Do Prisioneiro à Fênix: Seu Arrependimento
img img Do Prisioneiro à Fênix: Seu Arrependimento img Capítulo 3
3
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Capítulo 3

O leilão começou. Gabriel e Helena sentaram-se na primeira fila, o braço dele envolto possessivamente em volta da cadeira dela. Eu observava das sombras no fundo da sala, meu coração uma pedra fria e pesada no peito.

Quando o leiloeiro anunciou o item final, um silêncio tomou conta da multidão.

"E agora, para o nosso grand finale, a 'Estrela do Oceano'!"

Um magnífico colar de diamantes azuis foi trazido em uma almofada de veludo. Brilhava sob os holofotes, uma gema perfeita e impecável.

Helena ofegou, a mão voando para o peito. "Oh, Gabriel, é lindo."

"Não tão lindo quanto você", ele murmurou, beijando sua têmpora.

Os lances começaram. Foram acirrados, subindo para milhões em segundos. Mas Gabriel simplesmente ficou lá, um sorriso calmo no rosto. Quando o preço atingiu dez milhões de reais, ele finalmente levantou sua placa.

"Vinte milhões", ele disse, sua voz casual, como se estivesse pedindo um café.

A sala ficou em silêncio. Ninguém mais ousou dar um lance.

"Vendido!", gritou o leiloeiro. "Para o Sr. Gabriel Bastos!"

A sala explodiu em aplausos. Helena jogou os braços ao redor do pescoço de Gabriel, beijando-o profundamente. "Obrigada, obrigada! Eu amei!"

"Qualquer coisa por você, meu amor", ele disse, sua voz uma promessa baixa. "O casamento é no próximo mês. Este é apenas um pequeno presente pré-casamento."

Ele pegou o colar e o prendeu em volta do pescoço dela. Ela se exibiu, virando a cabeça de um lado para o outro para admirá-lo.

Eu não conseguia respirar.

Aquele colar. Eu o reconheci. Não o diamante, mas a corrente de prata única e artesanal em que estava.

Meu pai a havia projetado. Era uma peça única que ele fez para minha mãe. Depois que ela morreu, ele me deu, dizendo para eu dar à mulher que eu sentisse que era minha família. Era a única coisa que me restava deles.

Quando Gabriel me pediu em casamento - o pedido real, em nossa mansão, antes do acidente - eu dei a corrente a ele. Eu disse a ele que ele era minha família agora. Ele tinha lágrimas nos olhos. Ele prometeu que a guardaria para sempre, que era mais preciosa para ele do que todo o dinheiro do mundo.

E agora, ele havia colocado um diamante de vinte milhões de reais nela e a dado à mulher que tentou me matar. Ele pegou minha memória mais preciosa, meu símbolo de família e amor, e deu a ela como um enfeite.

A dor no meu peito era tão intensa que pensei que estava morrendo. Agarrei a parede para me apoiar, meus nós dos dedos brancos.

Todo o amor que eu tinha por ele, todos os sacrifícios, todos os anos de devoção - ele pegou tudo e jogou fora como lixo.

O leilão terminou. Meu turno acabou. Peguei meu pagamento e saí para a noite. Começou a chover, uma chuva fria e miserável que combinava com a tempestade dentro de mim.

Não peguei um táxi. Apenas andei, deixando a chuva me encharcar até os ossos. Eu não sabia para onde estava indo. Só precisava me mover, colocar distância entre mim e aquele mundo brilhante e falso.

Um carro preto elegante passou rápido, espirrando uma onda de água lamacenta em todo o meu casaco barato.

Eu olhei para cima, furiosa.

Através da janela manchada de chuva, vi Gabriel ao volante. Helena estava no banco do passageiro, a cabeça em seu ombro. Ele estava rindo, a mão acariciando o cabelo dela.

O carro desapareceu na esquina.

Eu desabei no pavimento molhado, a última gota da minha força se foi. Soluços sacudiram meu corpo, crus e feios. Chorei pela vida que perdi, pelo amor que era uma mentira, pelo bebê que eu ainda não sabia que estava crescendo dentro de mim.

"Pai", sussurrei para o céu tempestuoso. "Por quê? Por que isso aconteceu comigo?"

Eu estava tão sozinha.

De alguma forma, consegui me levantar. Andei por horas, meus pés dormentes, minha mente uma lousa em branco de dor. Me encontrei no cemitério, em frente ao túmulo do meu pai.

Caí no chão, minhas lágrimas se misturando com a chuva no mármore frio. Contei tudo a ele. Sobre a traição de Gabriel, sobre as mentiras, sobre o colar. Falei até minha voz ser um sussurro rouco e cru.

Devo ter adormecido ali, encolhida contra a lápide. Quando acordei, o sol estava nascendo e a chuva havia parado. Meu celular estava vibrando incessantemente. Dezenas de chamadas perdidas e mensagens de Gabriel.

"Alice, onde você está? Estou preocupado."

"Amor, por favor, me liga. Desculpe ter que trabalhar até tarde."

Mentiras. Tudo mentira.

Voltei lentamente para o apartamento. Ele estava esperando do lado de fora, andando de um lado para o outro, o rosto uma máscara de preocupação frenética.

"Alice! Meu Deus, onde você esteve? Eu estava louco!", ele gritou, correndo para me agarrar.

Eu me encolhi com seu toque.

Olhei para ele, realmente olhei para ele. Não como meu marido amoroso e batalhador, mas como o bilionário manipulador que me fez de boba. Ele era um estranho.

Lembrei-me de outra vez que corri para o túmulo do meu pai depois de uma briga com ele. Ele me encontrou lá também. Ele me abraçou, sua voz suave de preocupação, me dizendo que sentia muito, que tinha medo de me perder.

Agora, sua preocupação parecia uma performance. Sua preocupação era uma mentira.

O homem que eu amava se foi. Talvez ele nunca tenha existido.

            
            

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