Meu Marido, Meu Inimigo
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Capítulo 5

O hospital se tornou meu santuário, uma fortaleza branca e estéril onde eu podia me esconder do "amor" sufocante de Franco. Ele me transferiu para uma ala particular, um lugar tão exclusivo que parecia mais um hotel de luxo. Ele estava punindo os "agressores" que contratou, fazendo um grande show de justiça para o público. Um homem estava na cadeia, um bandido de baixo escalão que assumiu a culpa, sua família agora financeiramente segura para o resto da vida.

Franco estava sempre lá, o marido sempre presente e de luto, seus olhos vermelhos do que o mundo via como noites sem dormir de preocupação. Eu via pelo que era: exaustão de conciliar duas vidas.

"A culpa é toda minha", ele sussurrava, enterrando o rosto em minhas mãos. "Eu deveria ter te protegido."

Ele era um ator fenomenal. Eu quase tinha que admirar a habilidade.

Uma noite, ele anunciou uma surpresa. "Um leilão de caridade", ele disse, seus olhos brilhando. "Para arrecadar dinheiro para vítimas de crimes violentos. Em sua homenagem, meu amor."

A hipocrisia era de tirar o fôlego.

Ele me fez ser vestida por uma equipe de estilistas, meus hematomas cuidadosamente escondidos sob camadas de maquiagem e seda. Ele me conduziu ao grande salão de baile do hotel mais caro da cidade, meu braço entrelaçado no dele. Éramos a imagem da resiliência e da devoção. Câmeras piscavam. As pessoas murmuravam suas simpatias e admiração.

O leilão foi um espetáculo de riqueza e poder. Franco estava em seu elemento, magnânimo e charmoso. Ele comprou tudo em que eu sequer olhei. Um colar de diamantes. Um carro esportivo antigo. Uma ilha particular. Cada compra era uma declaração pública de seu amor por mim, uma performance para a multidão bajuladora.

Ele se inclinava e sussurrava: "Há mais alguma coisa que você queira, minha Elisa? Qualquer coisa? Eu compraria a lua para você."

Eu não sentia nada além de uma dor fria e oca.

Ele se ajoelhou diante de mim no meio do salão do leilão, na frente de todos, para massagear meus pés, reclamando que deviam estar doloridos. Ele tirou o paletó de seu terno de milhares de reais e o colocou sobre minhas pernas, alegando que eu poderia estar com frio. A multidão suspirou em adoração coletiva.

Então, o item final foi trazido. Um deslumbrante colar de safiras e diamantes. 'O Coração do Mar'.

Minha respiração ficou presa na garganta. Era da minha mãe. A última joia dela, a única coisa que eu não consegui salvar após a morte dos meus pais. Tinha se perdido, vendido para pagar dívidas. Eu lamentei por anos.

O leilão começou. Foi acirrado. Mas Franco era implacável. Ele superou todos os lances, pagando uma quantia verdadeiramente obscena. O martelo bateu. Era dele. Era meu.

Um garçom trouxe a caixa de veludo para nossa mesa. Ao me apresentar, sua mão tremeu e a caixa escorregou. O colar caiu no chão.

O rosto de Franco se transformou em uma tempestade. "Seu tolo desajeitado!", ele rugiu, sua voz estalando como um chicote na sala subitamente silenciosa. A máscara havia caído. O filantropo charmoso se foi, substituído por um tirano frio e cruel.

O garçom, um jovem de não mais de vinte anos, empalideceu e caiu de joelhos, gaguejando desculpas.

"Tire-o da minha vista", Franco rosnou para sua segurança. "E certifique-se de que ele nunca mais trabalhe nesta cidade."

O leiloeiro tentou intervir, mas um olhar para o rosto de Franco e ele recuou.

Franco se virou para mim, sua expressão instantaneamente suavizando para uma de profundo amor. "Não se preocupe, meu amor. Vou te conseguir outro. Um melhor."

Eu apenas o encarei, minha mente girando. Então, ouvi um som vindo da direção dos banheiros. A voz de uma mulher, tentando abafar um soluço.

Era Karine.

Pedi licença. Eu precisava ver. Segui o som até o lounge feminino. Ela estava lá, curvada sobre uma pia, jogando água no rosto. Sua maquiagem glamorosa estava borrada.

"Aquele grosseirão", ela murmurou para seu reflexo. "Ele quase estragou tudo."

Então eu vi. A marca em seu lindo e caro vestido. O formato do colar. Ele não tinha apenas caído. Tinha sido pressionado contra ela, com força.

"Ele é tão bruto às vezes", ela reclamou para uma amiga ao telefone, sua voz um arrastar choroso. "Eu disse a ele para não esconder aí. É tão desconfortável."

Meu sangue gelou. Ele não comprou o colar para mim. Ele o comprou para ela. E ele a fez escondê-lo em seu corpo, sob o vestido. Ele estava desfilando sua amante, usando o colar da minha mãe, bem debaixo do meu nariz.

Vi o colar então, sobre o balcão ao lado de sua bolsa. Ela o havia recuperado do chão. Ela o pegou, sua expressão uma mistura de triunfo e ganância.

"Mas é meu agora", ela arrulhou. "Todo meu."

Senti uma fúria cega, tão pura e quente que queimou os últimos vestígios da minha dor. Ele pegou a memória da minha mãe, a única coisa pura que me restava, e a usou para enfeitar sua vadia.

Saí da sala, meus movimentos rígidos e robóticos. Voltei para a mesa. Franco estava esperando, seu rosto uma máscara perfeita de preocupação.

"Você está bem, meu amor?", ele perguntou, pegando minha mão.

Ele me tirou do salão de baile, longe dos olhares curiosos. No corredor vazio, ele me puxou para seus braços.

"Sinto muito pelo que aconteceu", ele sussurrou em meu cabelo. "Vou dar um jeito naquele garçom. Eu prometo."

Olhei para o rosto dele, o rosto bonito e mentiroso que eu uma vez adorei.

"Franco", eu disse, minha voz perigosamente calma.

"Sim, meu amor?"

"Acabou."

As palavras pairaram no ar, simples e finais. O amor se foi. A dor se foi. Tudo o que restou foi uma promessa.

Uma promessa de ruína.

                         

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