Exceto que ele continuou a dormir no quarto de hóspedes. Ele nunca me tocou. O espaço entre nós era um abismo frio e intransponível.
Uma noite, passei pelo quarto de hóspedes e a porta estava entreaberta. Eu o vi sentado na beira da cama, olhando para uma foto em seu celular. Era ela. Kendi. Seu rosto era uma máscara de saudade e desespero. Era patético e de partir o coração.
Meu plano estava funcionando, mas era uma paz frágil. Eu sabia que não poderia manter a farsa para sempre. Eu estava planejando como encenar minha "recuperação" milagrosa quando ela apareceu.
Ela veio até a casa. Não tocou a campainha. Apenas entrou, o rosto pálido e manchado de lágrimas.
Ela caminhou diretamente até mim e enfiou um pedaço de papel na minha mão.
Era um laudo de laboratório. Um teste de gravidez positivo.
Ela não disse uma palavra. Apenas caiu no choro e saiu correndo da casa.
Cássio ficou paralisado na porta, o rosto pálido. Ele não olhou para mim. Não ofereceu uma única palavra de explicação.
Ele apenas começou a se mover, seu corpo se arrastando em direção à porta aberta.
"Cássio, não", eu disse, minha voz mal um sussurro.
Ele continuou andando, um homem em transe, desesperado para segui-la.
Eu agarrei seu braço. "Não se atreva a ir atrás dela."
Ele arrancou o braço, seu rosto se contorcendo com uma raiva que eu nunca tinha visto antes. Era crua e feia.
"Me solta, Helena!", ele rugiu, sua voz baixa e gutural. "Ela está grávida! Está esperando um filho meu!"
Ele me fuzilou com os olhos, cheios de tanta frustração, tanto ódio explícito, que pareceu um golpe físico.
"Por que você simplesmente não me deixa ir confortá-la?", ele exigiu, como se eu fosse a irracional.
Eu vi então, no maxilar cerrado e no olhar frenético. Ele já tinha partido.
Limpei as lágrimas do meu próprio rosto com as costas da mão. Senti um nó frio e duro se formando no meu peito. Um impulso terrível e violento passou pela minha mente, e tive que balançar a cabeça fisicamente para bani-lo.
Empurrei para o fundo a pergunta que gritava para ser feita: Você tem certeza de que é seu? Não era a hora para isso. Ainda não.
"Se você sair por aquela porta agora", eu disse, minha voz trêmula, mas firme, "você será um viúvo pela manhã."
Era minha última carta. Minha vida pelo meu casamento.
"Estou falando sério, Cássio. Não me deixe morrer sozinha."
Ele congelou, seu corpo rígido. Ele me encarou por um longo e silencioso momento. O olhar em seus olhos mudou de frustração para nojo puro e absoluto.
"Você é perversa", ele cuspiu, a palavra pairando no ar entre nós.
A palavra cortou mais fundo que qualquer faca. Perversa? Eu?
Eu construí sua carreira, administrei sua vida, aceitei uma existência sem filhos por ele. Eu fingi uma doença terminal, suportando a farsa da minha própria morte lenta, apenas para mantê-lo. E eu era a perversa?
Lágrimas escorriam pelo meu rosto agora, quentes e imparáveis.
Minha ameaça havia falhado. A gravidez, a promessa de um herdeiro, havia vencido.
Com um rosnado de frustração, ele chutou uma pequena mesa antiga perto da porta, fazendo um vaso se espatifar no chão.
"Então morre de uma vez!", ele gritou, o rosto uma máscara de fúria. "Eu espero que você morra!"
Ele se virou e saiu de casa sem olhar para trás.
Observei suas costas desaparecerem pela entrada da garagem. O motor de seu carro rugiu e depois se desvaneceu à distância, deixando-me em um silêncio absoluto.
Minhas mãos tremiam tanto que mal conseguia segurar o celular. Disquei o número de Jairo.
"Está na hora", sussurrei no telefone, minha voz quebrando. "Vamos acabar com ele até não sobrar nada."