Observei-as pendurarem uma gravura emoldurada na parede. Era uma peça personalizada, uma árvore genealógica com os nomes Arthur, Aline e um espaço para o filho deles. Eles vinham planejando isso há muito tempo.
Baixei os olhos, aceitando a finalidade daquilo. Meus pertences foram movidos para um quarto pequeno e escuro no final do corredor. Não me dei ao trabalho de desempacotar. Eu só precisava aguentar as próximas quarenta e oito horas. Então eu estaria livre.
Naquela noite, depois do jantar, houve uma batida suave na minha porta. Era Aline.
"Eu queria te agradecer", disse ela, sua voz doce como veneno. Ela estendeu uma pequena caixa embrulhada. "Este é um presentinho."
Olhei para o rosto dela, tão bonito e inocente, e senti nojo. Dei um passo para trás.
"Eu não quero", eu disse. "Você está aqui porque meus pais e meu marido querem que você esteja. Não tem nada a ver comigo."
Ela se aproximou, seu sorriso inabalável. "Não seja assim, Clara. Eu realmente aprendi minha lição. Eu só quero que sejamos irmãs. Mamãe e papai ficariam tão felizes."
Ela pressionou o presente em minha mão, seu aperto surpreendentemente forte. "Por favor, apenas aceite."
Senti uma onda de exaustão. Discutir era inútil. Peguei a caixa.
Eu a abri. Dentro, aninhada em uma cama de seda, havia uma fotografia antiga e desbotada. Meu sangue gelou.
Era uma foto do homem que me atacou anos atrás, aquele que meus pais pagaram para desaparecer. O homem que me deixou com pesadelos que ainda me assombravam.
A memória de suas mãos em mim, seu hálito fétido, voltou com uma intensidade sufocante.
Meu corpo tremia incontrolavelmente. Com um grito sufocado, joguei a caixa para longe de mim.
Atingiu Aline no peito. Ela soltou um grito agudo e teatral de dor e tropeçou para trás, bem quando passos soaram na escada.
Arthur, meu pai e minha mãe correram pelo corredor.
Arthur estava ao lado de Aline em um instante. "Aline, o que aconteceu? Você se machucou?"
Aline caiu no choro, apontando um dedo trêmulo para mim. "Eu só queria dar um presente a ela... para agradecer... mas ela me odeia. Ela jogou em mim."
Lutei para me levantar, minhas pernas tremendo. "Não foi isso que aconteceu", eu ofeguei. "A foto... era ele. O homem que..."
A testa de Arthur se franziu de aborrecimento. "Clara, do que você está falando? Pare com essa palhaçada."
"Olhe para ela!", gritei, minha voz rouca de desespero. Apontei para a foto no chão. "Apenas olhe para ela!"
Arthur se abaixou e pegou a fotografia. Ele franziu a testa, virando-a nas mãos. Então sua expressão mudou para uma de confusão.
Ele a estendeu para que eu visse.
Não era o agressor. Era a foto de um homem de meia-idade, de rosto gentil, que eu nunca tinha visto antes.
Arranquei a foto da mão dele, meu coração batendo forte. Era impossível. Eu vi. Eu sabia o que vi. Mas a imagem que me encarava era de um estranho.
Aline fungou, enxugando os olhos. "Esse... esse é meu pai biológico", ela sussurrou lamentavelmente. "Devo ter colocado a foto errada na caixa. Sinto muito, Clara. Não quis te chatear."
Ela parecia tão magoada, tão genuinamente arrependida.
O olhar de Arthur se suavizou com pena dela.
"Tenho certeza de que foi apenas um mal-entendido", continuou Aline, sua voz ganhando força. "Talvez... talvez você estivesse apenas vendo coisas, Clara. Você anda muito estressada."
Gaslighting. Era sua arma favorita.
"Não", eu disse, balançando a cabeça. "Eu sei o que eu vi."
Arthur me interrompeu, sua paciência esgotada. Ele ajudou Aline a se levantar. "Já chega, Clara."
Ele se virou para Aline, sua voz gentil. "Não dê mais presentes a ela, Aline. Ela claramente não está bem."
Virei-me e vi o olhar nos olhos dos meus pais. Era pura, não diluída, decepção. Direcionada a mim.