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Morpheus não sabia quanto tempo havia passado, imóvel, observando as chamas consumirem tudo o que ele conhecia. As casas ardiam como tochas na noite gélida, e o cheiro de madeira queimada e carne carbonizada pairava no ar pesado. O calor do incêndio e o frio do vento misturavam-se em contraste, mas ele já não sentia mais nada. Seu corpo permanecia entorpecido, e sua mente era um turbilhão de pensamentos contraditórios e emoções conflitantes.
Quando o último dos soldados finalmente partiu, arrastando consigo alguns prisioneiros - mulheres e crianças poupadas temporariamente apenas para servirem a um propósito cruel -, Morpheus obrigou-se a se mover. Com passos trôpegos, ele caminhou pelo vilarejo destruído, o crepitar das brasas ecoando como sussurros de condenação.
No centro de Nuta, onde o combate havia acontecido, Morpheus se deparou com um cenário devastador. Corpos de moradores e soldados jaziam espalhados pelo chão. Entre eles, ele avistou o de Athor, ainda ajoelhado, a cabeça separada do corpo. O sangue havia se misturado à neve, criando uma visão que ele sabia que nunca esqueceria.
Um pouco mais à frente, Darka estava caída, seu corpo inclinado para o lado, com os olhos ainda abertos, fixados em um vazio que Morpheus não conseguia encarar. A espada dela, partida ao meio, estava jogada ao lado de sua mão. O jovem metamorfo caminhou lentamente até eles, lutando para manter a calma.
Ele não chorou. Sabia que não havia espaço para fraqueza naquele momento. Ao invés disso, ajoelhou-se diante dos corpos de seus pais. Suas mãos tremeram enquanto ele estendeu os dedos para tocar o fragmento da espada de Athor. Era a única lembrança tangível que ele poderia carregar dali, e ele a segurou com força.
Entre os pertences de Darka, encontrou um pedaço de seu manto chamuscado, onde ainda havia um fio de cabelo intacto. Ele o guardou cuidadosamente, lembrando-se dos ensinamentos de sua mãe. A metamorfose exigia algo que carregasse a essência da pessoa, e agora ele tinha isso.
Morpheus permaneceu ali por um tempo, segurando o punho da espada e o fio de cabelo de sua mãe. Dentro de si, uma ideia começou a se formar. Ele se lembrou dos conselhos de Darka sobre a metamorfose e do que seria necessário para assumir uma transformação mais duradoura, algo que exigisse não apenas habilidade, mas também coragem.
Com um último olhar aos seus pais, ele se afastou dos corpos. Sua mente estava decidida. Ele não podia mais ser Morpheus de Nuta, o garoto. Isso não o salvaria. Era preciso renascer de outra forma, não apenas para sobreviver, mas para levar adiante a memória de sua família e sua vingança.
Nas cinzas do vilarejo destruído, Morpheus começou a dar seus primeiros passos rumo ao desconhecido. As chamas diminuíam, mas o ódio que crescia dentro dele queimava mais intensamente do que qualquer incêndio que o Império pudesse causar.
Ele não era mais apenas um garoto. Ele era a última lembrança viva de Nuta - e seu destino seria reescrever o legado de sua raça.
1. O Caminho da Vingança
Morpheus saiu dos escombros de Nuta, com os olhos fixos no horizonte e as chamas do vilarejo ainda brilhando em sua memória. Ele não tinha um plano claro, mas havia uma certeza que queimava em sua mente: o homem loiro de armadura vermelha era a chave. Ele havia destruído tudo o que Morpheus conhecia, e era a mão direita de Hurok, o símbolo do poder opressivo do Império.
Se Morpheus queria desafiar Hurok, precisava enfrentar esse homem primeiro. Mas como? Ele era apenas um garoto. Um metamorfo que ainda não havia utilizado seu dom para combate, sem treinamento, sem armas adequadas e com pouca força física. Seus pais, mesmo sendo guerreiros habilidosos, haviam sido derrotados com facilidade. Morpheus sabia que precisava de mais.
Foi então que ele se lembrou das histórias que seu pai contava ao redor da lareira durante os longos invernos:
- Os Andarilhos do Abismo. Um grupo de guerreiros renegados que sobreviveram à destruição do Império. Eles treinavam os sobreviventes mais fortes das raças oprimidas, preparando-os para um levante contra Hurok.
Essas palavras ecoaram em sua mente como um sinal de esperança. Se os Andarilhos ainda existissem, talvez fossem sua única chance. Eles poderiam ensinar-lhe o que ele não sabia: força, técnica, resistência. Mais importante, poderiam ajudá-lo a transformar sua dor em uma arma.
2 .A Estrada Sombria
Os dias que seguiram foram marcados por uma viagem solitária e perigosa se disfarçado como um mercenário comum, evitando estradas movimentadas e cidades fortificadas. Ele usava sua habilidade para assumir formas diferentes quando necessário-um mendigo aqui, um comerciante ali-sempre mantendo sua verdadeira identidade oculta.
Vestindo roupas simples e carregando o punho da espada de seu pai como única lembrança tangível, Morpheus se misturava ao ambiente. Ele disfarçava sua presença, mantendo a cabeça baixa e interagindo apenas quando necessário. Cada decisão era calculada para garantir sua sobrevivência.
Em uma das cidades fronteiriças, ele encontrou um rumor que mudaria seu rumo. Morpheus estava sentado em uma taverna decadente quando ouviu dois homens discutindo em voz baixa:
- Você ouviu falar dos Andarilhos? - murmurou o primeiro, com um olhar desconfiado.
- Claro. Sempre se fala deles. Mas dizem que um deles apareceu nas Ruínas de Vhal, recrutando sobreviventes.
Morpheus não perdeu tempo. Naquela mesma noite, ele deixou a cidade e começou sua jornada em direção às ruínas. Ele estava decidido a encontrar os Andarilhos, independentemente do que enfrentasse pelo caminho.