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O mundo do lado de fora da porta do meu quarto de hospital era uma tempestade de atividade. Franco havia chegado, e com ele, toda a força de sua persona pública. Ele chorou ao meu lado, seu rosto bonito marcado por uma convincente demonstração de dor e angústia. Ele segurou minha mão, seu toque agora parecendo uma marca de ferro em brasa.
"Minha Elisa", ele murmurou, a voz embargada de emoção para que as enfermeiras e os médicos ouvissem. "Quem fez isso com você? Eu vou encontrá-los. Eu juro, vou fazê-los pagar."
As enfermeiras o olhavam com adoração. "Vocês dois são tão apaixonados", suspirou uma delas. "Ela tem muita sorte de ter você."
Eu fiquei imóvel, meu rosto uma máscara em branco. Por dentro, eu era um deserto congelado. A mulher que amou este homem estava morta, assassinada no porta-malas de um carro e sangrou até a morte no chão de um hospital. A pessoa que restou era uma estranha, até para mim.
Eu olhei para ele, olhei de verdade, pela primeira vez. O marido perfeito. O visionário da tecnologia. O filantropo. Era tudo uma atuação. Uma performance meticulosamente elaborada para uma plateia de tolos. E eu tinha sido a maior tola de todas.
Meu olhar se desviou para o calendário na parede. Era nosso aniversário. O dia em que ele me pediu em casamento, cinco anos atrás. Ele provavelmente tinha acabado de vir de comemorar com sua família de verdade.
O pensamento me fez querer vomitar de novo. Ele ainda estava segurando minha mão, seu polegar acariciando meus nós dos dedos em um gesto que uma vez significou conforto. Agora, era apenas mais uma parte da mentira. Senti uma onda de repulsa física tão forte que tive que puxar minha mão.
Ele pareceu magoado, a testa franzida de preocupação. "Elisa? Você está com dor?"
"Estou cansada", eu disse, minha voz plana.
"Vou chamar o médico", ele disse, pulando para resolver o problema, para ser o herói.
Nesse momento, o celular dele vibrou. Uma mensagem de texto. Ele olhou, e um lampejo de irritação cruzou seu rosto. Ele tentou esconder, mas eu vi. Ele tentou silenciar o telefone, mas vibrou de novo. E de novo. Implacável.
Eu não precisava ver a tela para saber quem era. Karine. Sua amante selvagem e obsessiva. Chamando seu "papai" para voltar para casa.
Fechei os olhos, forçando-me a interpretar o papel que interpretei por cinco anos. A Elisa compreensiva, gentil e pura.
"Franco", eu disse suavemente. "Está tudo bem. Você deveria ir. O trabalho é importante."
Ele olhou para mim, seus olhos cheios de um conflito fabricado. "Eu não posso te deixar."
"Eu vou ficar bem", menti. "As enfermeiras estão aqui. Você tem uma empresa para administrar. Vá."
Ele hesitou por mais um momento, a imagem perfeita de um marido devotado dividido entre o amor e o dever. Então ele se inclinou e beijou minha testa. "Voltarei assim que puder. Vou deixar minha equipe de segurança na sua porta. Ninguém vai chegar perto de você."
Ele queria dizer que ninguém poderia entrar. Mas o que ele estava realmente fazendo era garantir que eu não pudesse sair.
Ele saiu, e o quarto ficou em silêncio. O silêncio era um cobertor pesado, me sufocando. Eu não sentia nada. Apenas uma vasta e vazia expansão onde meu coração costumava estar. O amor, a confiança, a esperança - tudo isso havia sido arrancado de mim, deixando nada além de uma casca oca.
Dispensei os seguranças que ele havia postado, dizendo que precisava descansar. Mandei as enfermeiras embora com um sorriso fraco. Eu precisava ficar sozinha.
Por um longo tempo, apenas encarei o teto. Eu estava à deriva, um fantasma na minha própria vida. Então, com uma clareza que cortou a névoa, eu soube o que tinha que fazer.
Peguei o celular descartável que a policial gentil havia me dado antes de sair.
Disquei o número que Caio me deu.