"Aurora," ele disse, com uma expressão de surpresa no rosto. "Eu estava vindo te procurar. Precisamos conversar."
Ele me guiou de volta para o apartamento, sua mão nas minhas costas enviando um choque de repulsa através de mim. Ele me levou para o sofá da sala, sua expressão séria e sombria.
"Eu tenho que ser honesto com você," ele começou, sua voz baixa e conspiratória. "Meus pais... eles estão me pressionando. Sobre não termos um filho. Eles estão ameaçando me cortar se eu não produzir um herdeiro."
Eu o encarei, minha mente tentando processar essa nova mentira.
"Eles querem que eu me divorcie de você," ele continuou, seus olhos cheios de falsa angústia. "Eles já escolheram uma nova noiva para mim. Mas é só para inglês ver, eu juro. Nós nos divorciaremos, eu lidarei com eles, e então podemos nos casar de novo. Eu nunca te deixaria, Aurora. Você sabe disso."
Fiquei tão atordoada com a audácia de sua mentira que não consegui falar. Ele ainda estava me manipulando. Ele realmente achava que eu era estúpida o suficiente para acreditar nisso.
Eu olhei para ele, realmente olhei para ele. Heitor Fischer era um predador. Ele era charmoso, sim, mas por baixo de tudo, era impiedoso e presunçoso. Ele sempre conseguia o que queria, e não se importava com quem tivesse que esmagar para conseguir.
Ele deve ter confundido meu silêncio com angústia. Ele se aproximou, pegando minhas mãos nas suas.
"Eu juro, Aurora, fui completamente fiel a você," ele disse, sua voz um veneno adocicado. "Se eu estiver mentindo, que um raio me atinja e que eu morra uma morte horrível."
O voto era tão ridículo, tão completamente falso, que uma risada borbulhou dentro de mim. Eu a engoli.
"E para provar a você," ele acrescentou, seus olhos sérios, "farei uma vasectomia. Podemos adotar mais tarde, quando meus pais saírem do meu pé. Eu só quero você."
Uma vasectomia. O homem que mandou matar nosso filho agora prometia fazer uma vasectomia para provar seu amor. A ironia era sufocante.
Mas o plano dele era perfeito para mim. Um divórcio era exatamente o que eu queria.
"Quem seus pais escolheram?" perguntei, minha voz cuidadosamente neutra.
Ele hesitou por uma fração de segundo. "Alana David."
Claro. Tudo estava se encaixando.
Dei a ele um sorriso pequeno e aliviado. Deixei que ele visse as lágrimas brotando em meus olhos, as lágrimas de uma esposa grata e confiante.
"Ok, Heitor," sussurrei. "Se é isso que temos que fazer."
Tirei o acordo de divórcio da minha bolsa e assinei com um floreio, minha assinatura raivosa anterior agora substituída por uma limpa e nítida. Deslizei-o pela mesa de centro até ele.
"Isso é para o melhor," eu disse.
Ele pareceu aliviado, um brilho triunfante em seus olhos. Ele achava que me tinha.
Observei-o assinar, um gosto amargo na boca. Pensei nos últimos cinco anos. As visitas intermináveis a médicos de fertilidade. A maneira como seus pais me olhavam com decepção toda vez que eu não conseguia engravidar. Os sussurros pelas minhas costas em reuniões de família.
Lembrei-me de uma noite, alguns anos atrás. Heitor chegou em casa tarde, cheirando ao perfume de outra mulher. Encontrei um cartão de hotel no bolso dele. Escrevi um acordo de divórcio naquela época também. Estava pronta para ir embora, para sair com minha dignidade.
Mas alguém estava com o celular dele. Me enviaram uma mensagem, uma foto dele e de Alana em um quarto de hotel, fingindo que estava acontecendo naquele momento. Eles me atraíram para lá. Fui, com o coração na garganta, mas não consegui abrir a porta.
Quando me virei para sair, um corpo caiu da varanda de cima, aterrissando a poucos metros de mim. O choque, o respingo de sangue, me fez tropeçar para trás. Caí, batendo a cabeça no chão. Heitor saiu correndo, não para ajudar a pessoa que caiu, mas para rir de mim por ser desajeitada. Ele me pegou no colo, me levou para casa e rasgou os papéis do divórcio.
Ele já estava com Alana naquela época. Ele a manteve escondida, provavelmente naquele mesmo templo na montanha, por anos. E eu nunca soube. Ele me fez de boba desde o início.
Heitor se inclinou e beijou minha testa, seus lábios frios contra minha pele. "Não se preocupe," ele murmurou. "Tenho uma surpresa para você no nosso aniversário. Vai melhorar tudo."
Eu sabia qual era a surpresa. A humilhação pública. O vídeo.
Eu me afastei, um sorriso frio no rosto.
"Eu também tenho uma surpresa para você, Heitor," eu disse.
Seus olhos se arregalaram ligeiramente, intrigados.
"Acho que você vai gostar," acrescentei.
Ele apenas sorriu, confiante e presunçoso. Ele não tinha ideia do que estava por vir.