Ela estava pálida, sacudida por tremores que pareciam não ter fim. "Char... eu estou bem. Só... só vamos embora. Por favor, me leva para casa."
Abracei minha irmã com força, tentando bloquear os olhares cruéis e as risadinhas debochadas de Kyle e dos outros.
"Nós vamos embora daqui", garanti com a voz firme apesar do nó de ódio na garganta.
Mas antes que conseguíssemos dar um passo, Kyle se plantou diante da saída com o rosto ainda manchado de sangue.
"Não tão rápido", ele disse e sorriu de forma maliciosa. "A festa nem começou de verdade."
Seu olhar passou rápido por mim e se grudou em Ivy, percorrendo-a com uma malícia que me fez estremecer. "Sua irmã é uma fagulha pronta para explodir. Fico pensando se esse ratinho aqui também tem algum fogo escondido."
As palavras nojentas me reviraram o estômago. Mas antes que eu pudesse reagir, os capangas me agarraram outra vez, torcendo meus braços para trás.
"Não!", berrei, me debatendo com toda a força. "Não encoste nela!"
Kyle soltou uma risada seca e começou a avançar na direção de Ivy.
Meus olhos se encheram de horror quando ele a encurralou contra a parede. O som frágil e apavorado que escapou da garganta dela me rasgou por dentro.
"Deixa ela em paz!", implorei, me contorcendo. "Eu te dou o que quiser! Dinheiro! O que for! Só não toque nela!"
Ele me ignorava.
O choro abafado de Ivy se misturava ao som cruel de tecido sendo rasgado. Os capangas gargalhavam, alguns já com os celulares erguidos para registrar o espetáculo doentio.
"Olhem só para ela", zombou um deles. "Tremendo igual vara verde."
De repente, os soluços de Ivy cessaram. Um som horrível, gorgolejante, começou a sair da garganta dela, e seu corpo inteiro entrou em convulsão.
"Ela está tendo uma crise", gritei, o terror me dilacerando. "Ela tem epilepsia! Vocês vão matar ela!"
Me debati como um bicho acuado, mordendo, chutando, desesperada para me soltar, mas eles eram mais fortes.
A voz de Ivy foi diminuindo, cada vez mais fraca, até que o silêncio tomou conta.
"Por favor", supliquei, chorando sem controle. Meus olhos se voltaram para a entrada, numa prece muda para que Hayden aparecesse, que ao menos restasse nele uma sombra do homem com quem me casei. "Hayden! Ajude a gente!"
Mas a porta não se abriu. Ele tinha ido embora, afundado na nova vida ao lado da amante, deixando nós duas para trás, entregues às feras que ele chamava de amigos.
O corpo de Ivy perdeu as forças. O som sufocante de sua garganta parou, até que um silêncio insuportável se espalhou.
Um grito selvagem, bruto e irreconhecível, explodiu de dentro de mim. Movida por uma força que não sabia existir, consegui me soltar e corri até minha irmã.
Caí de joelhos, puxando-a para os meus braços. Seus olhos estavam abertos, mas sem vida, e sua pele já começava a ficar cada vez mais fria.
"Não, Ivy... Não faça isso comigo", chorei, embalando seu corpo frágil. "Acorde, por favor, acorde!"
Então, eu a levantei do chão.
Ela estava tão leve que parecia se desfazer nos meus braços.
Corri desesperada para fora do bar, gritando por socorro, e só parei quando atravessei as portas da emergência do hospital mais próximo, deixando atrás de mim um rastro de lágrimas e sangue.