Passei a mão no pelo de Sunny, sentindo os vergões se formando. Meu coração doeu.
"Fui eu quem mandou que ele fizesse isso." A voz calma de Kylee soou atrás de mim.
Com Evertt ao seu lado, ela se aproximou e tocou o peito com a mão, seu rosto marcado pelo medo.
"Ele pulou em mim, Helen. Eu quase caí. E se algo acontecesse com o bebê?"
Evertt estreitou os olhos, voltando seu olhar gelado para mim. "Sunny não pode ficar perto de Kylee agora que ela está grávida."
Um arrepio correu pela minha pele.
"Ele nunca feriu ninguém", argumentei, com a garganta fechada.
"É um bicho", respondeu Evertt, sem emoção. "Ele pode machucar Kylee e o bebê."
Então, fez um gesto leve para o empregado. "Livre-se dele."
Apertei Sunny contra mim, suplicando: "Não, por favor. Eu o levo embora. Só não o machuque."
Por um instante, os olhos de Evertt vacilaram e, neles, algo indecifrável surgiu, mas sumiu rápido, substituído por sua frieza habitual. "Não."
"Evertt!", gritei, deixando seu nome escapar em meio ao meu desespero.
Ele não se moveu, seu rosto duro como pedra.
Um empregado arrancou Sunny dos meus braços e outro me segurou com força, com uma pegada de ferro.
O que veio depois foi um tormento. O som da vara, os ganidos apavorados de Sunny, os gritos ríspidos do empregado...
Eu me afundei no chão, um soluço rouco rasgando minha garganta.
Evertt passou o braço pelos ombros de Kylee e a levou embora, sem me lançar um único olhar.
"Vamos andar um pouco, amor", ouvi-o dizer com doçura. "Não deixe que isso te afete."
Não sei como consegui voltar ao meu quarto.
Sentei na beira da cama, olhando ao redor do espaço que antes era nosso refúgio. Fotos minhas com Evertt, seus livros preferidos sobre a mesa de cabeceira, a manta de cashmere que ele havia comprado para mim...
Antes, tudo isso me trazia aconchego. Agora, não passava de lembranças de uma mentira.
Peguei uma foto emoldurada e passei os dedos pelo contorno de seu rosto sorridente.
"Você é tão cruel, Evertt", murmurei, a voz falha. "Agora você tem a ela. Mas nem mesmo deixou que eu ficasse com meu cachorro."
A dor ainda queimava, latejando no peito, mas a vontade de morrer havia sumido. Em seu lugar, surgiu outra coisa, algo frio e duro.
Apertei o botão para chamar um empregado.
Uma jovem empregada apareceu na porta.
"Empacote tudo o que era do senhor Martin neste quarto", ordenei, minha voz calma e vazia. "E jogue no lixo."
Ela pareceu hesitar.
"Algum problema?", perguntei, firme, sem abrir espaço para contestação.
A jovem balançou a cabeça depressa e começou a juntar as coisas.
O barulho atraiu Evertt até minha porta. Ele a empurrou, o rosto tomado pela fúria.
"O que pensa que está fazendo?", ele exigiu, sua voz baixa e ameaçadora.
A empregada congelou, seus olhos indo de mim para ele.
Dei um meio sorriso gelado. "Fazendo uma limpeza no quarto."
"Quem permitiu que você mexesse nas coisas dele?", ele rebateu.
"Você mesmo", respondi sem me alterar. "Está sempre me dizendo para seguir em frente. Então estou fazendo isso."
Apontei para o quarto. "E já que Kylee está esperando um filho, resolvi começar do zero. Tirar tudo isso daqui... me parece um bom começo."
Ele me encarou com os olhos semicerrados, tentando decifrar meu rosto. Por um instante, percebi nele uma sombra de dúvida, de incômodo.
"Você está mesmo deixando tudo para trás?", ele perguntou, repleto de desconfiança.