Pensei em todas as outras coisas que eu havia coletado ao longo dos anos. Os pergaminhos antigos que ele aceitou de um empreiteiro buscando mudanças no zoneamento. Os relógios caros de um lobista. Cada item era um elo em uma longa corrente de corrupção.
"A arte, os presentes... você tem um registro de tudo isso?"
"Cada peça", ele confirmou. "Com avaliações verificadas e registros de quem os deu a ele e quando."
Apertei meu celular, a tela ainda mostrando a foto deles com suas alianças iguais. A imagem queimava em minha mente.
"O que vai acontecer com ele, Alexandre? Se eu entregar isso."
Houve uma pequena pausa. "Dado o valor dos subornos e as evidências de lavagem de dinheiro... ele vai pegar a pena máxima. Décadas na cadeia. Sem chance de condicional."
Meus olhos se encheram de lágrimas novamente. Décadas na cadeia. Parecia tão final, tão devastador. Mas que escolha ele me deixou?
Eu precisava agir rápido. Ele estava planejando sua nova vida, uma vida construída sobre minhas cinzas. Ele provavelmente pensaria que perder sua reputação era um preço pequeno a pagar por uma nova família.
Lembrei-me do dia do nosso casamento. Ele sussurrou em meu ouvido: "Até que a morte nos separe, Helena." Era uma promessa que ele havia quebrado de todas as maneiras, exceto a mais literal.
"Vá em frente, Alexandre", eu disse. "Apresente a denúncia."
"Pode deixar", ele disse suavemente.
Desliguei e olhei pela janela, observando a chuva cair. Como as promessas de um homem podiam virar pó tão facilmente? Ele havia se tornado a própria coisa que costumava desprezar: um tolo corrupto e egoísta.
Fiquei com Jairo, recuperando minhas forças, esperando. Cássio nunca ligou. Mas a rede de amigos de Jairo me manteve informada. Cássio estava se reunindo com advogados diariamente, tentando acelerar a transferência da casa de campo para o nome de Kendi.
Ele estava tentando garantir o futuro deles antes de se divorciar de sua esposa "moribunda".
Continuei a desempenhar meu papel. Deixei-o pensar que eu estava fraca, alheia e definhando no quarto de hóspedes do meu sobrinho.
Um mês depois, decidi que meu "câncer" havia entrado em uma remissão milagrosa e inexplicável. Pedi a Jairo que me levasse para casa.
Entramos e encontramos Cássio na sala de estar, ao telefone. Ele me viu e seu rosto passou de surpresa para puro horror indisfarçado.
"O que você está fazendo aqui?", ele gaguejou, encerrando rapidamente a ligação. "Você... você parece..."
"Melhor?", completei para ele. "Sim. Os médicos estão chamando de milagre."
Ele me encarou, os olhos arregalados de incredulidade e um lampejo de outra coisa: decepção. Ele estava decepcionado por eu não estar morta.
Jairo colocou uma mão de apoio no meu braço, mas eu a afastei. Caminhei em direção ao meu marido, meus passos lentos e firmes.
A raiva que eu vinha reprimindo por meses finalmente explodiu. Lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto eu levantava a mão e o esbofeteei, com força, no rosto. O som ecoou na sala silenciosa.
"Você está decepcionado, não está?", gritei, minha voz crua de dor. "Você estava esperando que eu simplesmente morresse e facilitasse as coisas para você!"
A dor no meu peito ardeu, uma agonia real e física. "Eu estava no hospital! Meu coração parou! E onde você estava? Você estava com ela! Você estava comprando carros e anéis para ela enquanto eu lutava pela minha vida!"
Cada palavra era um caco de vidro rasgando minha garganta. Meu coração estava verdadeiramente partido, mesmo que o câncer fosse uma mentira. Essa dor era real.
Ele estendeu a mão para mim, sua expressão uma mistura desajeitada de choque e culpa. "Helena, eu... eu não sabia."
Era uma desculpa patética e covarde.
Agarrei a manga de seu suéter de caxemira caro, agarrando-me a ele como uma mulher se afogando. "Eu quero uma última coisa, Cássio."
Eu estava atuando, mas o desespero em minha voz era real.
"Dez dias", implorei. "Apenas dez dias. Leve-me para a casa de campo. Deixe-nos ter uma última lembrança no lugar onde fomos felizes. Depois de dez dias, eu assino os papéis do divórcio. Eu irei embora e você nunca mais me verá."
Ele olhou para mim, para o meu rosto manchado de lágrimas. Ele pensou que eu era uma mulher moribunda, agarrando-se a um último fio de esperança. Ele pensou que minha condição cardíaca acabaria comigo em breve. Sua piedade, sua arrogância, o fizeram concordar.
"Tudo bem, Helena", ele disse, sua voz suave com condescendência. "Dez dias."
Cravei as unhas na minha própria palma, a dor aguda me ancorando. Ele não sabia o verdadeiro motivo pelo qual eu queria aqueles dez dias.
Quando nos casamos, fiz-lhe uma promessa. "Eu sei que homens na sua posição enfrentam tentações", eu lhe disse. "Vou te permitir três erros. Na primeira vez, eu te perdoarei. Na segunda, te darei uma chance de consertar. Mas na terceira vez, Cássio, eu vou te destruir."
O caso dele foi o primeiro erro. Eu tentei perdoá-lo. Minha falsa doença foi a segunda chance, minha tentativa desesperada de fazê-lo consertar o que ele havia quebrado.
Esta era sua terceira e última chance. Eu, verdadeira e honestamente, esperava que ele a aproveitasse.