Capítulo 5 📖 Capítulo 5 – Entre Criadas e Damas

O sol atravessava as janelas em faixas douradas quando Laura despertou. O quarto onde estava era simples, mas espaçoso, com móveis escuros de madeira maciça e uma poltrona antiga ao lado da lareira adormecida. Havia um espelho alto, uma penteadeira repleta de escovas e frascos de vidro e uma bacia de porcelana com uma jarra de água fria.

Ela se sentou na cama devagar, o corpo ainda dolorido. Estava usando uma camisola limpa que Mary - a criada de olhos doces e fala tímida - havia lhe trazido na noite anterior, junto com o vestido marrom simples, evidentemente usado, e visivelmente de criada.

Laura desceu os pés descalços no chão frio e olhou ao redor. Por um momento, sentiu-se como se estivesse num museu... só que era ela a peça fora do tempo.

Ao abrir a porta, Mary já estava ali.

- Bom dia, senhorita. Deseja ajuda para se vestir?

- Sim, mas... - Laura ergueu uma sobrancelha. - Tem como eu tomar um banho quente antes?

Mary piscou.

- Banho... quente?

- É. Tipo... chuveiro. Quente. Pressão boa.

A criada sorriu de leve, como quem ouvia uma piada incompreensível.

- Posso aquecer água e trazer até sua bacia. Ou preparar a tina. Vai demorar um pouco.

Laura suspirou.

- E... e o vaso? Tem banheiro?

Mary a levou até o fundo do corredor. Era um pequeno cômodo de madeira, com um assento de tampa circular e um balde de porcelana no canto. Ao lado, um tipo de papel áspero e uma garrafa com água para "higiene".

Laura entrou, olhou em volta, e soltou:

- Isso... não é um banheiro. Isso é tortura medieval.

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Mais tarde, vestida com o vestido de Mary, Laura desceu as escadas, o rosto limpo e os cabelos minimamente ajeitados. Ao passar pelo corredor, os criados desviaram o olhar - mas ela sentia os sussurros. A forma como mediam seus gestos, suas palavras, como se fossem indecorosas.

Na sala de refeições, Edward a aguardava. Estava sentado à mesa, tomando chá e lendo um jornal. Ao vê-la, sorriu gentilmente.

- Dormiu melhor?

- Dormir, sim. Tomar banho, nem tanto.

- Mary lhe explicou o sistema?

- Me explicou que vocês vivem em 1885 com todas as limitações possíveis.

Ele sorriu, sem se ofender.

- Hoje pensei que poderíamos ir à vila. Conhecer o lugar. Talvez... comprar roupas adequadas.

Laura ergueu a sobrancelha.

- O que quer dizer com "adequadas"?

- Não é um insulto. Mas a senhorita não está... vestida como uma dama. - Seus olhos percorreram o vestido largo de Mary. - Nem como alguém de sua posição.

- E qual é a minha posição, exatamente?

- A de uma mulher que desafia tudo e todos. Isso exige elegância. A roupa certa ajuda a silenciar certos julgamentos.

Ela hesitou. Não queria depender dele, mas... odiava aquele vestido.

- Certo. Vamos à modista.

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À tarde, na vila, Laura seguiu ao lado de Edward. A cada passo, notava os olhares.

As moças olhavam para ele como se ele fosse feito de ouro. Algumas sorriam abertamente, outras murmuravam entre si, e algumas sequer disfarçavam o desejo nos olhos. Ele retribuía apenas com acenos educados, sempre contido, sempre misterioso.

E então... os olhos se voltavam para Laura.

Ela sentia o julgamento. Algumas moças franziram o nariz ao verem seu vestido de criada. Outras a mediam da cabeça aos pés com desprezo silencioso.

"Quem é essa com ele?", parecia dizer cada olhar.

Laura engoliu seco.

- Você sempre atrai esse tipo de... atenção? - murmurou.

- Eu prefiro o silêncio. Mas não controlo os outros.

- Talvez porque você é alto, bonito, educado, rico e tem um ar de segredo. Um combo explosivo pra esse lugar.

Edward olhou de lado.

- E você... é uma incógnita. E está de vestido de criada. Acha mesmo que isso vai passar despercebido?

- Você queria me deixar vestida com meu corset moderno? - rebateu, cruzando os braços.

- Também não era apropriado. - disse ele, contendo um sorriso. - E nem justo com você.

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Na loja da modista, Lady Anne os recebeu com um olhar aguçado.

- Então essa é a visitante?

- Laura. - disse Edward. - Ela precisa de trajes adequados.

- Imagino que sim. Isso aí - apontou para o vestido - é crime de moda.

Laura revirou os olhos.

- Não vim pra ser modelo de catálogo da era vitoriana. Só quero algo que me faça passar despercebida.

Lady Anne a rodeou, avaliando suas medidas com rapidez.

- Corpo esguio. Quadril bem formado. Coluna ereta. - Ela levantou o queixo de Laura com o dedo. - E olhos de mulher que sabe o que quer. Isso vai incomodar muita gente.

- Já incomoda. - Laura sussurrou.

- Vai precisar de pelo menos três vestidos: um de passeio, um para casa e um mais formal. Meias, luvas, chapéu.

- Pode ser algo que me deixe respirar?

- Posso tentar. Mas não prometo que gostará.

Edward observava em silêncio, o rosto sereno, mas os olhos atentos a cada reação de Laura. E ela, mesmo incomodada com o ambiente, não podia deixar de notar o quanto ele se importava. Era como se, a cada gesto, ele dissesse: não está sozinha aqui.

E pela primeira vez desde que chegou... ela quase acreditou.