Era Emílio. Ele estava perto dos elevadores, o braço em volta de Yasmin Ferraz, que soluçava em seu peito. Ele murmurava palavras de conforto, sua expressão cheia de uma preocupação terna que eu não via dirigida a mim há muito, muito tempo.
Escondi-me atrás de um grande vaso de plantas, meu coração batendo forte. Eu não conseguia ouvir suas palavras claramente, mas suas ações falavam por si.
Então, o sussurro engasgado de Yasmin ecoou pelo corredor. "Você acha que ela suspeita de alguma coisa?"
"Ela confia em mim", respondeu Emílio, sua voz casual, desdenhosa. Foi uma declaração descuidada que revelou tudo sobre o quão pouco ele pensava de mim, da minha inteligência.
"Mas quando você vai me fazer sua esposa?" Yasmin pressionou, sua voz carregada de uma ambição desesperada. "Quando você pode dar a mim e ao Léo a vida que merecemos?"
"Yasmin, pare", ele a interrompeu, um toque de aço em seu tom. "Elana é minha esposa. Isso não vai mudar."
Minha respiração ficou presa na garganta.
"É o mínimo que posso fazer", ele continuou, sua voz mais suave agora, tingida com o que parecia ser culpa. "É minha penitência pelo que fiz a ela."
Yasmin ficou em silêncio, aceitando sua decisão com um aceno relutante. Ele a puxou para outro abraço, beijando seu cabelo.
"Você me deu um filho lindo, Yasmin", disse ele, a voz embargada de emoção. "E eu sempre cuidarei de vocês dois."
Eles caminharam em direção ao elevador, abraçados. Quando as portas estavam prestes a se fechar, os olhos de Yasmin piscaram em minha direção. Por uma fração de segundo, seu olhar encontrou o meu. Não havia surpresa em seus olhos, apenas um flash de vitória fria e triunfante.
Ela sabia. Ela sabia que eu estava lá o tempo todo.
Saí de trás da planta, meu corpo tremendo. As lágrimas que eu estava segurando escorreram pelo meu rosto, quentes e imparáveis. A dor no meu peito era um peso físico, me esmagando.
Ele não queria se divorciar de mim por culpa, mas nunca desistiria de sua outra família. O que isso me tornava? Um tapa-buraco? Um símbolo de um compromisso que ele não sentia mais, mas era covarde demais para quebrar?
Lembrei-me de suas promessas, seus votos. "Na saúde e na doença, até que a morte nos separe." Ele os havia dito com tanta convicção. Eu acreditei nele.
Mas ele me traiu. E esse amor, essa coisa tóxica e fraturada, era algo que eu tinha que cortar da minha vida.
Antes de sair do hospital, voltei à recepção e marquei uma consulta. Um aborto.
Então liguei para meu advogado.
"Prepare os papéis do divórcio", eu disse, minha voz fria e firme. "Quero tudo dividido ao meio. Tudo a que tenho direito."
Eu estava sentada no meu carro no estacionamento do hospital quando meu telefone tocou. Era Emílio. Sua voz estava rouca, cansada.
"Feliz aniversário, Elana."
Eu tinha esquecido completamente. No caos e na dor, meu próprio aniversário havia me escapado da mente.
"Sinto muito por ontem à noite", disse ele, sua voz carregada de um arrependimento ensaiado. "Uma crise no escritório. Não consegui ir para casa."
Uma risada amarga quase escapou dos meus lábios. "Ok", eu disse, as duas palavras parecendo poeira na minha boca.
Ele pareceu relaxar do outro lado, aliviado pela minha falta de perguntas. "Eu organizei uma festa de gala para você esta noite. Para comemorar seu aniversário e a nova ala que você projetou para o museu. Para me redimir."
"Ok", repeti, minha voz monótona.
Um ano atrás, essas palavras me fariam chorar de felicidade. Agora, eram apenas mais uma camada de sua elaborada mentira.
Eu não queria mais ouvir sua voz. Desliguei o telefone, minha mão agarrando o volante.
Olhei pela janela, mas não vi nada. Apenas senti um pressentimento profundo e arrepiante. Ele não tinha ideia do que estava por vir. Ele sentia uma sensação de inquietação, um sentimento de que algo precioso estava escapando por entre seus dedos, mas não conseguia nomeá-lo.
Ele não tinha ideia de que já havia partido.