Um brilho de diversão cruzou o rosto de Kaila. Ela amava este jogo, amava nos colocar um contra o outro, com ela como o prêmio.
"Certo, pessoal!", ela chamou, batendo palmas. "Vamos para a sala de jogos!"
Ao passar por mim, ela se inclinou, sua voz um sussurro venenoso em meu ouvido.
"Ele só está te aturando. Nunca se esqueça disso."
Cerrei os punhos, minhas unhas cravando nas palmas das mãos. Segui a multidão para uma sala que parecia um fliperama de alta tecnologia, completa com estações de realidade virtual e uma tela enorme.
Encontrei um assento em um canto escuro, tentando me fazer o menor possível. Heitor sentou-se no sofá central, o rei em seu trono, cercado por sua corte.
Então, para minha surpresa, ele se levantou e caminhou até o meu canto. Sentou-se ao meu lado, sem dizer uma palavra. O espaço entre nós estava carregado de uma energia estranha e desconfortável. A atmosfera da festa mudou.
Vi o sorriso de Kaila se contrair do outro lado da sala. Seus olhos, fixos em Heitor sentado ao meu lado, ardiam de ciúmes. Ela não suportava.
Sem perder o ritmo, ela deslizou e se espremeu no sofá, bem entre mim e Heitor, me empurrando fisicamente para o lado.
Senti o olhar de Heitor em mim por um momento, mas então ele se desviou, fixando-se em Kaila. Sempre se fixava.
Ela estava radiante, comandando a atenção, sua risada brilhante e cativante. Tive que admitir, observando-a, eu podia ver o abismo entre nós. Ela nasceu para este mundo de glamour e privilégio sem esforço. Eu era uma impostora.
Peguei um copo de uísque da mesa, o líquido âmbar prometendo uma dormência temporária.
Antes que o copo chegasse aos meus lábios, a mão de Heitor fechou sobre a minha, me parando.
"Não beba isso. Você sabe que não aguenta bebida forte."
Sua voz era baixa, preocupada. Foi um daqueles momentos confusos de cuidado que me mantiveram presa por tanto tempo.
"Que atencioso", Kaila interveio, sua voz pingando de doçura fingida. "Mas você se lembra daquele coquetel que você amava, Heitor? Aquele com os raros bitters peruanos? Tive que mover mundos e fundos para conseguir uma garrafa para o seu aniversário um ano."
O rosto de Heitor suavizou com a lembrança.
"Eu me lembro. Foi a melhor bebida que já tomei."
"Viu?", disse Kaila, olhando para mim com pena. "Eu o conheço."
As pessoas ao redor deles começaram a murmurar: "Eles sempre foram feitos um para o outro", "Ela é a única que realmente o entende". Eu era a intrusa, a terceira roda no meu próprio casamento. Meu rosto queimava de vergonha.
Kaila, sentindo sua vitória, bateu palmas novamente.
"Vamos jogar um jogo! Sete Minutos no Paraíso, mas com uma reviravolta!"
As regras eram simples e projetadas para a máxima humilhação. Um gerador de números aleatórios formaria pares. O casal com a maior pontuação combinada ganharia o "privilégio" de passar sete minutos juntos no lavabo adjacente.
A multidão rugiu, seus olhos todos em Heitor e Kaila.
Heitor parecia intrigado. Um sorriso lento se espalhou por seu rosto.
Os números piscaram na tela. Heitor tirou 98. A pontuação mais alta. A multidão aplaudiu. Então foi a vez de Kaila. Ela tirou 99. Uma combinação perfeita.
"Ela roubou!", alguém gritou de brincadeira.
Kaila apenas sorriu, seus olhos fixos em Heitor, cheios de desejo indisfarçado.
A escolha era dele. Todos estavam assistindo.
Eu sabia o que ele escolheria. Eu sempre soube.
Comecei a me levantar, para escapar antes da execução final e pública da minha dignidade.
Mas então, a mão de Heitor disparou e agarrou meu pulso.