O despertar de uma mulher desesperada
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Capítulo 2

Eu havia acabado de encerrar a chamada quando escutei batidas na porta.

Evertt entrou, com o rosto idêntico ao de Dustin, e trazia no semblante um cansaço preocupado - o mesmo olhar que carregava há tantos meses.

Uma dor esmagadora tomou conta de mim. Para ele, parecia simples, porque tinha os olhos do irmão e a mesma estrutura. Mas o jeito de caminhar, a inclinação sutil da cabeça - isso era de Evertt.

Antes, eu costumava me perder nesse olhar, acreditando que fosse apenas uma lembrança dolorosa do meu marido no reflexo de Dustin. Agora, só conseguia enxergar o sujeito frio e calculista escondido por trás desses olhos.

Minha mão apertou o relógio dentro do bolso, os nós dos dedos ficando pálidos. Meus dedos tremiam sem controle.

Com cuidado, retirei o relógio do bolso.

"Dustin", falei, quase sussurando. "Onde você conseguiu isso?"

Seu olhar se fixou no relógio, e um sorriso irônico apareceu em sua boca - uma expressão tão familiar, igual à que já havia visto em Evertt inúmeras vezes.

"Evertt pediu que eu te entregasse", ele respondeu com suavidade. "Foi o último pedido dele. Queria que fosse seu."

Ele passou a mão pelos cabelos, suspirando. "Desculpe, Helen. Com tudo o que tem acontecido, acabei me esquecendo completamente."

Baixei os olhos, escondendo a raiva que queimava dentro de mim. Passei o polegar sobre a inscrição gravada. "H&E, Para Sempre."

"Você conhece a história deste relógio, Dustin?", perguntei calmamente.

Ele hesitou por um instante, antes de balançar a cabeça. "Não, Evertt nunca me contou."

"Eu subi uma montanha por esse relógio", falei, e minha voz ganhou firmeza. "Sem sapatos, em degraus de pedra. Passei três dias e três noites em um templo distante para que o relógio fosse abençoado. Fiz isso por ele. Para protegê-lo."

Levantei os olhos, prendendo os dele nos meus. "Fiz isso porque o amava mais do que tudo."

Por um segundo, sua expressão vacilou e vi uma rachadura se abrir em sua máscara perfeita.

"Ele sabia", continuei, com a voz agora mais baixa, mas firme a cada palavra. "Ficou comigo a noite inteira quando voltei, dizendo que eu era boba, mas o olhar dele... era cheio de ternura."

Sua garganta se moveu em silêncio, engolindo em seco, enquanto um lampejo de medo cruzava seu rosto.

"Por que você faria algo tão... extremo?", ele perguntou, tentando desviar do assunto.

"Porque ele era minha vida", respondi, firme. "E eu faria qualquer coisa por ele."

Ele virou o rosto, incapaz de me encarar.

O quarto parecia tomado por verdades sufocadas.

Então, ele falou, sua voz soando de repente gananciosa. "Helen, já que era dele, talvez eu devesse guardar esse relógio. Para mantê-lo protegido. Como uma lembrança do meu irmão."

Meu peito doía, mas minha mente estava clara - ele ainda estava atuando, ainda estava mentindo.

Respondi tranquilamente: "Não."

"Não adiantou de nada", acrescentei, com o gosto amargo pesando na boca.

Ele pareceu confuso. "Como assim?"

"Se esse relógio era tão abençoado, então por que ele está morto?", questionei, minha voz gelada.

Deixei escapar uma risada seca, sem emoção. Meus olhos estavam frios como gelo.

Então, bem diante dele, alcancei o isqueiro sobre a mesa de cabeceira.

Uma chama pequena se acendeu, iluminando meu rosto pálido.

Os olhos de Evertt se arregalaram em choque. "Helen, o que você está fazendo?"

Ele estendeu a mão para mim, mas já era tarde. Segurei o relógio sobre a chama, e a correia de couro pegou fogo imediatamente.

Cinzas subiram pelo ar, como os restos do nosso amor que já não existia.

A mão de Evertt parou no ar, sem força, antes de cair ao lado do corpo.

Nesse instante, a porta se abriu mais uma vez.

A voz doce e delicada de Kylee encheu o espaço enquanto ela envolvia o braço ao redor dele. "Dustin, meu bem, por que você está demorando tanto?"

A expressão de Evertt mudou de imediato, o choque se transformando em carinho enquanto ele se voltava para ela.

"Os resultados chegaram", anunciou Kylee, o rosto iluminado de alegria. "Estou grávida."

Seus olhos cruzaram os meus, trazendo um pequeno sorriso provocador.

Ela acariciou a barriga ainda reta, a voz impregnada de doçura. "Parece que a família Martin terá, enfim, um herdeiro."

O ar ficou pesado e frio.

Meus dedos se enterraram nos lençóis.

Grávida... Fazia pouco mais de um mês desde a "morte" de Evertt.

Devagar, levantei o rosto e encarei o homem com quem havia me casado.

Sua expressão passou do choque para uma alegria quase radiante, e em seguida para um carinho esmagador ao olhar para Kylee.

Ele a conduziu até uma cadeira, cada gesto cheio de cuidado e propósito renovado.

"Está vendo, Dustin?", Kylee murmurou suavemente. "Este é um presente de Evertt. Ele está cuidando de nós lá de cima." Então, lançou em minha direção um olhar afiado e vitorioso, encostando a cabeça no ombro dele.

Um sorriso estranho e vazio surgiu nos meus lábios.

"Parabéns", eu disse, com a voz leve, quase despreocupada.

Só então Evertt pareceu se lembrar da minha presença. Ele ajudou Kylee a se sentar, seus gestos delicados.

Fiquei observando os dois na cena perfeita de um casal feliz, e dentro de mim não havia nada além de um imenso e gélido vazio.

Meu marido chorando sua própria morte enquanto iniciava outra vida com a noiva do irmão... Absolutamente absurdo!

            
            

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