Com muito cuidado, ele abriu a porta do quarto e viu os olhos vermelhos e cheios de lágrimas de Kathleen. Ele parou, com uma expressão de preocupação atravessando seu rosto. "Desculpe, meu amor. Estou atrasado. Estava se preocupando demais de novo? Mas não precisa. Olha só, trouxe uma sopa de frutos-do-mar para você. Tome um pouco antes de dormir."
Ele ajudou Kathleen a se sentar com delicadeza. A consideração do marido se mostrava em pequenos gestos, como trazer para casa as comidas favoritas dela quando chegava tarde.
Ela costumava acreditar que foi um presente do destino ter conhecido um homem tão bom quanto ele.
Mas naquela noite, ela descobriu a verdade. A comida que Joshua trazia para casa, como a sopa de frutos-do-mar, eram sobras de Ella e sua querida filha.
Momentos antes, Kathleen se obrigara a assistir à filmagem das câmeras de segurança da mansão dos seus pais.
A menininha tomou um gole da sopa, mas cuspiu de volta na tigela e perguntou: "Papai, esse restaurante é tão caro, mas por que essa sopa tem um gosto tão ruim?"
Joshua olhou para ela, rindo enquanto servia outra coisa. "Tara, se você não gosta, não precisa tomar. Vou levar comigo."
"Mas, papai, eu cuspi nele", disse a menina.
Joshua deu de ombros, despreocupado. "Sem problema. Vou levar para os cachorros. Eles não vão se importar com isso."
Agora, Joshua estava segurando uma colher, esperando ansiosamente que Kathleen abrisse a boca e experimentasse a sopa, o que fez com que o estômago dela revirasse violentamente.
Quantas vezes ela havia comido essas sobras, contaminadas com o cuspe de outra pessoa? Ela era uma cadela aos olhos de Joshua e só merecia sobras?
Kathleen engasgou correu para o banheiro e vomitou até o mundo girar, depois desabou no chão, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
"Por quê, Joshua? Se você não me ama, por que fingir se importar tanto?", murmurou para si mesma.
"Você está bem, meu amor? Desculpe, eu não sabia que você não estava com vontade de tomar a sopa. É culpa minha. Abra a porta, deixe-me ver você, por favor?" A voz dele carregava urgência do lado de fora.
Kathleen pressionou as mãos contra o rosto, abafando os soluços. Por que ele a tratava assim?
Naquela noite, ela teve febre e Joshua a levou apressadamente ao hospital.
Ela não sabia quanto tempo havia dormido. O som de Joshua conversando com Brennen Fuller, seu médico e primo dele, a despertou, mas ela matinha os olhos fechados.
"Joshua, a condição de Kathleen é crítica. Ela pode não aguentar mais um mês. Você ainda vai doar aquele fígado para outra pessoa?" Brennen perguntou.
Após alguns segundos de silêncio, Joshua falou: "Vou manter minha decisão. Você não viu como Ella chorou na minha frente. Não posso suportar. Para Kathleen, encontrarei outro fígado a tempo. Não se preocupe."
"Mas como você vai contar isso para ela?", o médico insistiu.
A voz de Joshua se tornou fria, quase metálica. "Vou dizer que a família do doador desistiu por razões religiosas. Ela não vai suspeitar de nada."
Brennen hesitou. "Mas Kathleen é sua esposa legítima. Foi família Walton que tirou você da lama. Será que você pode realmente ser tão insensível?"
Joshua soltou uma risada baixa, amarga e quase doentia. "Sim, realmente devo meu sucesso aos Walton. Mas não tenho sido bom com Kathleen? Quantos homens fariam o que eu fiz? Mesmo quando a doença a deixou infértil, você me viu reclamando alguma vez? Não tenho nada do que me sentir culpado."
As mãos de Kathleen apertaram o lençol sob o cobertor. Seu coração parecia ter sido arrancado do seu peito.
Então, a fidelidade do seu amado marido durante sua doença justificava a traição dele? Se ele não sentia culpa ou estava apenas se iludindo, só ele sabia.
"Você não se importa se ela vive ou morre?" O médico perguntou.
Mas Joshua não respondeu. Seus dedos tocaram a bochecha de Kathleen, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Seu toque era gentil, mas cada centímetro de pele por onde ele passava ardia com uma dor insuportável.