"Você não acha que está esquecendo de algo?" ela perguntou, com um sorriso cruel.
Eu olhei ao redor, confusa. Minha bolsa estava no meu ombro, meu celular e carteira dentro dela. Eu não estava levando nada. O que eu poderia ter esquecido?
"O chão," disse Juliana, apontando com o queixo para o tapete da sala. "Está cheio de lama. Você trouxe a sujeira da rua para dentro."
Eu olhei para baixo. Havia, de fato, algumas marcas de sapato molhado no tapete claro, provavelmente as minhas, de quando entrei mais cedo, fugindo da chuva. Eram marcas pequenas, quase imperceptíveis.
"Você sujou. Você limpa," ela ordenou, como se fala com um servo.
Eu fiquei paralisada, a humilhação era tão grande que parecia física. Ela não queria apenas que eu saísse, ela queria me quebrar, me rebaixar ao máximo antes de me descartar.
"Você está falando sério?" perguntei, incrédula, olhando para Pedro.
Pedro, sob o olhar duro de Juliana, assumiu uma postura defensiva. "Sofia, ela tem razão. Você sempre foi cuidadosa com a casa. Limpe isso antes de ir, por favor."
O "por favor" dele foi a coisa mais insultuosa que eu já ouvi. Ele estava pedindo educadamente para eu me ajoelhar e limpar o chão como uma empregada, na frente da mulher com quem ele me traiu.
"Eu não vou limpar nada," eu disse, a raiva finalmente superando o choque. "Se vocês estão tão incomodados, limpem vocês mesmos."
O rosto de Juliana se contraiu de raiva. "Sua vadiazinha insolente. Você acha que tem o direito de dar ordens aqui? Você não é nada. Uma zé-ninguém que teve a sorte de o Pedro sentir pena de você por alguns anos."
Ela se aproximou, o rosto a centímetros do meu. "Agora você vai pegar um pano e vai limpar cada mancha nesse tapete. De joelhos."
Eu a encarei, meu corpo inteiro tenso. "Me obrigue."
O que aconteceu em seguida foi rápido e brutal. Pedro, talvez para provar sua lealdade a Juliana, talvez por puro pânico, deu um passo à frente e me empurrou com força no ombro.
"Apenas faça o que ela mandou, Sofia!" ele gritou.
O empurrão me pegou de surpresa. Perdi o equilíbrio e caí para trás, batendo o quadril e o cotovelo com força no chão duro. A dor foi aguda, mas a humilhação foi mil vezes pior. Ficar ali, caída aos pés deles, era o ponto mais baixo da minha vida.
Eu levantei a cabeça, os olhos ardendo com lágrimas que eu me recusava a derramar. Pedro me olhava com uma mistura de raiva e algo que parecia medo. Juliana, por outro lado, sorria. Um sorriso de pura satisfação sádica.
E então, o ato final de degradação aconteceu.
Juliana levou a mão à boca, seu rosto de repente ficou pálido e esverdeado. Ela fez um som de engasgo.
"Amor, acho que vou... acho que vou..."
Antes que Pedro pudesse reagir, ela se inclinou para a frente e vomitou. Não no chão. Não no tapete.
Em mim.
Um jato quente e ácido de vômito cobriu meu cabelo, meu ombro e meu peito. O cheiro azedo me invadiu, me sufocando, me fazendo engasgar. Eu congelei, coberta pela sujeira dela, sentindo o líquido quente escorrer pela minha roupa e pela minha pele. Era a humilhação absoluta. Física, visceral, inegável.
"Oh, meu Deus!" Juliana exclamou, se afastando com um falso ar de choque, enquanto Pedro corria para ampará-la. "Acho que a visão dessa perdedora patética me deu enjoo. A gravidez me deixou tão sensível."
Ela se apoiou em Pedro, parecendo frágil e delicada, a vítima da situação.
Pedro me olhou, ali no chão, coberta de vômito, e não havia um pingo de compaixão em seus olhos. Havia apenas irritação. A raiva de um homem fraco que precisava culpar alguém por sua própria bagunça.
"Viu o que você fez, Sofia?" ele rosnou para mim. "Você a aborreceu! Você sabe que ela está grávida, que não pode passar por estresse! Você sempre tem que causar problemas, não é?"
Ele me culpou. Ele me empurrou, me deixou ser humilhada, e a culpa ainda era minha.
"Você é um monstro," eu sussurrei, a voz rouca de nojo e desespero.
Juliana riu, já recuperada do seu "mal-estar" . "Monstro? Não, querida. Ele é um homem que sabe o que quer. E você? Você é apenas o vômito no sapato dele. Agora saia da minha casa. E leve seu cheiro podre com você."
Eu me levantei. Trêmula, dolorida, coberta de sujeira, mas me levantei. Olhei para os dois, o casal perfeito do inferno, e gravei a imagem deles na minha mente. A arrogância dela, a covardia dele.
Sem dizer mais uma palavra, eu me virei e abri a porta. Saí para o corredor do prédio, deixando um rastro de humilhação para trás. O som da porta batendo às minhas costas foi o ponto final mais brutal que eu poderia imaginar para a minha antiga vida.