O choro dela se intensificou, tornando-se um lamento desesperado e manipulador. Era um som ao qual ele nunca conseguia resistir. Observei a tensão em seus ombros, a guerra em seu rosto. Ele era um CEO que podia comandar salas de reunião e esmagar concorrentes, mas diante das lágrimas de Kaila, ele era impotente.
Após um longo e tenso silêncio, ele suspirou, seu corpo inteiro desabando em derrota.
"Tudo bem. Onde você está?"
Ele desligou e se virou para mim, seus olhos cheios de um pedido de desculpas que parecia tão oco quanto nosso casamento.
"Bruna, me desculpe. Ela... ela está ameaçando fazer uma besteira. Eu preciso ir vê-la. Você vem comigo?"
Eu hesitei. Os papéis do divórcio estavam na nossa bancada em casa. Minha fuga já estava em andamento. Esta era apenas mais uma noite de humilhação. A última.
"Tudo bem", eu disse, minha voz mal um sussurro.
Chegamos à mansão da família Holland e encontramos Kaila esperando na varanda, o rosto manchado de lágrimas, mas os olhos brilhando de triunfo. No momento em que Heitor saiu do carro, ela se jogou nos braços dele, agarrando-se a ele como uma trepadeira.
Ele enrijeceu, tentando afastá-la gentilmente.
"Kaila, para."
Ela apenas se agarrou com mais força, enterrando o rosto no peito dele.
"Não me deixe, Heitor. Por favor."
Ele olhou por cima da cabeça dela, seus olhos encontrando os meus por um breve e desamparado momento antes de finalmente ceder, seus braços envolvendo-a em um gesto de conforto relutante.
Eu observei do lado do motorista, uma espectadora silenciosa e invisível do drama interminável deles. Meu coração parecia um bloco de gelo no peito.
"Bruna", a voz de Heitor estava tensa. "Você dirige."
Não era um pedido. Era uma ordem. Íamos para a casa de lago dos pais dela. Eles estavam preocupados com ela.
"Heitor, eu..."
"Apenas faça, Bruna", ele disse, a voz afiada de impaciência. Ele não queria discutir na frente dela.
Ele entrou no banco de trás com Kaila, me deixando assumir o volante. Eu não era mais sua esposa; eu era sua motorista. A humilhação queimava em minhas entranhas enquanto sentia os olhos dos funcionários dos Holland em mim. Eu era a contratada, a substituta, o tapa-buraco.
Liguei o carro, minhas mãos agarrando o volante com tanta força que meus nós dos dedos estavam brancos.
No espelho retrovisor, eu podia ver Kaila sussurrando no ouvido de Heitor, a mão dela deslizando pela coxa dele.
"Kaila, para com isso", ele avisou, a voz baixa e tensa.
Ela fez beicinho, fingindo inocência.
"Eu só estou com frio, Heitor. Me abraça."
Meu estômago se revirou. Apertei o volante com mais força, focando na estrada à frente.
Ele me olhou no espelho, seus olhos cheios de um pedido de desculpas fugaz. Não significava nada.
Então, ele se virou de volta para ela, sua voz suavizando para aquele tom familiar e indulgente que ele só usava com ela.
"Ok, Kaila. Ok."
Soltei um suspiro trêmulo, uma risada amarga morrendo na minha garganta. Que piada. Este casamento, minha vida nos últimos cinco anos. Era tudo uma piada, e eu era o alvo.
A família Holland raramente interagia com Heitor, não desde que ele se casou comigo. Mas agora, enquanto parávamos em sua imensa casa de lago, eles correram para cumprimentá-lo como um rei que retorna.
"Heitor, você finalmente chegou!", exclamou a Sra. Holland, abraçando-o calorosamente.
"Heitor, eu sabia que você não abandonaria nossa Kaila", Kaila arrulhou, agarrando-se possessivamente ao braço dele.
Eles o levaram para dentro, um turbilhão de afeto e familiaridade, me deixando completamente sozinha.
Fiquei sentada no carro, o motor desligado, o silêncio ensurdecedor. Eles tinham esquecido que eu sequer existia.
Alguns minutos depois, meu celular vibrou. Uma mensagem de Heitor.
`Pode ir pra casa. Vou ficar aqui hoje.`
Meus dedos ficaram dormentes. Ele nem teve a decência de dizer isso na minha cara. Fui dispensada. Mandada embora como uma funcionária cujo turno acabou.
Olhei para a tela, as palavras embaçando através de um filme de lágrimas que me recusei a deixar cair. Tinha acabado. Estava final e verdadeiramente acabado.