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Termino de me vestir, mas antes que eu possa pensar no que fazer, escuto vozes na sala.
Discussão.
Me aproximo da porta e a abro só o suficiente para espiar.
- Você é um idiota, sabia? - diz Jimi, irritado.
- Olha quem fala - responde Natan, sentado no sofá com um copo na mão. Jimi está encostado no bar, encarando o irmão.
- O que você faz aqui, afinal, Jimi?
- Já te falei: terminei um trabalho mais cedo do que o esperado.
- Você realmente acha que me engana com essa historinha? Não nasci ontem, Jimi.
Você veio atrás de algo grande.
- Talvez...
- O quê?
Num segundo, Natan já está com a mão no colarinho da camisa de Jimi.
- Ei, calma aí! Tá amassando minha blusa de grife! - reclama Jimi, rindo de nervoso.
Natan o solta com desdém.
- Não acredito que eu teria que vir fiscalizar um serviço seu, irmãozinho...
Ele coloca um par de óculos escuros no rosto e começa a subir a escada.
- Isso sim seria vergonhoso... o irmão mais novo garantindo que o mais velho fez o serviço direito.
- SEU IDIOTA!
Natan grita, mas Jimi já se foi.
Do meu canto, ouço a gargalhada de Jimi ecoando pela casa.
- Pode sair daí, Keyti. Eu consigo te ver - diz ele, ainda sorrindo.
Saio devagar, sem saber o que esperar.
- Do que ele estava falando? - pergunto.
- Nada. Só briga de irmãos.
Tenho que fazer uma ligação. Fica aqui na sala, ok?
Ele sai. Silêncio.
Pouco tempo depois, Natan volta. E seu semblante está diferente.
- Vou ter que te tirar daqui.
- Como assim? Eu não tô entendendo.
- Vem comigo.
Ele tenta me puxar pelo braço, mas consigo me soltar.
- Olha aqui, Natan... Eu tô muito grata por não ter sido morta até agora.
Mas eu mereço saber o que está acontecendo.
Se for pra me matar, que seja aqui e agora.
Mas se não for... pelo menos me dá uma explicação.
Ele respira fundo.
Puxa a arma da cintura.
Coloca o carregador.
Engatilha.
O som do metal ecoa no silêncio do cômodo.
- Você já sabe o que vai acontecer... certo?
Não respondo.
Apenas viro de costas.
Eu já estava esperando o impacto da bala, o fim, quando ele fala:
- Tem coisas que não precisamos saber.
- Eu sei... mas eu quero.
E se eu tiver que escolher entre entender o que está acontecendo ou ficar sendo seu cachorrinho, obedecendo e te seguindo por aí...
Prefiro que isso acabe aqui.
Ele me encara, a expressão dura, mas com algo diferente nos olhos.
- Agora eu entendo por que seu pai quer você morta.
Seu atrevimento é... admirável.
Ele se aproxima, encostando os lábios bem perto do meu ouvido.
- Eu nunca recarrego minha arma se...
- Se não for atirar. Eu sei - completo.
Ele se afasta, caminhando até a escada.
- Pra sua sorte, não posso te matar agora. Vamos dizer que... você é minha garantia de algo.
Suspiro, aliviada.
- Você vem comigo?
- Agora sim, eu vou.
Começamos a subir, mas ele me faz parar no meio da escada.
- Espera aqui.
Antes que eu pergunte o motivo, ouço três disparos lá em cima.
- O que foi isso?!
Ignoro sua ordem e corro escada acima.
Vejo Natan no chão, ofegante. Ele me vê e arregala os olhos.
- O que eu te disse?!
Ele corre na minha direção - dois tiros disparam atrás dele.
- Rápido! Volta!
Ele se vira e dispara de volta, derrubando dois homens.
O tempo congela. Uma eternidade parece passar com ele trocando tiros lá em cima.
- Ei, Keyti! Vem! Rápido, por favor!
Corro até ele, que está pressionando o braço, sangrando.
- Você foi atingido?!
- Graças a você, docinho. Agora entra no carro.
Obedeço. Ele entra logo depois.
- Quem eram aqueles?
- Homens do seu pai, eu acho.
- O que eles estavam fazendo aqui?
- Não é óbvio? Vieram conferir se o trabalho estava feito de verdade.
Olho para o braço dele, encharcado de sangue.
- Você precisa ir pro hospital!
Ele ri, fraco.
- Dentro do porta-luvas tem um frasco, uma seringa e uma agulha.
Na seringa tem uma marca. Coloca até ali... e injeta no meu braço.
- O quê?
- Vamos, Keyti.
Tremo, mas faço o que ele pediu. A agulha entra, o líquido some dentro da veia.
- Morfina - ele murmura.
Poucos minutos depois, parece outra pessoa. Como se nunca tivesse levado um tiro.
- Acho que você vai ter que dirigir o carro.
- O quê?! Eu nem sei pra onde estamos indo!
- Eu te guio.
Trocamos de lugar.
Ligo o motor.
E seguimos viagem.