E então, o murmúrio grave de Ethan.
O sangue de Ava gelou. Maya agarrou seu braço. "Não."
Mas Ava não conseguiu se conter. Deu um passo à frente, espiando na penumbra.
Ethan prensava Chloe contra a parede de tijolos, as mãos por baixo do vestido dela.
Estavam alheios a tudo, perdidos em sua exibição pública de um desejo privado.
Ava sentiu um enjoo. Não era ciúme, era apenas... nojo. O mais puro e descarado desrespeito.
Ela fechou as mãos com força, as unhas cravando nas palmas, e então se virou.
Vamos embora, disse a Maya, com a voz tensa.
Um carro parou. O carro de Ethan.
Ele estava ao volante e Chloe, no banco do passageiro, com o vestido levemente desalinhado e o batom borrado.
Querem uma carona?, Ethan chamou, a voz casual, como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse acabado de amassar a nova namorada contra uma parede imunda.
Maya começou a recusar, mas Ava surpreendeu as duas.
Claro, disse Ava, abrindo a porta de trás. "Obrigada."
Maya lhe lançou um olhar confuso. Ava apenas fez um pequeno, quase imperceptível, aceno de cabeça.
Precisava ver aquilo até o fim. Precisava de cada gota de repulsa para alimentar sua fuga.
A viagem foi tensa. Chloe tagarelava sobre a arte, sobre uma festa de influenciadores à qual iria na semana seguinte. Ethan dirigia, seus olhos encontrando os de Ava no retrovisor de vez em quando. Havia um brilho estranho neles.
Então, Ava, disse Ethan, em um tom suave demais, "a Chloe me disse que você é designer gráfica. Freelancer, não é? Deve ser difícil conseguir clientes."
Eu me viro, respondeu Ava.
Pois é, mas a startup do Ethan está bombando, interveio Chloe. "Ele vai estourar."
Estamos indo bem, disse Ethan, com um sorriso arrogante. Ele adorava os elogios.
Então, seu tom mudou. "Sabe, Ava, é engraçado. Eu estava pensando... antes dessa história de amnésia... a gente era feliz? Ou as coisas... já estavam tensas?"
Ava encontrou os olhos dele no espelho. "O que você acha, Ethan?"
Ele riu. "Esse é o problema. Eu não lembro."
De repente, o carro desviou bruscamente.
Ava foi arremessada para a frente, tentando se segurar.
Um estrondo terrível de metal. O guincho de pneus.
Tinham batido em algo. Ou algo bateu neles.
A cabeça de Ava foi jogada para trás e depois para a frente, colidindo com o banco dianteiro. A dor explodiu atrás de seus olhos.
Escuridão. Depois, luzes borradas.
Gritos. Sirenes.
A cabeça de Ava latejava. Sentia o gosto de sangue na boca.
Estava caída no banco de trás. Ethan gemia na frente. Chloe gritava.
Minha perna! Meu Deus, minha perna!
Os paramédicos surgiram, abrindo as portas com força.
Senhora, você está bem?, um deles perguntou a Ava.
Minha cabeça, ela conseguiu dizer. "E meu... meu braço." Uma dor aguda atravessou seu braço esquerdo quando tentou movê-lo.
Estavam retirando Ethan do carro. Ele parecia atordoado.
Chloe ainda se lamentava por causa da perna.
Um paramédico examinava Ava. "Possível concussão. Precisamos imobilizar seu braço."
Outro paramédico estava com Ethan. "Senhor, pode me dizer o que aconteceu?"
Eu... eu não sei, gaguejou Ethan. "O outro carro... apareceu do nada."
Colocaram Ethan em uma prancha de imobilização. Chloe estava em outra, ainda chorando.
Só havia duas ambulâncias.
Precisamos priorizar!, gritou um dos paramédicos em meio ao caos.
Ava tentou se sentar. "Por favor", disse, com a voz fraca. "Meu braço... acho que quebrou. E minha cabeça..."
Ethan, de sua prancha, olhou para ela. Seus olhos estavam arregalados, assustados.
Então ele olhou para Chloe, que agora soluçava histericamente.
Levem a Chloe primeiro!, Ethan gritou, a voz surpreendentemente firme. "A perna dela parece muito ruim! Ela precisa de ajuda agora!"
Os paramédicos trocaram um olhar.
Senhor, nós fazemos a triagem com base em...
Não! Levem ela!, insistiu Ethan. "Por favor! Ela está... ela está muito machucada."
Ava observou, um nó gelado se formando em seu estômago.
Ele estava escolhendo. Publicamente.
O paramédico que a atendia suspirou. "Certo. Vamos levar a passageira da frente e o motorista. Chamaremos outra unidade para a senhora, mas pode demorar um pouco."
Ava encarou Ethan, mas ele evitou seu olhar.
Ele escolheu Chloe. Em vez dela. Mesmo agora.
As portas da ambulância se fecharam com um baque. As sirenes uivaram, desaparecendo à distância.
Deixaram Ava para trás, sozinha nos destroços, esperando.
A dor em seu braço era insuportável. Mas não era nada comparada à certeza fria e implacável em seu coração.
Era aquilo. O fim absoluto.