras saindo com dificuldade. "Eu... eu fui enganado pela minha própria esperança. E Maria... ela não está bem. Essas pinturas... elas não têm valor algum. São... são a prova de uma mente doente."
Cada palavra foi um golpe físico. O ar saiu dos pulmões de Maria. O zumbido em seus ouvidos ficou mais alto do que os murmúrios chocados da multidão.
Humilhação. Traição. Dor.
Eram palavras fracas demais para descrever o que ela sentia.
"Não..." , ela sussurrou, a voz falhando. Ela deu um passo à frente, cambaleando. "Pedro, não... você sabe a verdade. Você sentiu."
Ela olhou para ele, seus olhos implorando. Ela não estava pedindo que ele a defendesse como artista, mas que ele se lembrasse do amor, do sacrifício, das noites em que ela segurou sua mão enquanto a febre o consumia, das manhãs em que ele acordou um pouco mais forte por causa da tela ao lado de sua cama.
Pedro desviou o olhar, incapaz de encará-la. Foi a sua covardia que a quebrou.
"Para provar nosso ponto" , anunciou Sofia, sua voz triunfante ressoando pelo salão silencioso, "vamos iniciar um pequeno jogo. Em vez de um leilão, faremos uma... limpeza. Maria, já que você as criou, achamos justo que você escolha a primeira a ser destruída. Qual dessas fantasias você gostaria de apagar primeiro?"
A proposta era monstruosa, uma tortura psicológica disfarçada de espetáculo.
Os convidados olhavam, alguns com pena, outros com um fascínio mórbido, como se estivessem assistindo a um acidente de carro em câmera lenta.
A humilhação não era mais privada. Era um esporte para espectadores.
Maria olhou para as suas pinturas, seus filhos, nascidos de seus sonhos e de sua própria força vital. O lago de águas calmas. A floresta de árvores brilhantes. Cada uma era um pedaço de sua alma.
E o homem que ela amava, o homem que ela salvara, estava no palco, sancionando a destruição de tudo o que ela era.
O mundo começou a girar. As luzes dos holofotes se tornaram borrões ofuscantes. As vozes da multidão se fundiram em um ruído branco.
A última coisa que ela viu antes de a escuridão a engolir foi o rosto de Pedro, contorcido em uma máscara de dor e culpa, enquanto Sofia sorria ao seu lado, vitoriosa.