Sofia: O Império Retorna
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Capítulo 1

A chuva batia forte na janela da sala, mas o barulho da tempestade lá fora não era nada comparado ao temporal que se formava dentro de mim.

Pedro estava parado na minha frente, o rosto pálido, evitando meu olhar.

"Sofia, eu preciso te contar uma coisa."

A voz dele era um sussurro, quase inaudível. Eu esperei. Nos últimos três anos, eu tinha aprendido a esperar por ele. Esperar ele chegar do trabalho, esperar ele ter tempo pra mim, esperar ele finalmente marcar a data do nosso casamento.

"A Juliana... ela está grávida."

As palavras saíram da boca dele e pairaram no ar entre nós, densas e venenosas. Juliana. A chefe dele. A mulher poderosa e implacável que ele tanto admirava e, secretamente, eu tanto temia.

Meu cérebro demorou um segundo para processar. Grávida. Dele.

"O quê?"

A única palavra que consegui formar saiu fraca, um sopro.

"Foi um acidente, Sofia, eu juro," ele se apressou em dizer, finalmente olhando pra mim, os olhos cheios de uma pena que me deu nojo. "A gente bebeu demais na festa da empresa, aconteceu... eu não queria, você tem que acreditar em mim."

Ele tentou se aproximar, estender a mão para tocar meu braço, mas eu recuei como se ele estivesse em chamas.

A incredulidade inicial deu lugar a uma dor fria e cortante que se espalhou pelo meu peito. Eu o amava. Ou pelo menos, amava a ideia que eu tinha dele. Um homem ambicioso, sim, mas que lutava para construir um futuro para nós. Um futuro que, agora eu via, era uma completa mentira.

"Você... você vai ter um filho com ela?" minha voz tremeu.

"Eu não tenho escolha, Sofia. Ela é minha chefe, a carreira que eu construí... tudo depende dela. E tem o bebê... eu não posso simplesmente abandonar um filho."

Ele falava como se estivesse explicando uma decisão de negócios, um problema logístico. Não a destruição da nossa vida juntos.

Então, ele começou a sua performance mais nojenta. Ele tentou vender a traição como uma espécie de sacrifício.

"Olha pra mim, Sofia," ele pediu, a voz agora carregada de uma falsa sinceridade. "Eu não a amo. É você que eu amo. Isso é só... uma fase. Uma complicação."

Eu o encarei em silêncio, sentindo o choque se transformar em uma raiva gelada.

"Juliana não é o tipo de mulher que se aquieta," ele continuou, como se estivesse me confidenciando um grande plano. "Ela vai ter o bebê, vai se cansar de mim, vai perceber que eu não sou o troféu que ela pensava. E quando isso acontecer, eu volto pra você. A gente recomeça. É só uma questão de tempo."

Ele sorriu. Um sorriso fraco, patético, como se esperasse que eu o parabenizasse por sua inteligência, por sua capacidade de planejar.

"Você quer que eu seja sua amante? Sua segunda opção? Enquanto você brinca de casinha com sua chefe e seu filho?"

"Não fale assim, Sofia! Não é isso! Pensa nisso como um investimento. Um sacrifício que eu tô fazendo pelo nosso futuro. Quando eu voltar, vou estar numa posição muito melhor na empresa, vou poder te dar tudo o que você merece."

Tudo o que eu mereço. A ironia era tão absurda que eu quase ri.

Ele não fazia a menor ideia de quem eu era.

Para ele, eu era apenas Sofia, a garota órfã, de família humilde, que trabalhava como assistente administrativa júnior na mesma empresa que ele. Uma garota simples, um pouco ingênua, que ele podia moldar e, aparentemente, colocar na prateleira para usar quando fosse conveniente.

Ele não sabia que meu nome completo é Sofia Albuquerque de Melo. A única filha de Ricardo Albuquerque de Melo, o dono da maior rede de hotéis de luxo do país, o Luxus Group.

Meu pai me permitiu essa fantasia. Ele concordou que eu deveria viver uma vida normal, esconder minha identidade, para aprender o valor do trabalho e, principalmente, para encontrar alguém que me amasse por quem eu sou, não pelo império que eu um dia herdaria.

Por três anos, eu acreditei que tinha encontrado essa pessoa em Pedro. Eu me deliciava com nossa vida simples, nosso apartamento alugado, nossos sonhos de viajar o mundo com o dinheiro que nós mesmos juntássemos. Tudo uma mentira. Uma piada de mau gosto.

Ele não estava investindo no nosso futuro. Ele estava usando a Juliana para subir na carreira e tentando me manter como um plano B, um porto seguro para quando seu navio de ambição batesse em um iceberg.

A dor da traição era imensa, mas a dor da humilhação, de ter sido tão cega, era ainda pior. Ele não me via como uma pessoa, mas como um objeto. Um objeto conveniente e sem valor próprio.

"Pedro," eu disse, e minha própria voz me surpreendeu pela firmeza. O tremor tinha sumido.

Ele me olhou, esperançoso.

"Acabou."

A palavra soou como uma sentença final na sala silenciosa.

"O quê? Como assim, acabou?" A confusão no rosto dele era genuína. Ele realmente não entendia. Ele realmente acreditava que seu plano nojento era aceitável.

"Eu não vou esperar por você. Eu não vou ser seu plano B. Nós terminamos. Agora."

Eu me virei, pronta para ir para o nosso quarto e arrumar minhas coisas. O quarto que, até minutos atrás, eu chamava de nosso.

A confusão de Pedro se transformou em raiva. Ele agarrou meu braço, me forçando a virar para ele.

"Você não pode estar falando sério, Sofia! Depois de tudo o que eu fiz por você?"

Fez por mim? A audácia dele era inacreditável.

"Você está me abandonando no momento em que eu mais preciso de apoio?" ele acusou, o rosto contorcido numa máscara de vítima. "Eu estou te contando meu problema, te pedindo ajuda, e você simplesmente me vira as costas? Eu pensei que você me amava! Pensei que ficaria do meu lado!"

Ele estava tentando inverter a situação, me pintar como a vilã. O manipulador em sua forma mais pura.

Eu puxei meu braço com força, me soltando do aperto dele.

"Você me traiu. Você vai ter um filho com outra mulher. E você tem a coragem de dizer que eu estou te abandonando?" Eu ri, um som seco e sem alegria. "Você é inacreditável, Pedro. Simplesmente inacreditável."

"Você é ingênua, Sofia! O mundo real não é um conto de fadas! Às vezes, a gente precisa fazer coisas difíceis para sobreviver, para vencer!"

"Não," eu disse, olhando diretamente nos olhos dele, vendo pela primeira vez o homem fraco e calculista que ele realmente era. "Você não precisava fazer isso. Você escolheu fazer isso. E eu escolho não fazer parte disso."

Eu me virei e caminhei em direção ao quarto, cada passo uma confirmação da minha decisão. A tempestade dentro de mim começava a se acalmar, substituída por uma determinação fria. Ele não ia me destruir. Ele não sabia com quem estava mexendo.

            
            

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