Capítulo 2 Cativeiro

- O que você vai fazer? - pergunto, assustada.

- Apenas fique parada. Você não quer perder uma mão... ou um dedo.

Ele sorri. Um sorriso maléfico, frio, sem alma.

De repente, ele desliza a faca pela minha blusa. Em segundos, fico apenas de sutiã e calça.

- O que você tá fazendo?! - tento me cobrir, mesmo com as mãos algemadas.

- Relaxa. Sou mais cavalheiro do que você pensa.

- O quê?!

Ele continua, rasgando o resto da blusa com a lâmina, sem pressa, como se estivesse se divertindo.

- Minha blusa! E agora? O que eu vou vestir?

Ele me encara por um instante. Então responde:

- Agora... eu preciso do seu sangue.

- Como é que é?

- Ah, vamos lá. São só algumas gotas.

Puxa meu braço com força.

- Espera!

Sinto a lâmina deslizar pela minha mão.

- Aí! - grito, sentindo o corte arder.

O sangue escorre, quente, manchando minha pele... e a dele. Ele deixa o sangue pingar sobre o tecido rasgado da minha blusa. Depois rasga a manga da própria camisa e envolve minha mão.

- Segura firme.

Ele pega o pedaço da blusa ensanguentado, coloca dentro de um saco plástico e o fecha com cuidado.

- Tenho que sair.

- Como assim? - pergunto, sem entender.

- Te vejo mais tarde.

- Espera! E eu?! Eu não conheço nada aqui... e ainda tô algemada!

- Eu sei.

- Eu não posso ficar assim!

Ele se vira devagar, os olhos cravados nos meus.

- Escuta aqui, boneca: você devia agradecer por ainda estar viva...

- Agradecer? Obrigada

Ele franze a testa, confuso.

- Como é?

- Você disse pra eu agradecer. Então... obrigada.

Ele me encara por alguns segundos, sem dizer nada.

- Isso não muda o fato de que eu ainda vou te matar.

- Eu sei.

Sem mais palavras, ele caminha até a porta e sai.

Poucos segundos depois, ouço o motor do carro ligando e o som dele se afastando...

Me deixando sozinha. Algemada. Machucada. E no escuro.

Olho ao redor. Estou trancada ali, e o único lugar que parece oferecer alguma saída é... o porão.

Caminho até a porta e vejo a escada que desce para a escuridão. Respiro fundo e começo a descer.

Quando chego lá embaixo, quase não acredito no que estou vendo.

- Nossa...

Era uma casa inteira escondida debaixo da outra casa. Tinha sala, cozinha, quarto... até um pequeno bar no canto.

- Um belo disfarce... - murmuro, sentando no sofá.

Fico ali, esperando aquele cara - o assassino que nem sei o nome. As horas passam e ele não volta.

Estou com fome, com sono... reviro os armários e a geladeira. Nada. Nem um biscoito esquecido.

A fome me vence. Acabo dormindo ali mesmo.

- Ei.

Acordo assustada com alguém me chamando.

- Oi?

Era um rapaz, aparentemente mais novo do que o outro.

- Quem é você?

- Sou o Jimi. E você?

- Eu sou...

- Ninguém.

A voz grossa que corta o ar vem da escada.

Era ele.

- Jimi, o que faz aqui tão cedo? Achei que só veria você no Natal.

Jimi segura minhas mãos algemadas e mostra para o outro homem.

- Terminei meu trabalho bem antes do esperado, maninho.

Fala sério, Natan... deixou ela assim o dia todo?

- Você só pega trabalho fácil. Ela é minha responsabilidade. Faço com ela o que quiser.

- Fácil uma ova. E você é um idiota por deixá-la nesse estado.

Ele se vira para mim e tira algo do bolso - um clipe de papel.

- Vou tirar essas algemas de você.

- Não vai não, Jimi.

Olho para cima, assustada.

Natan estava com uma arma apontada para o próprio irmão.

- Você não vai atirar em mim, né, Natan? - Jimi diz, olhando diretamente para o cano da pistola.

Eu puxo minhas mãos de volta, me encolhendo no sofá.

- Não precisam brigar...

Eu não conhecia aqueles dois. Mas algo dentro de mim dizia que, se brigassem... um deles sairia morto.

E o mais assustador?

E não sentiria nenhum remorso.

            
            

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