Lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto trabalhava.
"Mamãe, papai, me desculpem. Sou fraca demais para proteger as últimas lembranças que vocês me deixaram."
Antes de vir, Kathleen visitara um corretor de imóveis e vendera a casa por um preço baixo. Ela se recusava a deixar Joshua estragar ainda mais o lugar.
Após enviar os pertences pelo correio, deu uma última olhada no local onde crescera. Essa poderia ser sua última vez ali.
Kathleen trancou a porta e saiu, apenas para dar de cara com Joshua.
Como não a encontrou no hospital, ele adivinhou que ela estaria ali.
"Amor, por que não me avisou que teve alta? Seu telefone estava desligado. Sabe o quanto fiquei preocupado?", ele disse, os olhos cheios de preocupação aparentemente genuína.
"Não saia sem me avisar, está bem? Eu... fiquei tão assustado que algo pudesse ter acontecido com você", acrescentou o homem, a voz quebrada enquanto a puxava para seus braços. Seu corpo tremia levemente contra o ombro dela.
A mente de Kathleen voltou à cena da noite anterior, com ele e Ella, um dentro do outro, se pegando nas escadas escuras do hospital.
Sentindo um nó no estômago, ela o empurrou, os olhos cheios de desgosto. "Estou bem, não estou? Não quis incomodá-lo, já que está tão ocupado."
Joshua congelou. Pela primeira vez, viu impaciência nos olhos de Kathleen.
Normalmente, ela se desculpava suavemente e o confortava. Por que estava agindo de forma tão diferente?
"Amor, você está chateada por causa das coisas dos seus pais? Falei para você não vir aqui. Está tudo bem. Que tal eu levar você para comer uma das suas comidas preferidas? Seu transplante está quase chegando. Precisamos deixar você bem forte. Vamos."
Joshua pegou a mão dela sem esperar por uma resposta.
"O que quer fazer no seu aniversário amanhã? Sabe aquele colar que prometi? Pedi para alguém buscá-lo e chegará amanhã mesmo. Você será a primeira no mundo inteiro a usá-lo. Então, não está animada?"
Kathleen sentiu o aperto dele como agulhas perfurando sua pele.
A primeira no mundo inteiro? Ele já não tinha colocado aquele colar no pescoço de Ella? Será que achava que ela era idiota?
Então, ela puxou a mão e, com uma a voz distante, disse: "Não quero sair para comer. Não estou com fome."
Mais do que comida sem apetite, o homem à sua frente matava seu apetite. Até o menor toque dele parecia sujo e maculado.
"Tudo bem, podemos comer em casa mesmo. Eu cozinho para você", Joshua disse, momentaneamente atordoado pela rejeição dela, mas rapidamente estampando um sorriso para persuadi-la.
Ele não sabia o que estava errado com ela hoje, mas estava confiante de que ela nunca poderia deixá-lo. Um pouco de persuasão e ela voltaria a seus braços.
Kathleen se virou, encontrando seus olhos. De repente, ela queria saber se ele realmente sofreria se ela morresse.
"Joshua, se eu não fizer o transplante e morrer, você ficaria triste?"
A pergunta o atingiu como um golpe, e seu coração doeu inexplicavelmente. Por que ela perguntaria isso?
"Não, amor, não vou deixar você pensar assim. Você vai se recuperar. Não diga essas coisas", ele disse, a voz grossa, os olhos brilhando como se fosse chorar.
Kathleen esboçou um leve sorriso.
No passado, ela evitava tais assuntos, pois não queria machucá-lo ou vê-lo preocupado, com medo de que ele recorresse a medidas desesperadas, como passar a noite em oração.
Agora, ela sabia que era tudo mentira.
Mesmo que ele se oferecesse para doar o próprio fígado, ela não sentiria um pingo de pena por ele.