A mente de Alice ficou em branco.
A cena com que ela sonhara inúmeras vezes estava acontecendo de verdade.
A mão áspera de Heitor moveu-se para o peito dela. Ela se encolheu como se tivesse levado um choque elétrico, lutando para afastá-lo.
"Heitor!", ela gritou, mas sua carícia só se tornou mais insistente.
"Clara, seja boazinha", ele murmurou, a voz grossa de desejo. As palavras foram como um trovão em seus ouvidos.
Ele a estava confundindo com Clara.
Ele a carregou para o quarto dela e a empurrou para a cama. O choque a trouxe de volta aos seus sentidos.
"Eu sou a Alice!", ela gritou, a voz rouca de angústia. "Não sou a Clara!"
Heitor congelou. Ele a olhou com olhos bêbados, depois a puxou para seus braços, segurando-a com força, mas não fez mais nenhum movimento.
Ela tentou se levantar, mas sua voz rouca a deteve. "Não vá."
Ele estava pedindo para ela ficar, ou para a mulher que ele pensava que ela era?
Ele fechou os olhos e adormeceu. Ela se sentiu impotente, incapaz de escapar da prisão de seus braços.
Sua cabeça latejava, e o cansaço finalmente a venceu.
Na manhã seguinte, ela abriu os olhos para ver Heitor de pé ao lado da cama, olhando para ela com uma expressão indecifrável.
"Por que você está na minha cama?", ele exigiu.
O rosto de Alice ficou vermelho. Ela queria explicar, mas ele a interrompeu.
"Não me importa o que você estava pensando", ele cuspiu, a voz cheia de decepção e nojo. "Se isso acontecer de novo, pode fazer suas malas e se mudar para o dormitório para sempre."
Ela engoliu todas as suas explicações e simplesmente pediu desculpas. Mesmo que contasse a verdade, ele não acreditaria nela.
Mais cinco dias. Então ela estaria em São Paulo, e desapareceria do mundo dele para sempre.
Ela se levantou e puxou suas roupas desgrenhadas firmemente ao redor de si enquanto saía do quarto.
Assim que abriu a porta, encontrou Clara subindo as escadas.
Os olhos de Clara se arregalaram em choque. "Por que você está saindo do quarto do Heitor?"
O rosto de Alice ficou pálido. Ela evitou o olhar de Clara e fugiu de volta para seu próprio quarto.
Clara a seguiu, seus olhos afiados e perscrutadores. "O que você fez com o Heitor?"
Ela a acusou: "Sua vadia sem vergonha. Você subiu na cama dele enquanto ele estava bêbado."
A cabeça de Alice estava baixa. Qualquer explicação parecia fraca.
"Nem tente negar", retrucou Clara. "Nós brigamos, e você viu sua chance, não foi?"
Ela a avisou: "Se você fizer algo tão nojento de novo, vou garantir que você seja expulsa desta casa para sempre." Ela bateu a porta e saiu.
Alice deslizou pela parede, toda a força drenada de seu corpo.
As acusações de Heitor e os avisos de Clara pareciam uma mão invisível, apertando seu coração.
Lágrimas grossas rolaram por suas bochechas. As emoções que ela suprimiu por tanto tempo finalmente explodiram. Ela cobriu a boca e soluçou.