"Sinto muito", ela falou com delicadeza. "Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Ela não resistiu."
"Não...", sussurrei, sacudindo a cabeça em negação. "Não, isso não está certo. Confira de novo."
Tentei avançar, desesperada para alcançar Ivy, como se apenas o meu amor pudesse puxá-la de volta à vida, mas uma enfermeira me segurou firme.
"Não há mais nada que possamos fazer", repetiu a médica, a voz carregada de compaixão.
Foi como se todas as forças me abandonassem de uma vez. Afundei numa cadeira próxima, enquanto um grito surdo e sufocado ecoava apenas dentro de mim.
A culpa pesava. Eu não tinha protegido minha irmã! Eu tinha falhado com ela!
E então, algo começou a queimar dentro de mim - quente, negro, feroz. Não era só dor - era fúria, uma fúria crua, sem filtro.
Eles pagariam - Kaitlin, Kyle, e até Hayden, nenhum deles escaparia.
Peguei o celular reserva, guardado só para emergências, e disquei 911. "Quero denunciar um assassinato."
Mas antes que completasse a frase, senti uma mão se cravar no meu ombro.
"Se eu fosse você, não faria isso", Kaitlin sussurrou com a voz baixa, impregnada de veneno.
"Sua...!", rosnei, deixando a raiva transbordar sobre a dor. "Foi você quem fez isso."
"Eu? Eu não fiz nada", ela rebateu, abanando a mão de forma displicente. "Mas, se você resolver criar escândalo, não garanto a segurança do seu irmão. Acidentes em hospitais acontecem o tempo todo, principalmente com pacientes que já estão... debilitados."
A ameaça ficou no ar como uma lâmina fria.
Ezra, frágil, ainda estava internado no hospital de Hayden.
A fúria tomou meu corpo e subiu pela garganta como garras afiadas.
Então, me lancei contra ela e minhas mãos se fecharam em volta de seu pescoço delicado. Eu queria arrancar cada fôlego dela e ver a arrogância sumir dos olhos que tanto me provocavam.
"Charlotte!"
A voz de Hayden cortou o ar como um chicote. Ele me puxou para trás, segurando meus braços com uma força de ferro.
Kaitlin cambaleou, arfando por ar com o rosto pintado com uma expressão falsa de terror.
"Ela está louca, Hayden!", ela gritou. "Ela tentou me matar!"
"O que diabos há de errado com você?", Hayden explodiu, o rosto tomado pela fúria.
"Ela morreu!", devolvi, gritando de volta enquanto apontava com a mão trêmula para a sala de trauma. "Ivy está morta! O monstro que você protege e os amigos dele mataram ela!"
O sangue sumiu do rosto de Hayden.
"Morta?", ele repetiu, como se a ideia de que suas escolhas pudessem causar consequências fatais jamais tivesse lhe ocorrido.
Kaitlin e Kyle logo se apressaram a negar: "Ela está mentindo! A menina teve uma crise, uma convulsão, sei lá! Não tem nada a ver com a gente!"
Nesse momento, a médica voltou, visivelmente desconfortável.
"Acabamos de revisar o relatório preliminar", ela explicou, evitando meu olhar. "Parece que sua irmã tinha uma condição cardíaca pré-existente. O que causou a morte foi uma parada cardiorrespiratória."
Hayden já tinha comprado todos eles. Em minutos, tinha comprado o relatório, a médica, e até a própria verdade.
"Está vendo?", disse Kaitlin, agarrada ao braço dele. "Foi uma morte natural. Charlotte só está em histeria."
Os olhos de Hayden se estreitaram, frios e duros.
"Acho que você já provocou confusão demais por hoje." Com um gesto, ele chamou dois seguranças que apareceram ao seu lado. "Ela está fora de si. Levem ela para um quarto tranquilo até se acalmar. Imobilizem, se necessário."
Olhei para ele e senti meu coração se petrificar. Ele não estava apenas encobertando Kaitlin e Kyle. Ele estava me castigando por dizer a verdade e enterrando minha irmã sob uma pilha de mentiras.
Enquanto os seguranças me arrastavam, Kaitlin se inclinou sobre Hayden, sorrindo vitoriosa.
"Não estou me sentindo bem, Hayden", ela disse, colocando a mão no próprio ventre. "Acho que o estresse está afetando o bebê."
O bebê, o filho deles, a criança gerada a partir da minha dor, regada pelas minhas lágrimas...
O mundo girou diante dos meus olhos e o gosto ácido subiu pela garganta. Vomitei ali mesmo, no chão impecável do hospital.
A última imagem antes de desmaiar foi o rosto de Hayden - tomado de uma preocupação profunda, mas voltada não para mim, e sim para o monstro que carregava o filho dele.
Acordei em outro quarto.
Hayden dormia numa cadeira ao lado da cama. Parecia exausto, o cabelo sempre impecável agora desgrenhado, e o terno caro amarrotado.
Ele se mexeu quando percebeu que eu estava me levantando e ele disse, rouco: "Char, como está se sentindo?"
A tentativa de soar sincero não escondia a frieza calculada por trás do olhar.
"Eu fui um idiota, Char", ele disse, se aproximando da cama. "A Kaitlin... ela não é você. Foi só um caso. Um erro. É você que eu quero. Sempre foi você."
Quase ri. Ele achava mesmo que meia dúzia de palavras ocas seria suficiente para apagar tudo?
Meu silêncio começou a incomodá-lo.
"Eu vou me livrar dela", ele prometeu com uma voz carregada de falsa convicção. "Vou mandar ela embora. Nós dois podemos voltar a ser como antes."
Então, eu o fitei com expressão vazia, já que precisava jogar o jogo dele, por causa de Ezra.
"Quero ver Ezra", respondi, firme. "Quero transferi-lo para outro hospital. Um melhor."
Meu pedido pareceu aliviar Hayden. "Claro. O que você quiser. Vou cuidar disso agora."
Ele não questionou meus motivos. Cego pela própria arrogância, acreditava que já tinha vencido, que ainda me controlava. Assim, ele saiu para fazer as ligações.
Mas, minutos depois, seu assistente entrou correndo, pálido.
"Senhor Bridges...", ele gaguejou. "É sobre Ezra Tucker. Ele... ele sumiu. Não está mais no quarto."