Sua proteção não era para mim. Era para ele mesmo. Para sua reputação. Ele estava gerenciando uma crise, não lamentando nossa perda.
Cravei as unhas nas palmas das mãos, a picada aguda uma distração bem-vinda da ferida aberta em minha alma. Eu tremia incontrolavelmente, uma tempestade de luto e raiva se formando dentro de mim até que pensei que iria quebrar.
Quando ele finalmente entrou no quarto, seu rosto era uma máscara cuidadosamente construída de tristeza. "Bela... sinto muito."
Ele estendeu a mão para a minha, mas eu a afastei. Virei o rosto para a parede, recusando-me a olhá-lo, recusando-me a deixá-lo ver a devastação que ele havia causado.
Ele sentou-se ao lado da minha cama por horas, tentando me fazer falar. Ele prometeu punir Helena, mandá-la embora com o menino. Palavras vazias. Eu não acreditei em uma única. Meu coração era uma coisa morta em meu peito.
Nos dias que se seguiram, ele tentou me reconquistar com grandes gestos. Ele, Gustavo Almeida, um homem que nunca esperava por nada, ficou na fila por duas horas para me comprar um cronut de uma padaria da moda porque me ouviu mencioná-lo uma vez. Ele organizou uma queima de fogos particular sobre a Ponte Estaiada, só para mim. Ele me comprou um colar de diamantes tão pesado que parecia uma coleira.
Ele me olhava com aqueles olhos castanhos e expressivos, cheios do que ele provavelmente pensava ser amor. Mas eu não sentia nada. A parte de mim que o amava se foi, arrancada e descartada em um chão frio de hospital.
No dia em que recebi alta, ele me levou a um leilão de arte badalado.
"Uma pequena distração", ele disse, sorrindo. "Para tirar sua mente das coisas."
Ele então comprou todos os lotes que foram a leilão. Arte, joias, manuscritos raros. Ele levantava sua raquete de novo e de novo, um rei concedendo tesouros à sua rainha quebrada. O salão zumbia com sussurros.
"Olha o quanto ele a adora."
"Ele faria qualquer coisa por ela."
Os sussurros eram como insetos rastejando na minha pele. Eu não aguentava. Pedi licença, murmurando algo sobre precisar de ar, e fui ao banheiro feminino. Joguei água fria no rosto, tentando respirar.
Foi quando ouvi os sons de uma das cabines trancadas. Uma risadinha baixa, seguida pelo gemido de um homem. Era o gemido dele. Eu o conhecia tão bem quanto meu próprio nome.
Espiei pela pequena fresta entre a porta da cabine e o batente. Eram eles. Gustavo e Helena. Ele a tinha pressionada contra a parede, o vestido dela levantado até a cintura.
"Você é tão imprudente", ele murmurou, a voz grossa de desejo. "Alguém pode entrar."
"Deixe que entrem", ela ronronou. "Eu quero que entrem. Quero que todos saibam que você é meu."
Recuei como se tivesse sido atingida. Uma onda de náusea tão poderosa que dobrou meus joelhos. Corri do banheiro, com a mão sobre a boca. Consegui mandar uma mensagem para ele – "Sentindo-me mal, indo para casa" – antes de fugir do prédio.
Eu estava na metade do quarteirão quando os alarmes de incêndio soaram. Fumaça começou a sair das janelas superiores da casa de leilões. As pessoas gritavam, correndo para a rua. O pânico explodiu.
Olhei para trás, procurando por Gustavo na multidão. Chamei seu nome, minha voz perdida no caos. Então eu o vi. Ele emergiu de uma entrada lateral, seu braço envolvendo protetoramente Helena. Ele a estava levando para longe do perigo, seu rosto uma máscara de determinação sombria. Ele nem mesmo me procurou.
Meu coração não apenas se partiu. Virou pó. A multidão avançou, uma onda de corpos aterrorizados, e fui derrubada. Caí no asfalto, o mundo girando em um vórtice de sirenes e gritos.
Eu vou te proteger. Sua promessa ecoou em minha mente enquanto a escuridão se aproximava.
Acordei em uma cama de hospital. De novo. Desta vez, Gustavo estava ao meu lado, passando um pano frio na minha testa.
"Bela, graças a Deus", ele disse, a voz embargada de alívio. "Quando o incêndio começou, não consegui te encontrar. Fiquei tão assustado."
A mentira era tão fácil, tão suave, que quase tive que admirá-la.
"Você me deixou", eu disse, minha voz monótona e morta. "Eu vi você. Você a salvou."
Seu rosto empalideceu. "Não, Bela, você está confusa. A fumaça... você deve ter imaginado." Ele se ajoelhou ao lado da minha cama, seus olhos suplicantes. "Eu juro a você, eu estava procurando por você. Apenas por você."
Eu ri, um som seco e sem humor. "Helena e o menino. Eu os quero longe. Fora do país. Nunca mais quero vê-los." Era um teste. Um teste final e desesperado.
Seu sorriso congelou. A máscara rachou. "Bela, não posso fazer isso. Não seria certo. Helena não tem nada. João Pedro é apenas uma criança. Eu tenho que... eu tenho uma responsabilidade com eles. É a minha maneira de me redimir pelos meus pecados."
Redimir-se. Ele estava usando seu caso, sua família secreta, como uma forma distorcida de penitência. E esperava-se que eu aceitasse.
Fechei os olhos, uma única lágrima quente escapando e traçando um caminho pela minha têmpora. Estava acabado. O que quer que restasse entre nós, qualquer caco microscópico de esperança ao qual eu havia me agarrado, havia desaparecido.
Na noite seguinte, fui acordada por uma dor aguda no braço. Uma enfermeira estava inserindo uma agulha. Eu estava em um quarto diferente, um espaço clínico e frio que cheirava a sangue.
"O que está acontecendo?", perguntei, lutando contra as mãos que me seguravam.
Gustavo estava lá, seu rosto sombrio. "João Pedro sofreu um acidente. Ele perdeu muito sangue. Ele precisa de uma transfusão. Vocês têm o mesmo tipo sanguíneo."