Seu Amor Venenoso, Minha Fuga
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Capítulo 3

Escuridão.

Essa foi a primeira coisa que Alana registrou enquanto a consciência retornava lentamente. Uma escuridão densa e sufocante que a pressionava de todos os lados.

Ela tentou mover as mãos, mas estavam amarradas firmemente atrás das costas. Seus tornozelos também estavam amarrados.

Uma voz familiar cortou o silêncio, tingida de uma decepção cansada que fez sua pele arrepiar.

"Alana, Alana. Por que você tem que tornar isso tão difícil? Eu te disse para não machucar a Joyce."

Era Arthur.

"Eu disse que acredito em você", ele continuou, sua voz ecoando no espaço pequeno e escuro. "Mas ações têm consequências. Você tem que aprender isso."

Ela se debateu contra as amarras, um grito silencioso preso na garganta. A corda áspera cortava seus pulsos.

"Agora", a voz de Arthur comandou de algum lugar fora de sua linha de visão, "prosseguiremos com a punição número noventa e sete."

Ele nem estava na sala. Estava assistindo, ouvindo de outro lugar.

Uma luz súbita e ofuscante inundou o espaço, e uma máquina zumbiu para a vida. Duas garras de metal dispararam, agarrando sua mão esquerda já estilhaçada e prendendo-a a uma mesa de aço.

"Isso é pela dor da Joyce", a voz de Arthur anunciou, desprovida de toda emoção.

Uma broca desceu do teto, sua ponta brilhando sob a luz forte. Ela girava cada vez mais rápido, um zumbido agudo que perfurava sua própria alma.

Ela desceu em direção ao seu dedo indicador.

Alana mordeu o próprio lábio com força, o gosto metálico de sangue inundando sua boca, qualquer coisa para não gritar. A dor era excruciante, um universo de agonia explodindo em sua mão. Ela sentiu a broca ranger contra o osso.

A próxima coisa que soube foi que estava acordando em um quarto de hospital. Não um hospital público, mas a ala médica particular de Arthur em sua mansão.

O ar cheirava a antisséptico e lírios.

Através da névoa dos analgésicos, ela ouviu vozes do lado de fora de sua porta. Arthur e um médico.

"O soro de regeneração nervosa está pronto", disse o médico. "Mas só há uma dose disponível este mês. A Srta. Cummings também precisa para o corte no braço."

O coração de Alana gelou.

"Dê para a Joyce", disse Arthur sem um momento de hesitação. "A lesão dela, embora menor, foi causada pela agressão de Alana. Isso servirá como um lembrete para minha esposa. Deixe que a dor dela lhe ensine uma lição."

Uma lição. Ele havia destruído a mão dela e estava chamando isso de lição. Ele ainda acreditava em Joyce. Suas palavras de confiança no quarto não passaram de um prelúdio para essa tortura.

Um pequeno som involuntário escapou de seus lábios, um gemido de puro desespero.

A porta se abriu com um estrondo.

Arthur correu para o lado dela, seu rosto uma imagem perfeita de preocupação amorosa.

"Meu amor, você está acordada", ele sussurrou, estendendo a mão para ela. "Você me assustou."

Ele a viu se encolher ao seu toque.

"O que há de errado?", ele perguntou, a testa franzida. "Você ainda está com raiva de mim?"

Ele se ajoelhou ao lado da cama dela, seus olhos suplicantes. "Eu sei que você está chateada. Mas você não pode continuar machucando a Joyce. Ela é inocente. Ela é frágil. Você quase a fez ter um ataque cardíaco."

Alana o encarou, o puro absurdo de suas palavras sugando o ar de seus pulmões.

"Minha mão, Arthur", ela sussurrou, a voz um arranhão rouco. "Você está preocupado com os sentimentos da Joyce, mas e a minha mão?"

Uma sombra de culpa cruzou seu rosto. Ele olhou para baixo, incapaz de encontrar seus olhos.

"Foi necessário", disse ele em voz baixa. "Para te ensinar."

Então ele fez algo que revirou seu estômago. Ele tirou uma pequena faca afiada do bolso, do tipo que usava para abrir cartas.

Ele passou a lâmina pela própria palma da mão, um corte profundo e limpo. O sangue brotou, pingando no chão branco e imaculado.

"Vê?", disse ele, seus olhos selvagens com uma espécie de dor distorcida. "Eu também estou sofrendo, Alana. Sua dor é a minha dor. Me perdoe. Por favor, me perdoe."

Ela se lembrou dele fazendo isso antes. Era sua tática de manipulação final. Quando suas punições iam longe demais, quando ele via a luz nos olhos dela começar a diminuir, ele se machucava. Uma forma de compartilhar a dor, de provar que seu amor era real, um ato de penitência desequilibrado para puxá-la de volta da beira do abismo.

Tinha funcionado antes. Ela havia chorado, cuidado de seus ferimentos e acreditado em seu remorso.

Não mais. Ela via o ato pelo que era: uma performance. Uma forma de controlá-la, de fazê-la se sentir culpada por sua própria crueldade.

"Estou cansada", disse ela, a voz plana e vazia. "Quero dormir."

Ele pareceu magoado com a frieza dela, mas assentiu. "Claro, meu amor. Descanse. Estarei bem aqui."

Ele puxou uma cadeira para o lado da cama e se recusou a sair, apesar dos protestos das enfermeiras. Ele ficou ali por dois dias, observando-a, às vezes falando com ela em tons baixos e amorosos, recontando suas memórias mais felizes.

Ele a alimentou, a banhou e cuidou de seus ferimentos com uma gentileza que era absolutamente aterrorizante em seu contraste com sua violência.

Uma das enfermeiras suspirou sonhadoramente enquanto trocava o soro de Alana. "O Sr. Bernardes te ama tanto. Nunca vi um marido tão dedicado."

Alana quis rir. Se elas soubessem.

No terceiro dia, ela ouviu um choro suave vindo do corredor.

Era Joyce. Ela estava parada do lado de fora da porta, falando com Arthur.

"Arthur, eu te amo", Joyce sussurrou, a voz embargada por lágrimas falsas. "Eu sei que ela é sua esposa, mas você sabe como eu me sinto."

O sangue de Alana gelou. Ela se ergueu um pouco, o coração batendo forte.

Pela fresta da porta, ela viu.

Arthur, seu marido dedicado e amoroso, puxou Joyce para um abraço.

Ele olhou nervosamente para o quarto de Alana, certificando-se de que ela ainda estava "dormindo".

Então, ele se inclinou e beijou Joyce.

Não foi um selinho de consolo na bochecha. Foi um beijo profundo e apaixonado, um que falava de um segredo feio e compartilhado.

Alana sentiu o último pedaço de seu coração virar pó.

Sua aliança de casamento parecia uma marca de ferro em seu dedo. Com a mão boa, ela, lenta e deliberadamente, a tirou. Foi uma luta, seus dedos inchados pelo soro.

Ela segurou o anel de diamante, o símbolo de seu "amor eterno", e o jogou na lixeira de metal ao lado de sua cama.

Ele caiu com um clique suave e final.

Arthur escolheu aquele momento para voltar. Ele viu o espaço vazio em seu dedo, depois seus olhos correram para a lixeira.

Ele viu o anel.

            
            

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