Cinco Anos, Uma Mentira Devastadora
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Capítulo 2

"A bolsa ainda está disponível, Elana. Ficaríamos emocionados em tê-la." A voz do diretor era calorosa do outro lado da linha. "Mas você entende as condições? Seis meses, isolamento completo. Nenhum contato externo."

"Eu entendo", eu disse. Era exatamente o que eu precisava. Um lugar para desaparecer.

"Podemos providenciar tudo para você", ele prometeu. "Apenas nos informe seus planos de viagem."

"Obrigada", eu disse, um lampejo de algo como esperança cortando a dormência. "Vejo você em Zurique."

Desliguei e dirigi direto para casa. Nossa casa.

A porta da frente se abria para uma sala de estar cheia de símbolos da nossa vida juntos. Um par de canecas de café combinando no balcão. Uma foto emoldurada de nós no dia do nosso casamento na lareira, seu braço firmemente em volta de mim. Uma manta de caxemira que ele comprou para mim, jogada sobre o sofá onde costumávamos nos abraçar e assistir a filmes.

Uma onda de repulsa me invadiu.

Peguei um saco de lixo da cozinha e comecei a me mover pela casa como uma tempestade. As canecas foram as primeiras, quebrando-se no fundo do saco. O porta-retrato veio em seguida, o vidro se estilhaçando. Rasguei cada foto nossa de suas molduras, rasguei-as em pedacinhos e as joguei dentro. A manta, as roupas dele no meu armário, as bugigangas estúpidas que ele trouxe de suas "viagens de negócios".

Tudo foi para os sacos. Arrastei-os para a calçada, um fogo purificador de fúria queimando dentro de mim.

Então comecei a fazer as malas. Minhas roupas, meus livros, minhas maquetes de arquitetura. Tudo o que era meu. Contratei uma transportadora para buscá-los e entregá-los no meu antigo apartamento, aquele que eu mantinha como um estúdio.

Emílio não voltou para casa naquela noite.

Ele entrou na noite seguinte, parecendo cansado, mas sorrindo. Ele largou a pasta e me puxou para um abraço, seus braços me envolvendo como se nada estivesse errado.

"Nossa, senti sua falta", ele murmurou em meu cabelo, seus lábios roçando minha têmpora.

Meu corpo ficou rígido. Eu podia sentir o cheiro fraco e doce do perfume de outra mulher em sua camisa. Tudo o que eu conseguia imaginar era ele segurando aquele bebê, beijando Yasmin Ferraz. A náusea subiu pela minha garganta.

Eu me afastei de seus braços.

Seu sorriso desapareceu, substituído por um olhar de preocupação. "O que há de errado, Elana? Você está fria."

"Estou bem", eu disse, minha voz sem expressão.

"Você não está bem", ele insistiu, a testa franzida. "Você está doente? Vamos ao médico."

A hipocrisia era sufocante. Ele conseguia interpretar o papel do marido preocupado com perfeição, mesmo depois de passar a noite com sua outra família.

"Não estou doente", eu disse. "Só estou cansada."

Ele não insistiu. Em vez disso, tirou uma série de caixas embrulhadas para presente de sua pasta. "Eu trouxe presentes para você. Da minha viagem."

Ele tinha até forjado as provas de uma viagem de negócios. Um lenço de seda de um designer que eu odiava. Um frasco de perfume que eu nunca usaria. Cada presente era uma mentira cuidadosamente construída, um testemunho da profundidade de seu engano. O custo desses presentes provavelmente poderia financiar uma pequena startup, mas o pensamento por trás deles era inútil.

Eu queria gritar, jogar as caixas na cara dele e exigir saber como ele pôde fazer isso. Mas as palavras não vinham. Eu estava presa entre a mulher que ainda, em algum lugar profundo, amava o homem que ele costumava ser, e a mulher que estava se afogando na verdade de quem ele era agora.

Ele notou meu silêncio, a vermelhidão em meus olhos.

"O que foi, Elana? Fale comigo."

Eu o olhei diretamente nos olhos, minha voz dura. "Eu quero um bebê, Emílio. Eu quero um agora."

Seu rosto mudou. Um lampejo de pânico, depois uma máscara de paciência cansada. "Nós já conversamos sobre isso. O momento não é o certo."

"Nunca é o momento certo para você", eu rebati.

"A empresa acabou de lançar uma nova iniciativa. Estou sob muita pressão." A mesma desculpa. Sempre a mesma.

"Você não acha que eu estou sob pressão?" insisti, minha voz se elevando. "Eu quero um filho, Emílio. Com você."

Seu telefone tocou, salvando-o. O identificador de chamadas estava em branco. Ele olhou para ele, sua expressão tornando-se séria.

"É o trabalho", disse ele, já se virando. "Eu tenho que ir." Uma mentira. Eu sabia que era uma mentira.

Ele beijou minha testa, um gesto que agora parecia uma marca de sua traição. "Vou voltar tarde. Não me espere."

Observei da janela enquanto ele entrava em seu carro e acelerava, desaparecendo na noite.

Caí no sofá, a luta se esvaindo de mim, deixando apenas uma dor profunda nos ossos. Ele podia ter um filho com ela, mas não comigo. O pensamento foi um golpe físico.

Meu olhar caiu sobre seu segundo telefone, aquele que ele alegava ser "para negócios internacionais", sobre a mesa de centro. Ele o havia esquecido na pressa. A tela se iluminou com uma mensagem.

De Yasmin: "A febre do Léo voltou. Ele não para de perguntar pelo papai."

Ele nem tinha notado que eu estava diferente. Que a casa estava meio vazia. Que o coração de sua esposa estava se partindo.

Uma única lágrima rolou pela minha bochecha, depois outra. A dor em meu coração era tão intensa que era uma sensação física, mas foi ofuscada por uma cãibra súbita e violenta em meu estômago.

Eu me inclinei para frente, minha mão voando para a boca enquanto corria para o banheiro, vomitando no vaso sanitário.

Meu corpo parecia estranho. Isso não era apenas um coração partido. Um pensamento frio e aterrorizante começou a se formar em minha mente. Uma possibilidade que era ao mesmo tempo um milagre e uma maldição.

Ele não voltou para casa naquela noite.

Na manhã seguinte, fui ao hospital sozinha.

A médica sorriu, seus olhos se enrugando nos cantos enquanto olhava para a tela do ultrassom.

"Parabéns, Sra. Mendes", disse ela, sua voz brilhante com uma alegria que eu não conseguia sentir. "Você está grávida de seis semanas."

            
            

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