Capítulo 5 O terceiro ano

Nos meses que antecederam a Prova de Sangue, o acesso de Morpheus à biblioteca de Nihlys aumentou significativamente. Como um dos alunos mais promissores do segundo ano, sua posição lhe permitiu explorar sessões mais avançadas. Ele passava horas entre corredores sinuosos de estantes imponentes, repletas de livros encadernados em couro, cujas páginas traziam conhecimentos ocultos e cuidadosamente filtrados pelo Império.

Morpheus estava em busca de respostas. Ele queria compreender mais sobre os metamorfos, mas os textos disponíveis eram escassos e vagos. O pouco que encontrou reforçava a narrativa já conhecida: os metamorfos eram descritos como traidores do Império, uma raça maldita cuja habilidade mágica de mudar de forma havia sido usada contra a glória imperial nos tempos antigos. Não havia menção sobre sua rara capacidade de conjurar magia elementar, como a que ele demonstrava.

Isso o deixou inquieto. Será que sua habilidade era um segredo tão bem guardado que nem mesmo os livros da biblioteca de Nihlys poderiam documentá-la? Ou o Império havia deliberadamente ocultado essa informação para evitar que ela se tornasse conhecida?

Além disso, ele procurou por qualquer menção à resistência, mas, como esperado, não havia nada. Nem nomes, nem localizações, nem datas. O silêncio nos textos era absoluto. O Império controlava todas as narrativas, apagando qualquer vestígio do que não queria que fosse lembrado.

Ao explorar os textos sobre outras raças, Morpheus ampliou sua compreensão sobre magia e suas manifestações:

Anões: Morpheus ficou fascinado com a descrição dos itens forjados por eles, como espadas indestrutíveis e escudos impenetráveis.

Orks: Morpheus imaginou como sua energia poderia ser usada em combate, complementando habilidades marciais.

Outro texto chamou a atenção de Morpheus: um tratado sobre defesas mentais nas diferentes raças. Ele leu com cuidado, absorvendo os detalhes que revelavam um aspecto até então desconhecido. Descobriu que espécies que não dominam magia possuem uma barreira mental natural muito mais forte contra invasões mágicas. Essa proteção, fruto da ausência de afinidade mágica, tornava extremamente difícil a invasão de suas mentes, exceto sob duas condições:

Consentimento do alvo.

Magos de habilidade excepcional, capazes de quebrar essas barreiras naturais.

Morpheus ficou intrigado com essa descoberta. Ele se lembrou imediatamente de Yrva e do momento em que ela invadiu sua mente pela primeira vez. Ela havia pedido permissão, quase como um aviso ou ritual. Mas agora, à luz desse conhecimento, ele se perguntava: - Ela seria capaz de quebrar as barreiras naturais sem meu consentimento?

A resposta veio rápida e incômoda. Morpheus tinha despertado sua magia naquela época, e isso o colocava em uma posição vulnerável. Sua afinidade mágica enfraquecia essa proteção natural contra intrusões. Era claro que Yrva não teria encontrado grande dificuldade em acessar suas memórias e pensamentos, com ou sem permissão.

Essa reflexão o fez perceber que o despertar de sua magia não era apenas uma bênção, mas também uma responsabilidade e um risco. Ele precisaria aprender a proteger sua mente se quisesse sobreviver no mundo perigoso que habitava.

Ao ampliar seu estudo, Morpheus voltou sua atenção para as runas mágicas. Ele descobriu que, para os humanos, as runas eram uma ferramenta essencial para superar as limitações impostas pela afinidade natural com a magia elemental. Elas permitiam que magos burlassem essas restrições, ampliando o escopo de seus feitiços e atribuindo efeitos específicos que, de outra forma, estariam além de seu alcance.

As runas eram descritas como símbolos carregados de energia mágica, capazes de:

Aumentar a intensidade de feitiços básicos, como bolas de fogo ou rajadas de vento.

Estender a duração de efeitos mágicos, como barreiras protetoras.

Mudar o comportamento de magias elementais, como criar fogo que não queimava madeira, mas consumia carne.

Morpheus ficou fascinado pela complexidade das runas. Ele percebeu que, embora dependessem de uma escrita meticulosa e um controle mágico firme, elas abriam possibilidades quase ilimitadas. Seus estudos o levaram a acreditar que as runas poderiam ser a chave para integrar melhor suas habilidades únicas com sua magia elemental.

Ele também começou a praticar em segredo. Utilizando ferramentas básicas, traçou runas de água e gelo em pedaços de pergaminho, tentando combiná-las com sua magia natural. Os resultados foram inconsistentes, mas os momentos de sucesso provaram que ele estava no caminho certo.

1. A Prova de Sangue

O Grande Salão de Nihlys nunca estivera tão silencioso. A atmosfera era sufocante, carregada de expectativa e tensão. Os vinte alunos restantes - agora com dezesseis anos, chegando ao final de seu terceiro ano na escola - alinhavam-se diante do Círculo de Julgamento. A plataforma negra feita de ônix estava marcada por runas que pulsavam em vermelho intenso, como se refletissem os batimentos nervosos de cada candidato. No centro, o símbolo do Império, esculpido como um olho vigilante, parecia observar cada movimento dos alunos.

Para Morpheus (ainda sob a identidade de Dain Vors), o momento era crítico. As sombras do que ele havia aprendido e sacrificado nos anos anteriores pareciam se acumular em suas costas como um peso invisível. Ele sentia o cristal que Yrva lhe dera vibrando suavemente em seu bolso, quase como se estivesse vivo. Mas ele bloqueou essa sensação. Sua prioridade absoluta era sobreviver aos três atos da prova e avançar ao próximo estágio.

Kaelric, envolto em sua capa vermelha que destacava sua autoridade, deu um passo à frente. Sua presença imponente silenciou qualquer murmúrio restante no salão. Ele ergueu as mãos, como um maestro prestes a começar uma sinfonia de desafios.

- Hoje, vocês provarão seu valor - declarou, sua voz ecoando pelas paredes de mármore e ônix. - A Prova de Sangue separa os dignos dos inúteis. Sejam dignos... ou sejam esquecidos.

Logo após Kaelric, outro mestre surgiu. Vestindo uma capa branca impecável, bordada com prata que brilhava como luz lunar, ele carregava um pergaminho ornamentado com detalhes em ouro que parecia irradiar autoridade. Sua postura era rígida, e o silêncio que ele carregava consigo parecia mais pesado do que as palavras que ainda não haviam sido ditas.

- Meu nome é Ubenor - começou ele, com uma voz grave que reverberava pelo salão. - Sou chamado de Inquebrável, mas esse título me custou caro. Hoje, vocês aprenderão o significado do sacrifício e da sobrevivência.

Kaelric voltou a falar, seus olhos percorrendo os rostos alinhados.

- Ubenor será responsável pelos dois melhores entre vocês. Apenas dez se tornarão Magos Reais, mas os dois que se destacarem... - sua voz diminuiu, criando um suspense calculado enquanto olhava diretamente para Morpheus e depois para Ryk - treinarão sob sua supervisão pessoal pelos próximos dois anos. Preparem-se. O teste começa agora.

Com essas palavras, o destino de todos no salão ficou claro. O fim do terceiro ano não era apenas uma conclusão, mas o começo de uma disputa ainda mais intensa que definiria os futuros daqueles que permanecessem de pé.

2. O Primeiro Ato: Magia Elemental Pura

O primeiro ato da Prova de Sangue testava o domínio absoluto dos cinco elementos primários: fogo, água, terra, ar e raio. Cada candidato foi posicionado em um círculo de contenção, onde as runas ao redor pulsavam com energia mágica. Os mestres observavam com atenção quase predatória, buscando até os menores erros que pudessem desqualificar os alunos.

Morpheus respirou fundo. Este era o momento para mostrar sua habilidade, especialmente com a água, o elemento com o qual tinha afinidade natural. Mas ele sabia que a prova não exigia apenas força: controle, precisão e resistência seriam igualmente fundamentais.

3. Prova de Fogo

Os candidatos precisavam conjurar uma chama azul, pura e estável, algo que demandava foco e paciência.

Morpheus lembrou-se dos treinos com Yrva, onde o controle era prioridade. Ele fez um pequeno corte na palma da mão, utilizando o sangue como catalisador, e canalizou sua magia. Uma chama azul intensa surgiu, flutuando como uma pequena dança harmoniosa. A perfeição do feitiço chamou a atenção de Kaelric, que observou com uma leve aprovação no olhar.

Outros alunos, no entanto, enfrentaram dificuldades: chamas instáveis que se apagavam rapidamente ou explodiam, mostrando a falta de controle de alguns. Um candidato perdeu o domínio completamente, e uma pequena explosão o eliminou da prova.

4. Prova de Água

O segundo teste consistia em transformar um copo d'água em gelo cristalino em menos de dez segundos.

Este era o território de Morpheus. Ele fechou os olhos por um momento, conectando-se com o elemento. Em seguida, canalizou sua magia com precisão. O gelo começou a formar-se rapidamente, espalhando-se de maneira uniforme pelo copo até transformá-lo em um cristal límpido e perfeito. O tempo que ele levou foi tão breve que atraiu murmúrios de admiração de alguns mestres.

Ryk também completou a prova, mas sua execução, apesar de eficaz, não possuía a mesma fluidez. Embora rápido, ele deixou uma pequena fissura na superfície do gelo, um detalhe quase imperceptível, mas evidente para os olhares atentos dos mestres.

5. Prova de Terra

No terceiro desafio, os candidatos deviam erguer um obelisco de pedra de dois metros usando apenas magia.

Morpheus sabia que este seria um dos desafios mais difíceis para ele, pois ele sempre teve dificuldades com esse elemento. Ele concentrou-se, aplicando sua energia de forma cuidadosa para evitar o colapso da estrutura. Com esforço visível, conseguiu erguer o obelisco. Apesar de lento, ele manteve a estabilidade até o final, garantindo a conclusão da prova.

Theron, por outro lado, falhou. O obelisco que ele ergueu rachou e desmoronou no meio do teste, eliminando-o da disputa.

O quarto teste desafiava o equilíbrio dos candidatos: sustentar-se em um redemoinho mágico por um minuto, sem ser lançado para fora do círculo.

Ryk, parecia estar em casa. Ele flutuou sobre o redemoinho com facilidade, mantendo a postura firme como se o desafio fosse nada mais do que um exercício cotidiano.

Morpheus, por outro lado, teve que se esforçar. Ele ajustou sua postura continuamente, concentrando-se para harmonizar seus movimentos com as correntes de vento que o empurravam. Após um minuto exaustivo, ele conseguiu se manter em pé no centro do círculo até o final, respirando pesadamente, mas triunfante.

Pell foi eliminado quase instantaneamente, perdendo o equilíbrio e sendo jogado para fora do círculo.

Por fim, o desafio mais temido: os candidatos deveriam conjurar e estabilizar uma descarga elétrica dentro de seus círculos, sem deixá-la escapar.

A magia de raio era reconhecida por sua volatilidade, exigindo extrema precisão. Quando chegou a vez de Morpheus, ele respirou fundo, visualizando o fluxo da eletricidade. Ele canalizou sua energia com calma, e um pequeno raio surgiu em suas mãos. Lentamente, ele conseguiu mantê-lo estável, concentrando-se para evitar que a magia ultrapassasse os limites do círculo.

Ryk também enfrentou o desafio, mas sua tentativa inicial gerou uma pequena explosão que quase ultrapassou o círculo de contenção. Apesar de conseguir recuperar o controle e estabilizar o raio, a sua execução demonstrou que o elemento raio não estava entre seus mais fortes.

Quando todas as provas terminaram, Morpheus observou ao redor. Quinze candidatos permaneceram no círculo, muitos deles exaustos e carregando olhares de alívio.

Kaelric deu um passo à frente, um pequeno sorriso dançando em seus lábios.

- Muito bem. Vocês passaram... por enquanto.

Morpheus sentiu o cristal de Yrva vibrar levemente em seu bolso, como se estivesse comemorando seu sucesso. Ele sabia, porém, que os próximos atos seriam ainda mais implacáveis, e qualquer deslize poderia ser sua ruína.

6. O Segundo Ato: Tortura Arcana

No segundo ato, a Prova de Sangue mudou completamente de direção, testando os limites da resistência mental e emocional dos candidatos. A sala onde foram conduzidos era mergulhada em escuridão, com tochas mágicas lançando luzes pálidas sobre o chão de pedra irregular. No centro, três cadeiras de ferro esperavam como instrumentos de julgamento, pulsando com energia arcana.

Ubenor, com sua capa branca impecável, observava os jovens com um olhar frio e calculista. Ele gesticulou em direção às cadeiras, sua voz grave e cortante:

- Estas são as Cadeiras da Verdade. Elas revelarão quem vocês realmente são. Ou irão destruí-los.

Os alunos hesitaram por um momento antes de se alinhar, conscientes de que o desafio à frente seria tão implacável quanto os mestres que os observavam.

7. Primeira Fase: Invasão Mental

A primeira etapa explorava as profundezas da mente dos candidatos. Um por um, eles se sentaram nas cadeiras, onde agulhas de prata conectadas a runas mágicas penetravam suas têmporas. A magia ativada invadia suas memórias e emoções, desenterrando medos que eles tentavam esconder.

Quando chegou a vez de Morpheus, ele se sentou com firmeza, sentindo o frio das agulhas contra sua pele. As runas ao redor da cadeira começaram a brilhar intensamente, e ele foi imediatamente bombardeado por imagens de seu passado. Ele viu Nuta em chamas, os corpos de seus pais caídos, e o rosto do homem loiro de armadura vermelha que assassinou sua família. A intensidade das memórias era avassaladora, cada fragmento de dor atingindo-o como lâminas invisíveis.

No entanto, algo dentro de Morpheus o fortaleceu. Ele já havia treinado em resistência mental durante seu tempo com Yrva. Um leve sorriso surgiu nos lábios de Morpheus quando percebeu que estava resistindo.

As runas começaram a apagar, e a cadeira finalmente o liberou. Ele saiu cambaleando, mas ainda de pé, suas mãos tremendo enquanto limpava o suor de sua testa.

A segunda etapa focava na resistência física. Feitiços de paralisia eram lançados sobre os candidatos enquanto permaneciam sentados nas cadeiras, seus corpos travados sob a pressão de encantamentos poderosos.

Morpheus, já acostumado a suportar extremos, recorreu às habilidades que havia aperfeiçoado ao longo dos anos. Ele utilizou sua metamorfose para adaptar seu sistema nervoso, reduzindo os efeitos da paralisia em partes estratégicas do corpo. Essa manipulação era arriscada, exigindo um controle preciso sobre suas transformações para evitar danos permanentes.

A dor que sentia era intensa, uma pressão constante em sua mente e músculos. Seus nervos pareciam arder, e sua visão turvou várias vezes ao longo do teste. Quando finalmente foi liberado, ele estava sangrando pelo nariz e mal conseguia se manter em pé, mas havia superado o desafio.

Alguns candidatos não tiveram tanta sorte. Dois deles foram retirados da sala, incapazes de resistir aos efeitos prolongados dos feitiços. Apenas doze permaneciam ao término da segunda fase, todos visivelmente exaustos e marcados pela prova.

8. Reflexão de Morpheus

Enquanto os outros candidatos trocavam olhares cautelosos, Morpheus sentou-se em um canto da sala, recuperando o fôlego. Ele passou a mão pelo rosto, tentando limpar o suor, mas sua mente estava inquieta. Ele refletia sobre o treinamento que Yrva havia imposto a ele, e pela primeira vez sentia um tipo estranho de gratidão por sua brutalidade.

Apesar de sua exaustão física e mental, havia algo nele que se destacava. Ele percebeu que, mesmo sob ataque, sua mente havia se mantido firme, protegida por anos de preparação e pela armadura psicológica que ele havia criado como Dain Vors.

No entanto, as memórias de Nuta ainda o assombravam, e ele sabia que precisava enfrentar essas imagens repetidas vezes antes de realmente conseguir controlá-las. Por um breve momento, ele sentiu os efeitos da transformação que sustentava como Dain Vors. Era como se pedaços de sua identidade verdadeira começassem a se misturar com a falsa, criando uma sensação inquietante de desconexão.

Morpheus respirou fundo, tentando reprimir essas emoções. Ele sabia que não podia deixar suas dúvidas interferirem em seu desempenho. O próximo ato da prova seria ainda mais exigente, e qualquer fraqueza poderia ser sua ruína.

9. O Terceiro Ato: Lógica Sob Pressão

O ato final não era apenas um teste de inteligência; era um teste completo de caráter, resiliência e adaptação. Kaelric, com sua capa vermelha pairando como a ponta de uma lâmina, caminhava lentamente enquanto segurava pergaminhos que pareciam vibrar com uma energia contida. No centro do salão, dez mesas redondas estavam dispostas, cada uma com uma vela acesa, uma esfera metálica que flutuava levemente e uma série de runas incompletas gravadas na superfície.

Antes de distribuir os enigmas, Kaelric fez um anúncio que fez o ambiente estremecer.

- O terceiro ato não é apenas uma demonstração de raciocínio lógico. É um exercício de quem vocês são quando a pressão os consome. Aqui, vocês encontrarão mais do que respostas. Encontrarão vocês mesmos.

A tensão no ar era quase palpável. Cada candidato foi conduzido a uma das mesas e recebeu um conjunto de pergaminhos. O desafio era maior do que apenas resolver enigmas: o ambiente ao redor também reagiria à sua magia, paciência e capacidade de manter o foco.

10. Os Primeiros Momentos: Uma Prova Silenciosa, mas Viva

As regras eram simples na superfície, mas escondiam uma complexidade oculta:

Cada enigma vinha acompanhado de um padrão rúnico incompleto.

Para completar o padrão e registrar a resposta correta, os candidatos precisavam canalizar magia para as runas de maneira controlada.

Qualquer falha no controle causaria uma reação mágica no ambiente - desde distorções leves na sala até explosões menores, capazes de desestabilizar os outros candidatos.

Morpheus sentou-se, examinando os pergaminhos com atenção. Seus olhos analisavam as runas e os enigmas escritos neles: problemas de lógica, padrões aritméticos complexos e charadas que pareciam desafiá-lo a pensar fora da caixa. Ele respirou fundo, sentindo o cristal de Yrva em seu bolso vibrar levemente, como se lhe oferecesse um fragmento de coragem.

A cada enigma que resolvia, Morpheus canalizava magia para completar as runas. Mas a tarefa não era simples. As runas exigiam uma dosagem precisa de mana; energia demais, e o padrão colapsava. Energia de menos, e o enigma permanecia incompleto.

Enquanto isso, Ryk, em sua mesa, parecia movido por uma eficiência implacável. Ele respondia a cada questão com a frieza calculista que fazia parte de sua essência, as runas se ativando em um ritmo quase mecânico. Mesmo sob pressão, Ryk mantinha uma calma que provocava um visível contraste com o suor na testa dos outros candidatos.

11. O "Jogo do Julgamento"

Kaelric observava em silêncio, mas sua postura rígida sugeria que ele estava esperando algo mais. Quando o tempo se aproximou da metade, ele estalou os dedos, e as esferas metálicas nas mesas começaram a brilhar. Cada candidato foi imediatamente confrontado com uma nova camada de complexidade: a esfera agora emitia um zumbido constante que alterava ligeiramente a percepção do tempo e do espaço ao seu redor.

Para Morpheus, isso significava que cada segundo parecia mais rápido do que realmente era. Ele sentiu o pânico ameaçar sua concentração, mas obrigou-se a respirar profundamente, ajustando seu foco.

Ryk parecia igualmente afetado. Embora continuasse avançando rapidamente, havia uma rigidez em seus movimentos que não existia antes. Ele cometera um erro em uma das runas, e a pequena explosão resultante fez os outros candidatos olharem para ele, mas Ryk retomou o controle em segundos.

Quando os últimos minutos do ato começaram a contar, os desafios se intensificaram. Um enigma em particular era mais complexo do que os outros, exigindo que os candidatos sacrificassem tempo para resolver uma questão de extrema dificuldade ou priorizassem os mais simples para garantir mais respostas certas.

Ryk mergulhou imediatamente na questão mais difícil, sua confiança na velocidade e capacidade de completar rapidamente o restante evidente. Morpheus, no entanto, hesitou. Ele sabia que completar os enigmas mais simples poderia garantir sua segurança no ranking geral.

Mas algo nele o instigava a aceitar o desafio. Não era sobre vencer Ryk - era sobre provar para si mesmo que, mesmo sob pressão, ele poderia enfrentar o impossível. Ele fechou os olhos por um momento, visualizou o padrão rúnico em sua mente e decidiu tentar.

Enquanto o tempo se esgotava, Kaelric caminhou até o centro do salão. Com um movimento de suas mãos, fez os globos mágicos no teto começarem a piscar em um ritmo errático. A luz, ora brilhante, ora tênue, aumentava a dificuldade de concentração.

- Magia, raciocínio e resistência nunca operam em ambientes favoráveis - ele declarou, sua voz ecoando. - O mundo é imprevisível. Qualquer um que não puder funcionar nessas condições não pertence à elite.

O ambiente mais caótico abalou alguns candidatos. Uma das mesas explodiu com força suficiente para retirar mais um aluno da competição.

Morpheus sentia o suor escorrer por seu rosto enquanto terminava o último enigma, ajustando as runas com precisão cirúrgica. Quando finalmente ativou o padrão completo, sentiu um alívio misturado à exaustão.

Ao término do terceiro ato, Kaelric ergueu ambas as mãos, e os sons da sala cessaram imediatamente.

- Tempo esgotado. - Sua voz reverberou como um gongo final. - Dez continuarão.

Ele caminhou lentamente, observando as mesas e os resultados. Quando chegou à mesa de Morpheus, ele parou, analisando a precisão com que os enigmas foram resolvidos. Morpheus havia completado cinco dos sete desafios com perfeição e dentro do tempo. Kaelric apenas acenou levemente antes de seguir adiante.

Ryk, ao contrário, havia completado todos os sete, embora um dos padrões de suas runas apresentasse sinais de instabilidade. Kaelric olhou para ele com uma sobrancelha ligeiramente arqueada, mas não disse nada.

Finalmente, Kaelric se posicionou novamente no centro do salão.

- Vocês passaram, - ele anunciou com frieza, os olhos varrendo os rostos exaustos à sua frente. - Dez, e apenas dez, continuarão.

Morpheus olhou para Ryk, que lhe devolveu um olhar que não era de desdém nem de hostilidade, mas de reconhecimento. A rivalidade entre os dois havia alcançado um novo patamar - não de ódio, mas de respeito mútuo.

12. O Anúncio dos Escolhidos

O momento era solene no centro do Grande Salão de Nihlys. A luz das tochas encantadas oscilava nas paredes de mármore negro, projetando sombras das figuras dos mestres e dos candidatos restantes. Kaelric, com sua capa vermelha ondulando atrás de si, deu um passo à frente. Em suas mãos, segurava um pergaminho lacrado com o selo do Império, que agora continha os nomes dos aprovados na Prova de Sangue.

Com a atenção de todos presa a cada movimento, Kaelric parou no centro do salão. Sua postura era imponente, e sua voz reverberou por todo o espaço quando ele quebrou o lacre do pergaminho.

- Os dez melhores entre vocês serão nomeados Magos Reais. Os dois que se destacaram... - ele fez uma pausa calculada, permitindo que a tensão atingisse seu ápice - ...são Ryk de Nenhum-Lugar e Dain Vors.

Os nomes ecoaram pelo salão como trovões. Morpheus (sob sua identidade de Dain Vors) sentiu um misto de alívio e apreensão enquanto assimilava a notícia. Ele havia conseguido, mas isso significava que estaria sob maior escrutínio nos próximos anos.

Ryk, sempre controlado, não demonstrou nenhuma emoção visível além de uma leve inclinação de cabeça em reconhecimento à decisão.

13. Os Escolhidos e Suas Destinações

Kaelric prosseguiu com a leitura, e os outros oito candidatos restantes também foram chamados pelo nome, embora destinados a diferentes funções no Império:

Aelric Thorne, Sebastian Valdrin e Lyara Veyne foram designados ao Exército Imperial, onde serviriam como magos de batalha, auxiliando nas campanhas de expansão e contenção de rebeldes.

Velna Aerath e Corin Malden foram enviados aos Arquivos Proibidos, onde estudariam e preservariam conhecimentos arcanos de acesso restrito.

Theron Drayke, Morrick Kaen e Elira Fynn foram escolhidos como Inquisidores em Treinamento, uma posição que os colocaria na linha de frente de investigações contra traidores do Império e controle de práticas mágicas ilegais.

Cada nome foi anunciado com uma voz clara e firme, e os escolhidos recebiam um leve gesto de reconhecimento dos mestres. Apesar de não terem alcançado as posições de destaque de Ryk e Dain Vors, seus destinos ainda eram honrados e carregavam peso dentro do Império.

Por fim, Ubenor deu um passo à frente. Com sua capa branca bordada em prata brilhando à luz das tochas, ele parou ao lado de Kaelric, dominando o ambiente com sua presença. Ele olhou diretamente para Ryk e Dain Vors, seus olhos perfurando como lâminas.

- Vocês dois são a nata desta geração. - Sua voz era cortante, mas carregava uma autoridade inquestionável. - Sua próxima tarefa será treinar sob minha supervisão pessoal pelos próximos dois anos. Esta será uma prova como nenhuma outra. Vocês verão o que significa realmente carregar o peso do poder e da responsabilidade. Preparem-se para a maior prova de suas vidas.

O salão mergulhou em um silêncio carregado, enquanto os dois jovens absorviam a magnitude da declaração. Morpheus, apesar de sua máscara impecável de Dain Vors, sentia a gravidade do que vinha pela frente. Ele sabia que os próximos dois anos seriam um verdadeiro campo de batalha para manter seu disfarce intacto e aprimorar suas habilidades.

Enquanto os outros alunos deixavam o salão, cada um voltando a seus alojamentos ou se preparando para seus novos destinos, Morpheus permaneceu imóvel por alguns instantes. Ele sentia os olhares de Ryk e Ubenor sobre ele, mas manteve sua postura calma e firme.

Ao deixar o salão, sua mente estava a mil. Ele ponderava sobre sua jornada até aquele momento. Ele havia sobrevivido a três anos em Nihlys, disfarçado como um nobre e escondendo sua verdadeira natureza. No entanto, ao mesmo tempo, sentia que suas habilidades e resiliência haviam crescido exponencialmente. Yrva, seus ensinamentos brutais e as memórias de Nuta haviam moldado algo mais forte dentro dele.

Os próximos dois anos sob a supervisão direta de Ubenor prometiam ser ainda mais desafiadores. Mas Morpheus sabia de uma coisa: ele não poderia falhar. Seu segredo, sua vingança e sua sobrevivência dependiam disso.

                         

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