Legado de Amor e Luta
img img Legado de Amor e Luta img Capítulo 4
5
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

Os vinte minutos seguintes foram os mais longos da minha vida. Cada tique-taque do relógio na parede era um martelo batendo na minha ansiedade. Eu andava de um lado para o outro no corredor vazio, meu celular na mão como se fosse uma linha de vida. Tentei ligar para alguns amigos da família, contatos antigos do meu pai, qualquer um que pudesse ajudar, mas era como gritar em um vácuo. Alguns não atenderam. Outros, que atenderam, já tinham ouvido a versão de Pedro e me trataram com uma pena condescendente ou raiva declarada.

"Sofia, querida, procure ajuda."

"Como você tem coragem de fazer isso com sua família?"

Eu estava completamente sozinha.

Então, meu celular vibrou com uma nova mensagem. Era do Sr. Almeida. Meu coração afundou ao ler as palavras.

"SUA VACA MENTIROSA! NUNCA MAIS ME LIGUE! VOCÊ É UM MONSTRO!"

A mensagem era toda em letras maiúsculas, pingando ódio. Fiquei olhando para a tela, sem entender. O que tinha acontecido? Ele estava a caminho.

Antes que eu pudesse responder, outra mensagem chegou. Um áudio. Cliquei para ouvir, e a voz furiosa do Sr. Almeida encheu o ar.

"Eu estava a cinco minutos do hospital! E então recebo uma ligação. Um tal de Dr. Ricardo Costa. Ele me disse que você é louca, que sua mãe teve alta há horas! Disse que você tem um histórico de inventar doenças e acidentes para conseguir dinheiro e atenção! Disse que eu estava sendo vítima de um golpe! Como você pode ser tão cruel? Brincar com a boa vontade das pessoas assim? Eu perdi meu tempo, gastei minha gasolina! Espero que você apodreça!"

O áudio terminou. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.

Eles conseguiram. Pedro e seu amigo médico não apenas espalharam boatos online, eles foram atrás do doador diretamente. Eles o interceptaram. Eles o envenenaram contra mim.

No mesmo instante, uma notificação do grupo de ajuda apareceu na tela.

"A usuária Sofia Mendes foi removida do grupo por violar as regras da comunidade e espalhar informações falsas."

Fui expulsa. Meu último canal de comunicação, minha última esperança, foi cortado.

O celular escorregou da minha mão e caiu no chão com um baque surdo. Senti minhas forças se esvaírem e deslizei pela parede, sentando no chão frio do hospital. Apoiando a cabeça nos joelhos, deixei que um soluço seco escapasse. Eu estava isolada. Derrotada. Minha mãe ia morrer, e a culpa seria minha por não ter sido rápida o suficiente, forte o suficiente para lutar contra a maldade deles.

O telefone no chão começou a tocar novamente. Com esforço, estiquei o braço e o peguei. O nome na tela fez meu sangue ferver.

Dr. Ricardo Costa.

Atendi a chamada, mas não consegui dizer uma palavra.

"Sofia?" A voz dele era falsamente calma, como a de um adulto repreendendo uma criança teimosa. "Eu sei que você está chateada, mas isso que você está fazendo é inaceitável. Pedro é meu melhor amigo, e eu não vou deixar você destruir a reputação da família dele."

"Você..." minha voz era um sussurro rouco. "Você é um médico. Você fez um juramento."

"Exatamente. E como médico, estou preocupado com sua saúde mental," ele disse, com um tom de superioridade. "Sua mãe teve um acidente leve. Um arranhão na testa e alguns hematomas. Ela está em um quarto de observação, dormindo tranquilamente. Pedro e Clara estão vindo para cá assim que a festa acabar para levá-la para casa. Agora, por que você não vai para casa, toma um banho e descansa? Essa obsessão não é saudável."

Cada palavra era uma facada. Ele não estava apenas mentindo; ele estava construindo uma realidade alternativa inteira, uma onde eu era a louca, a vilã.

"Ela está morrendo," eu disse, as lágrimas finalmente escorrendo pelo meu rosto. "E você está ajudando a matá-la."

Ele suspirou. "Chega, Sofia. Isso já foi longe demais. Estou fazendo isso para o seu próprio bem. Aceite que você perdeu."

Ele desligou.

Sentei-me ali, no chão frio e estéril, o som das suas palavras ecoando na minha cabeça. "Aceite que você perdeu."

Nesse momento de desespero absoluto, as memórias vieram com força total. Não apenas da minha morte, mas de toda a minha vida. Lembrei-me de quando Clara chegou em nossa casa, uma menina magra e assustada que minha mãe acolheu após a morte de seus pais. No início, eu tentei ser uma boa irmã. Mas Clara era um poço sem fundo de necessidade.

Se eu ganhava um vestido novo, Clara chorava até que mamãe comprasse um igual para ela. Se eu tirava uma nota boa na escola, Clara ficava "doente" de repente, roubando toda a atenção. Pedro, que sempre foi superprotetor, caiu na armadilha dela instantaneamente. Ele se tornou o cavaleiro de armadura brilhante de Clara, e eu, a bruxa má que a fazia chorar.

Minha mãe, sobrecarregada com a gestão da empresa da família após a morte do meu pai, via apenas o que Clara queria que ela visse: uma órfã frágil que precisava de amor extra. Ela me pedia para ser mais compreensiva, para ceder, para manter a paz. E eu cedi. Cedi tanto que acabei desaparecendo.

Eles formaram uma unidade, um clube fechado do qual eu não fazia parte. Pedro e Clara. Sempre juntos, sussurrando, rindo, trocando segredos. Eu era a intrusa na minha própria casa.

A dor daquela solidão de uma vida inteira se misturou ao desespero do momento presente, criando uma força nova dentro de mim. Não era mais apenas sobre salvar minha mãe. Era sobre reivindicar minha existência. Era sobre provar que eu não era louca, não era má, não era uma mentirosa.

Eu não iria perder. Não de novo.

Levantei-me do chão, enxugando as lágrimas com as costas da mão. Minha expressão endureceu. Se o mundo estava contra mim, então eu lutaria contra o mundo.

---

                         

COPYRIGHT(©) 2022