Ele apertou a mão de Kathleen, pressionando-a contra sua bochecha com uma ternura que poderia comover qualquer um.
"Seu casamento parece coisa de novela, senhora Hayes", disse uma jovem enfermeira, sua voz cheia de inveja. "Sabe a paciente no quarto ao lado? O marido não a visitou uma vez sequer em duas semanas que está internada aqui. Você tem tanta sorte."
Ao ouvir as palavras da moça, Kathleen forçou um sorriso amargo.
Na verdade, ela invejava aquela paciente, pois pelo menos não fora deixada em pedaços após cada esperança ser destruída.
"Quero visitar a mansão dos meus pais", disse Kathleen roucamente, tentando soar forte.
Nesse momento, Joshua congelou, e ele respondeu com um sorriso forçado. "Por que ir lá? Só vai deixar você chateada. Quando você se recuperar do transplante, podemos ir sem problemas. Por enquanto, concentre-se na operação."
Os olhos mentirosos do homem não demonstravam nenhuma sombra de culpa.
Kathleen engoliu sua amargura e disse: "É por causa da cirurgia. Quero ver o lugar deles, pedir a bênção para viver uma vida longa."
Joshua não captou o tom nas palavras dela. Ele piscou, voltando à sua expressão carinhosa. "Tudo bem, o que você quiser. Mas está um pouco bagunçado lá. Vou mandar limpar primeiro."
Kathleen assentiu, sabendo que ele precisava de tempo para se preparar.
Na verdade, ela não queria um confronto com a outra mulher. Só queria vender a casa antes de partir.
Antes, aquela grande casa guardava memórias felizes e preciosas, mas agora, estava manchada e maculada, por isso não merecia ser mantida.
O destino, no entanto, foi cruel. Ela queria evitar a mulher, mas a mulher veio até ela.
Naquela tarde, uma nova paciente, na casa dos cinquenta, chegou - a mãe de Ella Campbell, acompanhada pela filha.
Kathleen viu sua rival pessoalmente pela primeira vez.
"Oi, me chamo Ella. Minha mãe também fará um transplante em breve." A jovem mulher disse, parada ao lado da cama de Kathleen com um sorriso provocador, estendendo a mão.
Kathleen respondeu com um olhar frio. Ella não era mais bonita, talvez fosse mais chamativa, mas os homens não se importavam quando traíam.
Kathleen não apertou a mão de Ella. Ela não conseguia manter o coração do marido. Como poderia culpar os esquemas da outra mulher?
O embaraço cintilou nos olhos de Joshua, que evitou o olhar de Ella e ajudou Kathleen a beber água.
A jovem mulher mordeu o lábio, visivelmente furiosa.
Desde que Joshua lhe ligou, dizendo para ela e sua filha se mudarem da casa Walton, estava extremamente irritada.
Ella não se importava em morar lá, mas sabendo que era a casa dos pais de Kathleen, implorara a Joshua para deixá-las ficar, assim, moravam lá por três anos.
Joshua sempre mantinha Ella longe de Kathleen, mas agora que Kathleen estava morrendo, Ella, uma pessoa extremamente competitiva, não tinha mais reservas.
"Ouvi dizer que você também encontrou um doador de fígado? Espero que nada dê errado", disse Ella, com tom provocador.
"Basta!" Joshua gritou, quebrando o copo em sua mão. Ele lançou um olhar furioso para Ella. "Se não sabe falar com as pessoas, é melhor que se cale. Minha esposa não se importa, mas eu não sou tão indulgente. Diga mais uma palavra, e você está fora deste hospital."
Kathleen se recostou na cabeceira da cama, aplaudindo silenciosamente a performance de Joshua.
Que grande ator. Será que ele planejava enganá-la até o fim? Seu coração doía.
Fraca demais para confrontar sua hipocrisia, apenas fechou os olhos e adormeceu.
Ela se importava menos em lutar contra eles do que em curar seu corpo. Sem Joshua, ela sofreria, sombreada pela traição dele por muito tempo. Mesmo assim, ela queria viver, mais do que nunca, porque só vivendo poderia fazê-los pagar.
No meio da noite, Kathleen acordou, com sede. Joshua já tinha ido embora.
Ela saiu do quarto e ouviu sons abafados da escada - o inconfundível ofegar de um homem e uma mulher perdidos na paixão.
E ela conhecia aquela voz - era a voz de Joshua.
Segurando o peito que doía, ela empurrou a porta da escada e se deparou com um casal entrelaçado, perdido um dentro do outro.
"Oh... querido, por que foi tão duro e grosso comigo esta tarde? Fiquei tão tristinha", Ella disse, agarrando-se ao pescoço de Joshua, sua voz ofegante.
"Você está se arrependendo de dar o fígado para minha mãe? Eu sabia que você ainda tem sentimentos por aquela mulher", ela acrescentou.
Joshua a silenciou com um beijo. "Não fale bobagens. O fígado é definitivamente para sua mãe. Só fiquei bravo porque você agiu por conta própria. Não coloquei sua mãe em um quarto privativo? Por que insistir em movê-la para uma enfermaria comum com Kathleen?"
Ella sorriu. "Só queria irritar aquelazinha. Ela sempre rouba você de mim."
Os movimentos de Joshua tornaram-se mais intensos, os sons de seus corpos colidindo perfurando os ouvidos de Kathleen.
"Sua safadinha, vou te dar o que merece", ele disse.
...
Kathleen não sabia quando mordera o lábio com tanta força que sangrou, enchendo sua boca com um gosto metálico.
Então, a alegação de Joshua de que o último quarto privativo estava reservado era uma mentira - ele o reservara para a mãe de Ella.
Enquanto o casal na escada continuava, Kathleen voltou para o quarto como um cadáver ambulante.
Ela pensou que decidir partir a protegeria de mais dor. Mas ver Joshua e Ella juntos, profanando sua presença, rasgou seu interior.
Ela não tinha sangue de barata, então não conseguiria ficar indiferente.