Meu Bebê, Minha Batalha
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Capítulo 2

No dia seguinte, o hospital ligou para agendar a cirurgia de doação.

"Podemos fazer na próxima semana," disse a enfermeira com uma voz alegre.

O meu estômago revirou-se.

"Preciso de falar com o médico primeiro," disse eu, a minha voz a soar estranhamente calma. "Tenho algumas perguntas."

Desliguei e respirei fundo. Precisava de um plano.

Quando Pedro chegou a casa naquela noite, trazia flores para a Sofia. Ele passou por mim na sala de estar como se eu fosse invisível.

Fui atrás dele até ao quarto da Sofia.

"Pedro, precisamos de falar."

Ele estava a arrumar as flores num vaso, a sorrir para a nossa filha, que estava fraca mas sorria de volta.

"Agora não, Mariana. Não vês que estou a passar tempo com a Sofia?"

A sua voz era baixa, mas carregada de aviso. Não faças uma cena à frente dela.

Esperei que ele a pusesse a dormir e o segui até à cozinha.

"A cirurgia é demasiado arriscada para o Tiago," disse eu, usando o nome do nosso filho pela primeira vez na sua presença.

Pedro virou-se, a sua expressão endurecida. "Já falámos sobre isto. O nome dele é irrelevante. Ele está aqui para salvar a irmã."

"Ele tem um nome. É Tiago. E ele não é um saco de peças sobressalentes!"

A minha voz subiu, trémula de raiva.

"Baixa a voz," sibilou ele. "Queres acordar a Sofia? Queres que ela saiba que a mãe dela prefere deixar a filha morrer a ajudar?"

"Isso não é verdade! Eu amo a Sofia!"

"Então age como tal! Para de ser egoísta. Esta é a nossa única oportunidade."

"Existem outras opções! Podemos voltar a entrar na lista de espera nacional. Podemos procurar noutros países!"

Pedro riu, um som amargo e sem humor.

"E esperar meses? Anos? A Sofia não tem esse tempo, e tu sabes disso! Porque é que estás a fazer isto? Porque é que de repente te tornaste tão sentimental?"

"Ele é meu filho!"

"Ele é o nosso filho! E a sua obrigação é para com a família dele!"

A sua certeza era absoluta. Na sua mente, não havia debate. Havia apenas uma solução, e eu era o obstáculo.

Naquela noite, enquanto Pedro dormia, eu fiz as malas. Uma pequena mala para mim, e uma maior para o Tiago.

Embalei os seus macacões, as suas fraldas, o seu pequeno cobertor azul. Cada item parecia um ato de traição e um ato de amor ao mesmo tempo.

O meu coração batia descontroladamente.

Onde é que eu iria? O que é que eu faria?

Não tinha respostas. Apenas um instinto avassalador de fugir, de levar o meu filho para um lugar seguro, longe das facas e das agulhas, longe da família que o via apenas como um meio para um fim.

Deixei um bilhete na mesa da cozinha.

"Eu não posso fazer isto. Levei o Tiago. Não nos procurem."

Sabia que era inútil. Eles iriam procurar. Pedro não desistiria tão facilmente.

Mas eu precisava de ganhar tempo. Tempo para pensar. Tempo para encontrar uma forma de proteger o meu bebé.

Com o Tiago a dormir profundamente no seu ovinho, saí silenciosamente para a noite fria.

Cada passo para longe daquela casa era um passo para o desconhecido.

Eu estava sozinha, assustada, mas também sentia uma estranha sensação de clareza.

Pela primeira vez em meses, eu estava a tomar uma decisão por mim mesma. Pelo meu filho.

            
            

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