"Devo ter perdido quando estavam trocando meus curativos", disse ela, a voz desprovida de emoção. "Está frouxo."
A mentira era frágil, mas ele se agarrou a ela como um homem se afogando. O alívio inundou suas feições, tão potente que era nauseante.
"Ah. Ok. Claro", ele gaguejou. "Vamos ajustá-lo imediatamente. Trarei um joalheiro aqui em uma hora."
Dois dias depois, assim que ela recebeu alta da ala médica, ele insistiu em levá-la para sair. Uma turnê de desculpas.
Ele a levou para a Rua Oscar Freire, um lugar que ela detestava. Ele a exibiu por uma série de butiques extravagantemente caras, comprando coisas que ela não queria, sua demonstração pública de afeto a sufocando.
"O que minha rainha quiser, minha rainha tem", ele anunciou em voz alta em uma joalheria, atraindo a atenção de outros clientes.
Ele comprou para ela um colar de diamantes tão pesado que parecia uma coleira.
"Ele não é o máximo?", uma mulher sussurrou para sua amiga. "Um sonho de homem. Ele a idolatra."
Alana não sentiu nada. Os presentes eram apenas correntes de ouro. Os elogios eram um lembrete de seu isolamento.
Então, ela viu. Na vitrine de uma pequena e exclusiva casa de leilões. Um medalhão de prata, manchado pelo tempo.
Era de sua mãe.
Tinha sido vendido com o resto dos pertences de sua mãe por seu pai depois que ele se casou novamente. Vê-lo agora foi como um soco no estômago.
"Eu quero aquilo", disse ela, a voz tensa.
Arthur, emocionado com sua primeira demonstração de interesse, imediatamente providenciou uma exibição particular.
O lance inicial era alto, mas administrável. Alana estava determinada a recuperá-lo.
Quando o leilão começou, uma nova voz se juntou, aumentando o preço.
Era Joyce. Ela estava sentada do outro lado da sala, um olhar presunçoso no rosto, deliberadamente dando lances contra Alana.
"Joyce, pare com isso", Alana disse entre dentes.
Joyce apenas sorriu.
"Arthur", Alana implorou, virando-se para ele. "Diga a ela para parar. Era da minha mãe."
Arthur parecia dividido. Ele olhou do rosto desesperado de Alana para o rosto emburrado de Joyce.
"Meu amor", disse ele suavemente, colocando a mão no braço de Alana. "É apenas uma joia. Deixe-a ficar. Eu compro algo ainda melhor para você."
A traição atingiu Alana com mais força do que qualquer golpe físico. Ele estava escolhendo Joyce. De novo. Em detrimento da memória de sua mãe.
"Não", disse Alana, a voz tremendo de raiva. Ela se virou para o leiloeiro. "Um milhão de reais."
A sala ficou em silêncio. Joyce a encarou, chocada.
"Vendido!", declarou o leiloeiro.
Alana havia vencido. Uma vitória pequena e vazia.
Joyce caiu no choro e saiu correndo da sala, fazendo o papel de vítima mais uma vez.
Arthur começou a ir atrás dela, mas Alana agarrou seu braço. "Você não vai a lugar nenhum comigo, Arthur."
Ele hesitou, depois suspirou. "Tudo bem. Vou pegar o medalhão para você. Espere por mim no carro."
Ele se afastou. Alana o observou ir e, por um impulso sombrio, o seguiu.
Ela o encontrou em um corredor isolado nos fundos da casa de leilões. Ele estava com Joyce.
Ele não a estava repreendendo. Estava a confortando, acariciando seu cabelo, de costas para Alana.
"Está tudo bem, minha querida", ele murmurava. "Não chore. Vou te dar outro, um melhor."
"Mas eu queria aquele", Joyce choramingou. "Eu queria tirar mais uma coisa dela."
"Eu sei, eu sei", Arthur acalmou. "Vamos encontrar outra maneira de puni-la por isso. Eu prometo. Não vou deixar que ela te aborreça."
O coração de Alana parecia estar sendo espremido em um torno. Ela não conseguia respirar. Virou-se e fugiu, tropeçando no ar frio da noite.
Ela correu sem saber para onde estava indo, as luzes da cidade se confundindo através de suas lágrimas.
Seu celular vibrou. Uma mensagem de Arthur.
"Estou com o medalhão. Desculpe a demora. Me encontre no estacionamento oeste, nível 3. Tenho uma surpresa para você."
Uma surpresa. Ela sabia o que isso significava. Punição número noventa e oito.
Ela caminhou em direção ao estacionamento, um torpor se instalando sobre ela.
Encontrou o carro dele, o motor zumbindo silenciosamente. Quando estendeu a mão para a maçaneta da porta, dois homens a agarraram das sombras.
Eles não falaram. Apenas começaram a bater nela. Socando seu estômago, suas costas. Um deles chutou suas pernas por baixo. Ela caiu com força no concreto.
A dor era imensa, mas a agonia emocional era pior.
"Isso é por perturbar a Srta. Cummings", um dos homens grunhiu, desferindo um último e brutal chute em suas costelas.
Ela ouviu um estalo.
Eles a deixaram lá, amassada e quebrada no chão frio e manchado de óleo.
Seu celular vibrou novamente. Era Joyce.
Uma foto do medalhão de prata, esmagado em pedaços. O texto abaixo dizia: "Ele manda um oi. Ah, e o papai vai dar um jantar de família hoje à noite. É melhor você estar lá."
Alana encarou a imagem estilhaçada do medalhão de sua mãe. Algo dentro dela se quebrou.
Ela se levantou, ignorando a dor lancinante em suas costelas. Tinha que ir àquele jantar. Tinha que pegar o que restava do medalhão.
Foi uma caminhada longa e agonizante até a casa de seu pai. Cada passo era uma nova onda de dor. Mas ela continuou.