Legado de Amor e Luta
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Capítulo 3

A linha ficou muda. O som do bip, bip, bip, ecoava no corredor silencioso do hospital, um som tão frio e final quanto o desprezo na voz de Pedro. Senti um nó na garganta, mas engoli as lágrimas. Chorar era um luxo que eu não podia me permitir agora.

Desliguei o telefone e o guardei no bolso, o metal frio contra a minha perna. Olhei para a luz vermelha da sala de cirurgia. Minha mãe estava lá dentro, lutando pela vida, enquanto as pessoas que deveriam estar ao seu lado a haviam abandonado por uma festa e uma teia de mentiras.

Meu celular vibrou novamente. Meu coração deu um salto, esperando outra ligação de Pedro ou Clara. Mas não era. Era uma notificação de um dos grupos de ajuda.

Uma mensagem privada.

"Olá, meu nome é Sr. Almeida. Eu vi sua postagem. Eu sou O negativo. Estou um pouco longe, mas posso chegar em cerca de uma hora. Ainda precisa?"

Uma onda de alívio tão intensa me atingiu que minhas pernas fraquejaram. Tive que me segurar na cadeira para não cair. Esperança. Uma pequena e frágil chama de esperança no meio da escuridão.

Digitei uma resposta com os dedos trêmulos.

"Sim! Por favor, sim! O hospital vai cobrir todos os seus custos de transporte. Muito, muito obrigada. Você está salvando uma vida."

Enviei a mensagem e respirei fundo, a primeira respiração completa que eu dava desde que cheguei ao hospital. Uma hora. Eu precisava que minha mãe aguentasse por mais uma hora.

Mas a paz durou pouco.

Meu telefone começou a vibrar sem parar. Notificações do grupo principal, uma atrás da outra. Abri o aplicativo e meu sangue gelou.

A minha postagem estava sendo inundada de comentários raivosos.

"GENTE, CUIDADO! É GOLPE!"

"O irmão dessa moça acabou de postar no perfil dele. A mãe deles está bem, em casa. Essa Sofia está inventando tudo para estragar o aniversário da irmã adotiva. Que pessoa doente!"

"Eu quase saí de casa para doar. Que absurdo usar uma doença para chamar atenção."

Uma pessoa postou um print da publicação de Pedro no Instagram. Era uma foto dele e de Clara, sorrindo, abraçados na festa. A legenda dizia: "Comemorando o aniversário do meu anjo, Clara. Infelizmente, algumas pessoas tentam estragar nossa felicidade com mentiras cruéis. Para quem está perguntando, minha mãe está ótima e em casa. Não acreditem em boatos. #família #amor #nojo".

Abaixo da foto, dezenas de comentários de apoio a ele e xingamentos a mim.

Então, uma mensagem de áudio foi postada no grupo. Reconheci a voz do administrador do grupo. "Pessoal, acabei de receber uma ligação do Dr. Ricardo Costa, do Hospital Central. Ele é amigo da família. Ele confirmou que a Sra. Mendes não está em estado grave. Ela sofreu um acidente leve, já foi medicada e está em observação, mas não precisa de sangue. Parece que a filha, Sofia, está com algum tipo de problema psicológico. Por favor, não repassem a informação e não venham ao hospital. É um alarme falso."

Dr. Ricardo Costa. O melhor amigo de Pedro. Um médico que estava disposto a arriscar sua licença e a vida de uma paciente por lealdade ao amigo. Na minha vida passada, ele também tinha ajudado a encobrir as mentiras deles. Eu tinha esquecido dele.

A raiva me consumiu, uma fúria branca e quente. Eles não estavam apenas me abandonando; eles estavam ativamente sabotando qualquer chance de salvar minha mãe.

O grupo se virou contra mim completamente.

"Mentirosa!"

"Você deveria ser presa!"

"Doente!"

Senti meu mundo desabar. A ajuda que estava a caminho, o Sr. Almeida... ele provavelmente veria essas mensagens. Ele não viria.

Com o desespero me impulsionando, comecei a digitar uma resposta.

"Isso é mentira! Dr. Ricardo é amigo do meu irmão! Eles estão conspirando contra mim! Minha mãe ESTÁ na sala de cirurgia! Eu posso provar!"

Tirei uma foto do painel luminoso acima da porta, onde se lia "SALA DE CIRURGIA 3 - EM USO", e postei no grupo.

"Estou sentada em frente à sala de cirurgia agora mesmo! O nome da minha mãe é Helena Mendes. Qualquer um pode vir aqui e confirmar com a equipe do hospital!"

Houve um momento de silêncio no grupo. Minha prova fotográfica pareceu abalar algumas pessoas.

Um membro escreveu: "Isso é estranho. Por que um médico mentiria sobre algo tão sério?"

Outro acrescentou: "A foto parece real..."

A maré começou a virar ligeiramente a meu favor. A dúvida havia sido plantada.

Então, meu celular tocou. Era um número desconhecido. Atendi.

"Alô? É a Sofia?" Era a voz de um homem mais velho.

"Sim, sou eu! Sr. Almeida?" meu coração disparou.

"Sim, menina. Olha, eu estou no trânsito e vi a confusão toda no grupo. Não sei em quem acreditar," ele disse, sua voz cheia de incerteza. "Não quero ser enganado."

"Eu juro, não é mentira," minha voz falhou. "Por favor, senhor. A vida da minha mãe depende disso. Venha até o hospital. Se for mentira, eu mesma chamo a polícia para mim. Mas por favor, venha."

Houve uma longa pausa na linha. Cada segundo era uma agonia.

Finalmente, ele suspirou. "Ok. Ok, menina. Sua voz... você parece desesperada de verdade. Estou a vinte minutos daí. Vou arriscar. Mas se isso for uma brincadeira, você vai se arrepender."

Ele desligou.

Eu me encolhi na cadeira, exausta, mas com uma fagulha de esperança renovada. Vinte minutos. Ele estava vindo. Por um momento, pareceu que eu tinha vencido a primeira batalha contra as mentiras de Pedro e Clara.

Mas eu sabia que eles não desistiriam tão fácil. A guerra estava apenas começando.

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