No dia seguinte, Lúcia, minha empregada, entrou no quarto com uma bandeja de café da manhã. Na vida anterior, Lúcia foi uma das primeiras a me trair. Clara a subornou com joias e promessas de um futuro melhor, e Lúcia, sem hesitar, trocou sua lealdade por ganância. Ela foi a pessoa que trocou meus tônicos por veneno, a mando de Clara.
Lembro-me do seu rosto, fingindo preocupação, enquanto me via enfraquecer dia após dia.
Desta vez, eu usaria sua ganância a meu favor.
"Lúcia," comecei, com um tom casual. "A senhorita Clara chegará em breve para me ajudar durante a gravidez."
Lúcia me olhou, surpresa.
"A senhorita Clara, minha senhora? Mas..."
"Eu sei que ela não tem experiência, mas é minha irmã. Quero alguém da família por perto," eu disse, oferecendo a desculpa perfeita. "No entanto, ela precisará de uma empregada de confiança para auxiliá-la. Alguém que conheça a casa e minhas rotinas. Pensei em você."
Os olhos de Lúcia se arregalaram. Servir a irmã da princesa consorte era um passo social significativo. Significava mais prestígio, mais oportunidades de receber presentes e subornos. A ambição brilhou em seu rosto, exatamente como eu esperava.
"Eu, minha senhora? Seria uma honra!", ela disse, tentando conter a excitação em sua voz.
"Ótimo. Sei que você cuidará bem dela," eu disse, com um sorriso que não alcançava meus olhos.
Eu a estava entregando a Clara de bandeja. Lúcia era ambiciosa e fácil de manipular. Clara, por sua vez, não hesitaria em usar alguém como ela para seus próprios fins. Ao colocá-las juntas, eu estava plantando a semente da discórdia. Lúcia se tornaria os meus olhos e ouvidos, mesmo sem saber.
Mais tarde, Clara chegou. Ela entrou no meu quarto com um ar de falsa modéstia, seus olhos percorrendo cada detalhe luxuoso do ambiente que poderia ter sido dela.
"Sofia, irmã! Fiquei tão preocupada quando soube que você não estava se sentindo bem. E agora, grávida! Que bênção!", ela exclamou, sua voz soando como mel envenenado.
Ela tentou segurar minha mão, mas eu a usei para ajeitar um travesseiro, evitando seu toque.
"Obrigada por vir, Clara. Fico feliz em ter você aqui."
"Claro que eu viria! Somos irmãs! Farei tudo para garantir que você e o bebê fiquem bem," ela disse, com uma sinceridade que faria qualquer um acreditar. Menos eu.
"Na verdade, eu estava pensando nisso," eu disse, olhando para Lúcia, que estava parada no canto. "Você precisará de ajuda. Lúcia é minha empregada mais competente. Ela ficará encarregada de te servir enquanto você estiver aqui."
Clara olhou para Lúcia, um brilho de interesse em seus olhos. Ela reconheceu uma ferramenta útil quando viu uma.
"Oh, Sofia, não precisa se incomodar. Eu posso me virar," ela disse, com uma modéstia fingida.
"Não é incômodo algum," insisti. "Quero que você fique confortável. Pense nisso como um presente. Lúcia, a partir de agora, você servirá à senhorita Clara. Atenda a todas as suas necessidades."
"Sim, minha senhora," Lúcia disse, fazendo uma reverência profunda, seu rosto radiante de alegria.
Clara sorriu para mim, um sorriso que deveria parecer grato, mas que eu sabia ser de triunfo. Ela achava que estava ganhando uma aliada, um peão em seu jogo. Mal sabia ela que o peão já pertencia a outra rainha.
Naquela noite, a mãe de Lúcia veio me agradecer pessoalmente. A mulher, tão ambiciosa quanto a filha, não conseguia esconder o orgulho e a satisfação.
"Minha senhora, não tenho palavras para agradecer sua generosidade. Lúcia está tão feliz. Servir à senhorita Clara é uma grande honra."
"Lúcia é uma boa moça. Ela merece," eu respondi, mantendo a minha expressão serena.
Enquanto a mulher se afastava, cheia de presunção, eu sorri para mim mesma no escuro. A honra deles seria a sua ruína. O jogo estava apenas começando.