"Pedro está ocupado, lidando com os danos que você causou à nossa família" , respondeu Sofia friamente. "Ele está explicando aos nossos convidados sobre sua... condição. Todos estão sendo muito compreensivos."
A palavra "compreensivos" soou como um insulto. Eles estavam sentindo pena dela, a pobre artista louca.
Maria se levantou, suas pernas tremiam. "Eu preciso falar com ele."
"Eu acho que não" , disse Sofia, bloqueando seu caminho. "Você já fez o suficiente por uma noite."
A dor no peito de Maria se transformou em uma raiva fria. "Saia da minha frente, Sofia."
Pela primeira vez, ela viu um lampejo de surpresa nos olhos de Sofia. Mas foi rapidamente substituído por diversão.
"Ou o quê? Vai me amaldiçoar com uma de suas pinturas mágicas? Ah, espere, você não pode mais. Elas não existem."
A menção às pinturas reacendeu o pânico. "O que você fez com elas?"
"Estamos apenas seguindo o plano. O jogo" , disse Sofia com um sorriso cruel. "Como você desmaiou e não pôde escolher, eu tive que tomar a decisão por você. Escolhi a da floresta brilhante. Era a mais ridícula."
A imagem daquela pintura, o esforço, a exaustão, as noites em claro para criá-la, tudo sendo destruído... Maria sentiu uma náusea violenta.
Ela olhou para Sofia, para o rosto satisfeito de sua algoz, e a raiva lhe deu uma força que ela não sabia que tinha.
Ela empurrou Sofia para o lado com força. Sofia tropeçou para trás, chocada.
"Você é um monstro" , cuspiu Maria.
Ela correu para a porta e a abriu. O barulho do salão a atingiu. Ela viu os convidados se despedindo, alguns olhando para ela com curiosidade e pena. Ela procurou desesperadamente por Pedro.
Ela o viu perto da saída, conversando com um pequeno grupo de pessoas. Ele parecia exausto e devastado.
"Pedro!" , ela gritou, correndo em sua direção.
Ele se virou, e o pânico em seus olhos era evidente. As pessoas com quem ele estava conversando se afastaram, dando-lhes espaço.
"Maria, por favor, não faça uma cena" , ele disse em voz baixa, pegando seu braço.
"Uma cena?" , ela repetiu, incrédula. "Você me humilhou na frente de todas essas pessoas! Você chamou meu amor por você de loucura! Você destruiu meu trabalho, minha alma!"
Sua voz estava subindo, atraindo mais atenção.
"Eu não tive escolha!" , ele sibilou, seu aperto em seu braço se tornando doloroso. "Sofia me convenceu... a reputação da família... eu não sabia o que fazer!"
"Você sabia a verdade!" , ela gritou, lágrimas escorrendo por seu rosto. "No fundo do seu coração, você sabe que eu te salvei! Olhe para mim, Pedro! Olhe nos meus olhos e me diga que você não acredita em mim!"
Ele não conseguiu. Ele desviou o olhar, seu rosto uma mistura de culpa e miséria.
"É para o seu próprio bem, Maria" , disse ele, as palavras parecendo ensaiadas. "Você precisa de ajuda. Nós vamos te conseguir ajuda."
Foi então que ela viu dois seguranças corpulentos se aproximando, chamados por um aceno discreto de Sofia, que agora estava parada a uma curta distância, observando com satisfação fria.
O desespero tomou conta dela. Eles iam trancá-la. Eles iam tratá-la como uma louca.
Ela tentou se soltar do aperto de Pedro, mas ele a segurou com força.
"Me solta! Me solta!" , ela gritou, debatendo-se.
Os seguranças a alcançaram. Cada um pegou um de seus braços. A força deles era esmagadora.
"Por favor, senhora, acalme-se" , disse um deles, sua voz era desprovida de emoção.
Eles começaram a arrastá-la para longe, para fora do salão, para longe dos olhares curiosos.
Ela olhou para Pedro uma última vez, seu coração se partindo em um milhão de pedaços. Ele apenas ficou lá, observando, com o rosto pálido e impotente, enquanto ela era levada como uma criminosa.
Eles a levaram para fora do prédio, para o ar frio da noite. A luta tinha esgotado suas últimas energias.
Sofia os seguiu.
"Levem-na para a ala oeste da casa. Trancem a porta. Ninguém entra ou sai sem a minha permissão" , ordenou ela aos seguranças.
Eles a forçaram a entrar em um carro.
Enquanto o carro se afastava, Maria olhou pela janela traseira e viu o prédio do leilão se distanciando. Aquele lugar, que deveria ter sido o palco de seu triunfo, se tornou sua prisão.
Sofia não havia terminado com ela. A humilhação pública era apenas o começo.
O jogo cruel estava longe de acabar.
Quando chegaram à mansão, os seguranças a escoltaram rudemente por corredores silenciosos até uma parte da casa que ela nunca tinha visto. Era um quarto espartano, com apenas uma cama, uma cadeira e uma janela com grades.
A porta se fechou atrás dela com um clique alto e definitivo. O som da chave girando na fechadura foi o som de sua liberdade se esvaindo.
Ela correu até a janela, mas as grades eram grossas e frias. Lá fora, apenas a escuridão do jardim.
Ela estava presa. Uma prisioneira em sua própria casa.
Horas depois, a porta se abriu novamente. Sofia entrou, carregando algo.
Era outra de suas pinturas. A cidade flutuante.
Ela a colocou em um cavalete que um dos seguranças trouxe para o quarto.
"O jogo ainda não acabou, cunhadinha" , disse Sofia, com um sorriso sádico. "Pedro se sentiu culpado por ter destruído a primeira sem a sua... participação. Então ele insistiu que você tivesse a chance de fazer a próxima escolha."
Maria olhou para a pintura, para a cidade que ela construiu em seus sonhos, um lugar de paz e beleza.
"O que você quer de mim, Sofia?" , perguntou Maria, sua voz era um fio.
"Eu quero que você admita. Admita que é uma fraude. Admita que é louca" , disse Sofia. "Ou então, vamos continuar destruindo suas 'obras-primas' , uma por uma, bem na sua frente. E vamos ter certeza de que Pedro assista a tudo."
A ameaça era clara. A tortura não era apenas para ela, era para Pedro também. Uma forma de solidificar o controle de Sofia sobre ele.
Sofia colocou uma caixa de fósforos na cadeira.
"A escolha é sua, Maria. Você pode queimar esta pintura agora e talvez poupemos as outras. Ou você pode se recusar, e nós a destruiremos de uma forma muito mais... criativa. E então passaremos para a próxima. E para a próxima."
Sofia saiu, trancando a porta novamente.
Maria ficou sozinha no quarto, com a pintura que era um pedaço de sua alma e a caixa de fósforos que era a ferramenta de sua profanação.
A esperança era uma brasa morrendo. Ela olhou para a pintura, para as torres flutuantes contra um céu crepuscular. Era linda. Era real para ela.
Ela pegou a caixa de fósforos. Suas mãos tremiam tanto que ela mal conseguia segurá-la.
Destruir sua própria criação. Seu próprio sacrifício.
Era uma escolha impossível, um novo nível de crueldade que ela não achava que Sofia fosse capaz de alcançar.
Ela abriu a caixa. O cheiro de enxofre encheu suas narinas.
Um soluço escapou de seus lábios, um som de pura agonia.