Uma das enfermeiras, uma loira que eu não conhecia, deu um passo à frente. "O Dr. Ortiz está ocupado. Ele nos pediu para ver como você está. E para te dizer para parar de ser tão grudenta. Ele é um homem muito importante. Não pode passar todo o tempo ao seu lado."
As palavras foram um tapa na cara. Grudenta?
Outra enfermeira interveio: "Sinceramente, Alícia. Você não tem vergonha na cara? Você está o atrasando. Todo mundo sabe que ele só está com você por obrigação."
Minha cabeça girou. Mesmo que fosse verdade, ouvir isso dito de forma tão direta, tão cruel, foi devastador. Senti um tremor familiar começar em minhas mãos.
"Você é um obstáculo para a felicidade dele", disse Jade, sua voz suave e razoável, o que tornava tudo ainda pior. "Ele merece estar com alguém que seja seu igual. Alguém que entenda o mundo dele."
Ela se referia a si mesma. Claro que sim.
"Meu pai...", comecei, minha voz tremendo. "Meu pai salvou o pai dele."
A amiga de Jade riu. "Seu pai, o criminoso? Por favor. A família Ortiz estava apenas sendo caridosa. Eles tiveram pena de você. Você deveria ser grata, não exigente."
"Não fale do meu pai desse jeito!" As palavras saíram mais altas do que eu esperava. Meu pai era um bom homem. Ele foi incriminado, forçado a aceitar um acordo para proteger Augusto Ortiz, um homem em quem ele confiava.
"Oh, estamos ficando bravinhas?" a amiga de Jade provocou. Ela pegou o copo de água quente da minha mesa de cabeceira. "Talvez você precise se acalmar."
Antes que eu pudesse reagir, ela fez um movimento para jogá-lo em mim. O instinto tomou conta. Eu recuei, minha mão voando para proteger meu rosto. No meu movimento de pânico, eu bati no copo. A água quente voou para o lado, espirrando diretamente na mão estendida de Jade.
Jade soltou um grito agudo. "Minha mão! Ela me queimou!"
Aconteceu tão rápido. Em um momento elas estavam me atormentando, no seguinte Jade era a vítima.
A porta se abriu com um estrondo. Cássio entrou correndo, seus olhos selvagens de pânico.
"Jade! O que aconteceu?" Ele me ignorou completamente, correndo para o lado dela.
"Alícia... ela... ela jogou água quente em mim", Jade soluçou, embalando a mão, que mal estava rosada. "Eu só estava tentando falar com ela."
A cabeça de Cássio se virou para mim. Seus olhos, que eu antes pensava conter as estrelas, eram agora dois cacos de gelo. O olhar que ele me deu foi de puro ódio.
"Você fez isso?", ele rosnou.
Eu estava atordoada demais para falar. A injustiça de tudo aquilo me roubou o fôlego. Ele nem perguntou. Ele simplesmente acreditou nela.
"Cássio, eu..."
"Não", ele me interrompeu, sua voz perigosamente baixa. Ele pegou gentilmente a mão de Jade, examinando-a com o maior cuidado. "Está tudo bem, Jade. Estou aqui. Vou cuidar de você."
Ele a levou para fora do quarto, sussurrando palavras reconfortantes para ela, deixando-me sozinha com as enfermeiras silenciosas e sorridentes.
Alguns minutos depois, ele voltou. Seu rosto era uma máscara de fúria.
"Peça desculpas a ela", ele ordenou.
Eu o encarei, a incredulidade lutando com uma nova onda de dor. "Eu não fiz de propósito. A amiga dela ia jogar em mim."
"Não minta, Alícia. Jade nunca faria algo assim. Você tem ciúmes dela há meses."
Suas palavras me atingiram como um golpe físico. Ele achava que eu era a ciumenta, a mesquinha. Ele estava tão cego pelo amor por ela que não conseguia ver a verdade bem na sua frente.
"Então você acha que estou mentindo?" Minha voz era um sussurro quebrado.
Ele não respondeu. Apenas me encarou, sua mandíbula cerrada. E em seu silêncio, eu tive minha resposta. Ele acreditava nela. Ele sempre acreditaria nela.
Uma risada sem humor escapou dos meus lábios. Era um som seco e rachado. "Tudo bem."
"O quê?"
"Eu vou pedir desculpas", eu disse, minha voz plana e morta. Se este era o jogo, eu estava cansada de lutar.
Empurrei-me para a cadeira de rodas, a dor na minha perna um lembrete maçante e constante de sua crueldade. Rolei pelo corredor até seu escritório. Ele me seguiu, uma sombra silenciosa e ameaçadora atrás de mim.
A porta estava aberta. Jade estava sentada no sofá de couro macio lá dentro, enxugando os olhos com um lenço de papel. Ela olhou para cima quando entrei, um brilho de triunfo em seus olhos antes de ser substituído por um olhar de inocência frágil.
Era o escritório particular de Cássio. Um espaço para o qual ele nunca me convidara. Ele sempre dizia que era apenas para trabalho. No entanto, aqui estava Jade, parecendo perfeitamente em casa. Outra pequena e cruel torção da faca.
"Jade", comecei, minha voz vazia. "Sinto muito que você tenha se queimado."
Não consegui dizer mais nada. Não consegui admitir algo que não fiz.
Jade olhou para Cássio, seu lábio inferior tremendo. "Cássio... ela nem disse que foi culpa dela."
Cássio deu um passo à frente. "Alícia, isso não é um pedido de desculpas de verdade."
"O que mais você quer?", perguntei, olhando para ele. "Você me quer de joelhos?"
Sua expressão endureceu. "Apenas peça desculpas direito."
Jade fungou. "Está tudo bem, Cássio. Eu estou bem. Não fique bravo com a Alícia. Talvez ela só esteja chateada por causa da perna dela." Ela era a imagem da magnanimidade. Isso me deixou enjoada.
"Você pode ir agora, Alícia", disse Cássio, seu tom desdenhoso. Ele já havia voltado sua atenção para Jade, sua mão repousando confortavelmente no ombro dela.
Virei a cadeira de rodas para sair, meu coração um bloco de gelo. Ao passar pela porta, minha roda prendeu na beirada do tapete. A cadeira virou. Gritei ao cair, aterrissando com força na minha perna ferida.
A dor explodiu atrás dos meus olhos, branca, quente e absoluta. Eu me encolhi no chão, ofegante.
Através de uma névoa de agonia, ouvi a voz suave de Jade. "Ah, Cássio, você deveria me levar para jantar hoje à noite para compensar isso. Aquele novo restaurante francês no centro?"
"Claro", a voz de Cássio era um murmúrio baixo, cheio de afeto. "Qualquer coisa por você."
Ele nem olhou na minha direção. Não ofereceu uma mão. Não perguntou se eu estava bem. Ele apenas passou por cima de mim, seu braço ao redor de Jade, e saiu do escritório.
Fiquei deitada no chão frio, o som de seus passos ecoando no corredor vazio. Lágrimas silenciosas escorriam pelo meu rosto, não pela dor na minha perna, mas pela devastação total da minha alma.
Mais tarde, uma enfermeira que eu não reconheci me ajudou a voltar para o meu quarto. Ela foi gentil, seus olhos cheios de pena.
"O Dr. Ortiz e a Dra. Matos saíram", disse ela suavemente, como se compartilhasse um segredo. "Ouvi dizer que ele reservou a mesa mais cara do D.O.M. Ele nunca te levou lá, não é?"
Eu apenas balancei a cabeça, incapaz de falar. D.O.M. Eu tinha pedido a Cássio para me levar lá no meu aniversário do ano passado. Ele disse que era muito ostentoso, muito barulhento.
Não era que ele não gostasse do restaurante. Ele simplesmente não queria me levar.
Naquela noite, deitada sozinha na minha cama de hospital, tomei uma decisão. Isso tinha que acabar. Eu não podia mais viver assim. Eu não seria sua vítima. Eu não seria sua dívida.
Eu ia ser livre.