A casa da família Menezes estava em chamas com luzes e risadas. Um quadro familiar perfeito.
Joyce era o centro das atenções, é claro, entretendo os convidados com alguma história inventada, parecendo radiante e intocada.
Alana, por outro lado, estava um caos. Suas roupas estavam rasgadas e sujas, seu cabelo emaranhado de sujeira, e ela podia sentir um fio de sangue de um corte na testa.
No momento em que seu pai, Roberto Menezes, a viu, seu rosto se contorceu em nojo.
"O que você está fazendo aqui, com essa aparência?", ele sibilou, agarrando seu braço. "Você é uma vergonha."
"Eu vim pelo medalhão da minha mãe", disse Alana, a voz impassível.
"Saia", ordenou seu pai. "Você não é bem-vinda aqui."
Ela se lembrou de um tempo em que ele teria movido montanhas por ela. Antes de sua mãe morrer. Antes de ele decidir que seu único valor estava no que ela poderia proporcionar para sua posição social.
A dor em seu coração era mais aguda que a dor em suas costelas. Ela passou por ele, seus olhos percorrendo a sala.
"Joyce", disse ela, sua voz ressoando no silêncio repentino. "Me dê o medalhão."
Joyce, fingindo inocência, ergueu uma pequena bolsa de veludo. "Aqui está, irmãzinha. Sinto muito pelo que aconteceu com ele."
Ela balançou a bolsa e, assim que Alana estendeu a mão para pegá-la, Joyce a deixou cair.
Os pedaços quebrados de prata e a pequena foto desbotada de sua mãe se espalharam pelo chão.
Algo estalou em Alana.
Ela deu um tapa no rosto de Joyce, o som ecoando pela sala atônita.
A mãe de Joyce, Diana, gritou e empurrou Alana com força. "Sua monstra! Como ousa tocar na minha filha!"
Alana cambaleou para trás, sua costela quebrada gritando em protesto. Ela caiu em uma grande exibição decorativa de esculturas de vidro. Cacos de vidro choveram sobre ela, cortando seus braços e pernas.
Ninguém se moveu para ajudá-la. Todos correram para Joyce, mimando a marca vermelha em sua bochecha.
"Tranquem-na no porão!", seu pai rugiu para os funcionários da casa. "Não quero ver o rosto dela de novo esta noite!"
Dois seguranças agarraram seus braços, seus apertos como ferro. Eles a arrastaram, seus pés raspando no chão.
Enquanto passavam pela porta da frente, um entregador chegou com um enorme buquê de hortênsias azuis, as favoritas de Alana.
O cartão era endereçado a Joyce.
"Para aquela que realmente importa. - A."
A promessa que Arthur fizera a ela no dia do casamento, de encher a casa deles com hortênsias azuis toda semana, era agora outro presente para Joyce.
Eles a jogaram no porão escuro e mofado e trancaram a porta.
A escuridão era total. Cheirava a terra úmida e decadência.
Ela bateu na porta, gritando até sua garganta ficar em carne viva, mas ninguém veio.
O espaço confinado desencadeou uma memória que ela havia suprimido por muito tempo. O sequestro. Estar trancada no porta-malas daquele carro, o cheiro de gasolina, o medo sufocante.
O pânico a dominou. Seu coração martelava contra as costelas, e ela não conseguia respirar. Enrolou-se em uma bola no chão de concreto frio, tremendo incontrolavelmente.
De repente, a porta do porão se abriu com um estrondo.
Uma figura se destacava contra a luz do corredor.
Era Arthur.
Ele a pegou nos braços, segurando-a com força contra o peito.
"Alana, estou aqui. Sinto muito. Vim assim que soube."
Em seu estado de pânico e desorientação, sua mente voltou àquele dia, quinze anos atrás. Ao menino que ela tirou dos destroços.
"Stellan", ela sussurrou, usando o apelido que lhe dera naquele dia. Significava 'estrela' em uma língua que sua mãe lhe ensinara.
Arthur congelou. Seus braços ficaram rígidos ao redor dela.
Ele se afastou, seus olhos arregalados de choque.
"Como você me chamou?", ele perguntou, a voz um sussurro tenso. "Como você sabe esse nome?"