A ferida da cerimônia ainda estava fresca, um buraco aberto e em carne viva no meu peito. Eu queria quebrar alguma coisa, gritar, mas apenas afundei no sofá, exausta.
Rolei o feed do meu celular sem pensar, tentando me distrair. Um novo post de Helena apareceu. Era uma foto do pulso dela, adornado com um relógio novo, cravejado de diamantes. A legenda dizia: "Um presentinho de comemoração para mim! #abençoada #novoscomeços"
Eu reconheci o relógio. Era uma peça de edição limitada que eu havia mostrado a Caio semanas atrás. Ele tinha dito que era lindo, mas ridiculamente caro.
Atrás do pulso dela, a mão de um homem repousava sobre a mesa. O punho de seu terno escuro, o brilho de seu próprio relógio familiar - era Caio.
Um gosto amargo encheu minha boca. Lembrei-me do meu próprio aniversário no mês passado. Ele se esqueceu até o último minuto e mandou seu assistente entregar um buquê genérico de flores.
Vi o pequeno ícone de coração sob o post de Helena. Caio Hanson havia curtido.
Meu polegar pairou sobre a tela. Então eu a desliguei, uma única lágrima quente rolando pelo meu rosto.
Passava da meia-noite quando os ouvi na porta. Eles estavam rindo, tropeçando no hall de entrada. Ambos estavam bêbados.
"Clara, pegue um copo d'água para a Helena", Caio gritou, sua voz arrastada enquanto a ajudava a se sentar no sofá.
Eu não me movi. Apenas fiquei sentada no escuro, observando-os.
"Ela não está se mexendo", Helena arrastou as palavras, apontando um dedo preguiçoso para mim. "Ela está quebrada?"
Levantei-me e caminhei em direção ao meu quarto, sem vontade de me envolver.
"Não ligue para ela", ouvi Helena sussurrar alto. "Vem aqui, Caio."
Parei na porta do meu quarto, de costas para eles.
"Caio..." A voz dela era um murmúrio suave e enjoativo. "Você é tão bom para mim."
Então ouvi o som de um beijo. Um som úmido e desleixado que revirou meu estômago.
Congelei, ouvindo.
"Sabe", Helena riu, "você é muito melhor do que seu irmão jamais foi."
Esperei que Caio a afastasse, que dissesse que ela estava bêbada, que estava passando dos limites.
Mas ele não o fez.
Em vez disso, ouvi o farfalhar de roupas, seu gemido baixo.
Minha mão voou para a boca para abafar um grito. Virei-me lentamente, meus olhos se arregalando em descrença com a cena no sofá. Ele a estava beijando de volta, suas mãos emaranhadas no cabelo dela.
Meu cotovelo derrubou um vaso da mesa lateral. Ele se estilhaçou no chão de mármore.
O som os separou com um choque. Caio olhou para cima, seus olhos arregalados e em pânico quando me viu.
"Clara... não é o que parece. Nós estávamos apenas..."
"Não", sussurrei, minha voz trêmula. "Não me toque."
Ele começou a caminhar em minha direção, mas minhas palavras o detiveram.
De repente, Helena fez um som de ânsia. "Caio, acho que vou vomitar."
A atenção dele se voltou para ela instantaneamente. Ele correu para o lado dela, todo preocupação e cuidado.
"Está tudo bem, eu te ajudo. Vamos para o banheiro."
Ele a guiou para longe, seu braço protetoramente em volta dela, me deixando sozinha nos destroços da minha vida. Eu o observei ir, lembrando de todas as vezes que ele me segurou com a mesma gentileza.
Era tudo uma mentira. Nosso amor, nosso futuro, tudo.
Enxuguei as lágrimas do meu rosto com as costas da mão. Meus movimentos eram calmos, deliberados. Uma estranha sensação de clareza tomou conta de mim.
Este era o fim.
Entrei no meu escritório, não no meu quarto. Peguei o telefone e disquei para meu agente.
"Clara? É tarde. Está tudo bem?"
"Estou pedindo demissão", eu disse, minha voz vazia. "Cancele meus próximos projetos. Todos eles."
"O quê? Clara, do que você está falando? Você está no auge da sua carreira!"
"Eu cansei", repeti. "Vou sair do país. Preciso de uma mudança."
Eu estava cansada desta cidade, desta vida, do homem que me prometeu o mundo e depois o deu a outra pessoa.