Consegui rastrear o celular da Ivy até um bar decadente no centro, um lugar que eu sabia que pertencia a Hayden através de uma empresa de fachada.
Empurrei as portas e encontrei os dois numa sala reservada ao fundo.
Kyle mantinha Ivy prensada contra a parede, a mão enroscada nos cabelos dela com crueldade, enquanto sussurrava obscenidades no ouvido dela.
Ivy chorava, pálida de pavor - um medo que eu conhecia bem demais.
A raiva tomou conta de mim, quente e avassaladora, mais instintiva do que qualquer coisa que já tivesse sentido. Peguei uma garrafa de cerveja de uma mesa próxima e a quebrei com toda a força contra a cabeça de Kyle.
Ele cambaleou, o sangue descendo pelo rosto e os olhos arregalados de surpresa.
"Largue minha irmã", rosnei.
Mas ele se recompôs rápido, abrindo um sorriso cruel. "Sua vadia... Você tem coragem demais." Então, ele deu um passo em minha direção, ameaçador. "Acha mesmo que Hayden vai te proteger? Você não significa nada para ele."
Coloquei Ivy atrás de mim. "Encoste nela outra vez e eu te mato. Juro por Deus."
Nesse instante, Kaitlin entrou - impecável num vestido branco que provavelmente custava mais que o meu carro.
"Olha só quem apareceu", ela disse com a voz cheia de desprezo, observando a cena com um divertimento frio e cruel. "A rainha caída e sua irmãzinha patética.
Kyle logo começou a reclamar como uma criança. "Kait, essa maluca me atacou! Olha minha cabeça! Faça ela pagar por isso!"
O olhar de Kaitlin se voltou para Ivy, que tremia atrás de mim. "É ela que tem problemas de ansiedade? Parece mesmo um ratinho assustado."
Depois, me encarou e sorriu ainda mais. "Kyle tem razão. Você precisa de uma lição. Ajoelhe-se e peça desculpas ao meu irmão.'
"Vá para o inferno", cuspi.
Peguei o celular para chamar a polícia, mas um dos capangas de Kyle o arrancou da minha mão e o atirou contra a parede, onde se despedaçou.
Empurrei Ivy para a saída dos fundos, só que Kyle me segurou com força, cravando os dedos no meu braço. A dor atravessou meu ombro quando a antiga lesão - lembrança de um acidente de carro anos atrás - voltou a latejar. Gritei, me curvando de agonia.
"Ainda querendo bancar a heroína, Charlotte?", Kaitlin debochou. "Você é previsível demais."
Ela fez sinal para os homens, que me agarraram e me forçaram a ajoelhar.
O concreto áspero arranhou minha pele até arder.
"Eu disse para pedir desculpas", ela repetiu com a voz dura como aço.
"Nunca."
"Eu sabia que diria isso", ela suspirou de forma exagerada, se virou para Kyle e apontou para Ivy. "Talvez a irmã dela seja mais obediente."
O sorriso predatório de Kyle se alargou enquanto avançava para cima de Ivy.
O terror nos olhos da minha irmã me deu a certeza sufocante de que eu tinha perdido.
Mas, antes que conseguisse dizer qualquer coisa, as portas do bar se abriram de novo e Hayden entrou.
Ele demorou apenas um segundo para assimilar a cena - eu de joelhos, sangrando, Ivy encurralada, e Kaitlin sorrindo, triunfante.
Por um breve instante, vi algo nos olhos dele. Seria preocupação? Raiva?
"Hayden", sussurrei, uma centelha idiota de esperança surgindo dentro de mim.
Ele veio em minha direção com passos firmes, seu rosto marcado de fúria gelada, então, me ajudou a levantar com delicadeza inesperada. "Você está bem?"
Não pude responder, pois Kaitlin correu para o lado dele, o rosto perfeito exibindo sua máscara de falsa inocência. "Ainda bem que você chegou, Hayden! Charlotte enlouqueceu! Atacou o Kyle do nada e começou a nos ameaçar!"
O olhar de Hayden se voltou de mim para Kaitlin, e num instante sua expressão mudou - a preocupação se transformou em frieza absoluta.
De repente, ele me encarou com olhos vazios de qualquer calor. "Peça desculpas a eles."
As palavras me atingiram como um soco. "O quê? Você não pode estar falando sério, Hayden. Eles atacaram Ivy!"
"Não importa o que você acha que aconteceu", ele disse em voz baixa, perigosa. "Você vai pedir desculpas. Agora."
Ele segurou a parte de trás da minha cabeça e a empurrou para baixo.
Minha testa bateu contra o chão imundo com um estalo doloroso. O mundo girou em meio a dor e humilhação.
"Diga", ele ordenou.
Mas não consegui, já que era impossível trair assim cada instinto de proteção que eu tinha.
Ele forçou minha cabeça contra o chão de novo, com mais violência, até que o sangue escorresse na direção do meu olho.
"Me desculpem", engasguei por fim, o gosto de veneno e ferro na boca.
Kaitlin riu, vitoriosa.
Hayden então me largou e a puxou para um abraço protetor. "Está tudo bem, amor. Estou aqui agora."
Ele a conduziu para fora sem sequer olhar para trás, me deixando no chão, quebrada e sangrando, ao lado da minha irmã apavorada.