Capítulo 4 Natan ferido

Termino de me vestir, mas antes que eu possa pensar no que fazer, escuto vozes na sala.

Discussão.

Me aproximo da porta e a abro só o suficiente para espiar.

- Você é um idiota, sabia? - diz Jimi, irritado.

- Olha quem fala - responde Natan, sentado no sofá com um copo na mão. Jimi está encostado no bar, encarando o irmão.

- O que você faz aqui, afinal, Jimi?

- Já te falei: terminei um trabalho mais cedo do que o esperado.

- Você realmente acha que me engana com essa historinha? Não nasci ontem, Jimi.

Você veio atrás de algo grande.

- Talvez...

- O quê?

Num segundo, Natan já está com a mão no colarinho da camisa de Jimi.

- Ei, calma aí! Tá amassando minha blusa de grife! - reclama Jimi, rindo de nervoso.

Natan o solta com desdém.

- Não acredito que eu teria que vir fiscalizar um serviço seu, irmãozinho...

Ele coloca um par de óculos escuros no rosto e começa a subir a escada.

- Isso sim seria vergonhoso... o irmão mais novo garantindo que o mais velho fez o serviço direito.

- SEU IDIOTA!

Natan grita, mas Jimi já se foi.

Do meu canto, ouço a gargalhada de Jimi ecoando pela casa.

- Pode sair daí, Keyti. Eu consigo te ver - diz ele, ainda sorrindo.

Saio devagar, sem saber o que esperar.

- Do que ele estava falando? - pergunto.

- Nada. Só briga de irmãos.

Tenho que fazer uma ligação. Fica aqui na sala, ok?

Ele sai. Silêncio.

Pouco tempo depois, Natan volta. E seu semblante está diferente.

- Vou ter que te tirar daqui.

- Como assim? Eu não tô entendendo.

- Vem comigo.

Ele tenta me puxar pelo braço, mas consigo me soltar.

- Olha aqui, Natan... Eu tô muito grata por não ter sido morta até agora.

Mas eu mereço saber o que está acontecendo.

Se for pra me matar, que seja aqui e agora.

Mas se não for... pelo menos me dá uma explicação.

Ele respira fundo.

Puxa a arma da cintura.

Coloca o carregador.

Engatilha.

O som do metal ecoa no silêncio do cômodo.

- Você já sabe o que vai acontecer... certo?

Não respondo.

Apenas viro de costas.

Eu já estava esperando o impacto da bala, o fim, quando ele fala:

- Tem coisas que não precisamos saber.

- Eu sei... mas eu quero.

E se eu tiver que escolher entre entender o que está acontecendo ou ficar sendo seu cachorrinho, obedecendo e te seguindo por aí...

Prefiro que isso acabe aqui.

Ele me encara, a expressão dura, mas com algo diferente nos olhos.

- Agora eu entendo por que seu pai quer você morta.

Seu atrevimento é... admirável.

Ele se aproxima, encostando os lábios bem perto do meu ouvido.

- Eu nunca recarrego minha arma se...

- Se não for atirar. Eu sei - completo.

Ele se afasta, caminhando até a escada.

- Pra sua sorte, não posso te matar agora. Vamos dizer que... você é minha garantia de algo.

Suspiro, aliviada.

- Você vem comigo?

- Agora sim, eu vou.

Começamos a subir, mas ele me faz parar no meio da escada.

- Espera aqui.

Antes que eu pergunte o motivo, ouço três disparos lá em cima.

- O que foi isso?!

Ignoro sua ordem e corro escada acima.

Vejo Natan no chão, ofegante. Ele me vê e arregala os olhos.

- O que eu te disse?!

Ele corre na minha direção - dois tiros disparam atrás dele.

- Rápido! Volta!

Ele se vira e dispara de volta, derrubando dois homens.

O tempo congela. Uma eternidade parece passar com ele trocando tiros lá em cima.

- Ei, Keyti! Vem! Rápido, por favor!

Corro até ele, que está pressionando o braço, sangrando.

- Você foi atingido?!

- Graças a você, docinho. Agora entra no carro.

Obedeço. Ele entra logo depois.

- Quem eram aqueles?

- Homens do seu pai, eu acho.

- O que eles estavam fazendo aqui?

- Não é óbvio? Vieram conferir se o trabalho estava feito de verdade.

Olho para o braço dele, encharcado de sangue.

- Você precisa ir pro hospital!

Ele ri, fraco.

- Dentro do porta-luvas tem um frasco, uma seringa e uma agulha.

Na seringa tem uma marca. Coloca até ali... e injeta no meu braço.

- O quê?

- Vamos, Keyti.

Tremo, mas faço o que ele pediu. A agulha entra, o líquido some dentro da veia.

- Morfina - ele murmura.

Poucos minutos depois, parece outra pessoa. Como se nunca tivesse levado um tiro.

- Acho que você vai ter que dirigir o carro.

- O quê?! Eu nem sei pra onde estamos indo!

- Eu te guio.

Trocamos de lugar.

Ligo o motor.

E seguimos viagem.

            
            

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