O Antídoto Dele, o Tormento Dela
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Capítulo 5

"O vovô está me forçando a te levar para casa", disse Heitor, sua voz neutra e desprovida da malícia habitual. Era apenas... vazia.

Eu apenas assenti, cansada demais para discutir, quebrada demais para me importar.

Caminhamos para o carro em silêncio. Cassandra já estava lá, esperando no banco de trás, sua expressão uma mistura de impaciência e vitória. Ela me lançou um olhar venenoso quando me aproximei.

"Eu chamei um carro para você", disse ela para mim, sua voz afiada. "Você pode esperar por ele."

Heitor a ignorou. Ele abriu a porta do passageiro da frente para mim. Foi um gesto pequeno e sem sentido, mas tão fora do personagem que pareceu estranho.

Entrei e o carro se afastou da mansão Ferraz. No banco de trás, Cassandra tagarelava, sua voz irritando meus nervos. Ela falava sobre os planos do casamento, o local, o vestido, a lista de convidados.

Heitor dirigia, os olhos na estrada, as mãos apertadas no volante. Eu podia sentir a tensão irradiando dele.

"Lembro que você disse que sempre quis um casamento à beira-mar", disse ele de repente, sua voz baixa.

Eu congelei. Era uma lembrança de uma vida inteira atrás, um sonho de infância que eu havia compartilhado com ele quando éramos jovens. Um sonho que eu pensei que ele havia esquecido há muito tempo.

Ele não esqueceu. Ele apenas escolheu dá-lo a outra pessoa.

A dor foi tão aguda, tão repentina, que me tirou o fôlego. Todos esses anos, eu me agarrei a uma pequena e tola brasa de esperança de que ele se lembrasse do menino que costumava ser. Agora, essa brasa estava extinta, deixando apenas cinzas frias e escuras.

Ele se lembrava. E não se importava.

De repente, um par de faróis apareceu do nada, vindo diretamente em nossa direção.

"Cuidado!" eu gritei.

O mundo explodiu em uma chuva de vidro e metal rangendo. O impacto me jogou para frente, minha cabeça batendo no painel com um baque surdo. O carro girou violentamente, os sons do acidente ecoando em meus ouvidos.

Em meio ao caos, ouvi a voz de Heitor, frenética e aterrorizada. "Cassandra! Você está bem?"

Olhei para trás. Ele havia jogado seu corpo sobre o dela, protegendo-a do impacto. Ele nem sequer olhou para mim.

O motorista estava caído sobre o volante, sem vida.

Minha perna estava presa, esmagada pelo painel. A dor me atravessou, quente e aguda.

"Heitor", chamei, minha voz fraca. "Me ajude."

Ele olhou para mim então, seus olhos arregalados com um lampejo de algo que eu não consegui decifrar. Mas ele não se moveu. Ele apenas segurou Cassandra com mais força.

"O carro está vazando gasolina", ofeguei, o cheiro de combustível enchendo o ar. "Temos que sair."

Tentei libertar minha perna, mas foi inútil. Eu estava presa.

"Heitor, por favor", implorei, lágrimas de dor e desespero escorrendo pelo meu rosto.

Ele desviou o olhar, seu rosto uma máscara de indiferença. Ele estava focado apenas em Cassandra, soltando o cinto de segurança dela, puxando-a dos destroços. Ele não olhou para trás.

Eu estava sozinha no carro retorcido, o cheiro de gasolina ficando mais forte.

Vi um caco de vidro quebrado no chão. Com uma onda de adrenalina, eu o agarrei, as bordas afiadas cortando minha mão. Eu não me importei. Comecei a serrar o cinto de segurança, minha própria carne, qualquer coisa para me libertar.

O carro ia explodir. Eu sabia disso.

"Heitor!" gritei uma última vez, um apelo final e desesperado.

Ele estava a uma distância segura, com Cassandra em seus braços. Ele se virou e, por uma fração de segundo, nossos olhos se encontraram. Vi um lampejo de choque, de horror.

Então o mundo explodiu em uma bola de fogo.

A força da explosão me jogou para longe dos destroços, meu corpo uma bagunça de queimaduras e ossos quebrados.

A última coisa que ouvi antes que a escuridão me consumisse foi a voz de Heitor, gritando meu nome.

Um nome que eu nunca mais responderia.

                         

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