Meu Bebê, Minha Batalha
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Capítulo 3

Conduzi durante horas, sem destino.

O sol começou a nascer, pintando o céu de laranja e rosa. Tiago acordou e começou a choramingar no banco de trás.

Parei numa área de serviço. O lugar estava quase deserto.

Alimentei-o, troquei-lhe a fralda no banco de trás do carro. As suas pequenas mãos agarraram o meu dedo. Olhou para mim com os seus grandes olhos escuros.

A culpa atingiu-me. Eu tinha-o arrancado da sua casa, do seu berço.

Mas depois imaginei-o numa cama de hospital, pálido e a chorar de dor.

Não. Eu tinha feito a coisa certa.

Liguei o meu telemóvel antigo, um pré-pago que guardava para emergências. Havia dezenas de chamadas perdidas de Pedro e da sua mãe, Elvira.

Ignorei-as e liguei para a única pessoa que talvez me pudesse ajudar: a minha irmã, Clara.

Vivíamos afastadas há anos, desde que me casei com o Pedro. Ela nunca gostou dele.

"Ele só se vê a si mesmo," disse-me ela uma vez. Eu não a ouvi.

Clara atendeu ao segundo toque.

"Mariana? O que se passa? O Pedro ligou-me como um louco."

A minha voz quebrou. "Clara, eu preciso de ajuda."

Contei-lhe tudo. A leucemia da Sofia, o nascimento do Tiago, o plano da doação, a minha fuga.

Houve um longo silêncio do outro lado da linha.

"Onde estás?" perguntou ela finalmente, a sua voz séria.

Dei-lhe o nome da área de serviço.

"Fica aí. Não saias daí. Estou a ir."

Uma hora depois, o carro de Clara parou ao lado do meu.

Ela saiu e olhou para mim, depois para o Tiago a dormir no seu ovinho.

Ela não disse "Eu avisei-te". Apenas abriu os braços.

Eu desabei a chorar.

"Está tudo bem," disse ela, a afagar-me as costas. "Vais ficar comigo. Ele vai ficar seguro."

Segui-a até à sua pequena casa na costa, a duas horas de distância da minha antiga vida.

Era um lugar pequeno, mas acolhedor, cheio de livros e plantas. Cheirava a sal e a liberdade.

Clara preparou um quarto para mim e para o Tiago.

"Pedro não vai desistir," disse eu, enquanto observava o Tiago a dormir num berço improvisado.

"Eu sei," disse Clara. "Ele é teimoso e egoísta. Mas ele não sabe que estás aqui. Por agora, estás segura."

Naquela noite, o meu telemóvel pré-pago tocou. Era um número desconhecido. Hesitei, mas atendi.

"Mariana." Era a voz de Pedro, fria e controlada. "Acabou a brincadeira. Traz o nosso filho para casa. Agora."

"Ele não é uma ferramenta, Pedro."

"Ele é a única esperança da Sofia! Como te atreves a fazer-lhe isto? A tua própria filha!"

"Eu estou a proteger o meu filho!"

"Estás a ser uma mãe horrível! Para os dois!"

Ouvi a voz de Elvira ao fundo, a gritar. "Diz-lhe que vamos chamar a polícia! Vamos acusá-la de rapto!"

Pedro voltou ao telefone. "Ouviste? Tens 24 horas para voltar. Ou então, vais lidar com a polícia. E acredita em mim, eu vou garantir que perdes a custódia dos dois."

Ele desligou.

Fiquei a olhar para o telemóvel, a tremer.

Clara entrou no quarto. "Era ele?"

Eu assenti, incapaz de falar.

Ela pegou no telemóvel da minha mão e retirou o cartão SIM. Partiu-o em dois e deitou-o no lixo.

"Ele não te vai encontrar. Vamos arranjar um advogado. Vais lutar."

Olhei para ela, depois para o meu filho a dormir.

Lutar. Sim. Era isso que eu tinha de fazer.

            
            

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