Nos dias seguintes, Alice ficou em seu quarto. Heitor e Clara saíam de manhã e só voltavam à noite, às vezes nem voltavam para casa.
No domingo, o décimo dia antes de sua partida, ela foi à reunião do colégio.
Um colega lhe entregou uma bebida. Ela pegou. Este era um brinde à sua juventude, uma despedida de seus colegas.
Depois de um copo, ela se sentiu um pouco tonta e foi para o corredor tomar um ar.
Através da parede de vidro de uma sala privada, ela viu Heitor, cercado por um grupo de pessoas.
Ela se forçou a desviar o olhar, mas ouviu alguém na sala falando sobre o noivado iminente de Heitor e o que aconteceria com Alice.
Então, ela ouviu a voz familiar e fria de Heitor.
"Ela é adulta agora. Os assuntos dela não são mais da minha conta."
Alice ficou perto da porta, com os olhos baixos, e murmurou: "Eu sou adulta. Sou sensata. De agora em diante, meu mundo também não terá você."
Ela foi até a janela para tomar um ar, depois ao banheiro para jogar água fria no rosto, tentando clarear a cabeça.
Quando saiu, encontrou um Heitor embriagado. Seus olhos se encontraram.
Nesse momento, a voz doce de Clara chamou: "Heitor!" Ela se jogou nos braços dele, reclamando que havia bebido demais.
Heitor beijou sua testa carinhosamente e a pegou no colo, no estilo princesa, e se afastou.
Alice ficou ali por um longo tempo, imóvel.
"Por que você está chorando?", perguntou sua colega, Júlia.
Alice forçou um sorriso. "Um cílio entrou no meu olho."
Júlia suspirou. "Eu sempre pensei que ele nunca namoraria ninguém, que ele apenas te protegeria para sempre. Ele te mimava tanto."
Um gosto amargo encheu a boca de Alice. "Nós dois temos nossas próprias vidas para viver. Não podemos ficar amarrados para sempre."
"Que pena", disse Júlia. "Eu sempre pensei que ele era seu namorado. Vocês dois ficavam tão bem juntos."
O coração de Alice ficou úmido. Os laços entre as pessoas eram predestinados. Ela e Heitor seriam apenas tutor e tutelada, nada mais.
Quando a festa acabou, ela viu Heitor e Clara esperando por ela do lado de fora.
"É madrugada e você ainda não está em casa. Você está ficando cada vez mais rebelde", repreendeu Heitor.
Clara o repreendeu gentilmente, depois sorriu para Alice. "Você tem ele para te proteger agora, e terá um namorado para te proteger no futuro. Vamos para casa juntos."
Alice os seguiu, com os olhos baixos. Começou a chover novamente.
Heitor segurava um guarda-chuva sobre Clara, inclinando-o em direção a ela, sua própria camisa ficando encharcada de um lado.
Alice se lembrou de como ele costumava segurar o guarda-chuva para ela, sempre inclinando-o em sua direção. Ele costumava dizer que ela era uma rosa delicadamente criada que não podia se molhar.
Gotas de chuva caíam em seu vestido branco, trazendo um arrepio com elas.
Ela voltou a si e caminhou sozinha na chuva.
Uma rosa não pode se molhar, mas ela seria seu próprio girassol, sempre brilhante e radiante.