Capítulo 5 Tudo menos comum

Ignorando Timothy e Stacey, Rylie se concentrou no seu kit médico. Após pegar uma agulha de descompressão, apalpou o peito do paciente e desabotoou a camisa dele para preparar o procedimento.

Sua calma desafiadora chamou a atenção de Timothy, que se colocou no seu caminho. "Observe-o - pele fria e úmida, rosto pálido e desmaio com o calor escaldante. Esse é um caso típico de insolação, possivelmente agravado por problemas cardíacos. A melhor solução é a RCP. Traga-o de volta assim!"

Stacey não hesitou em se juntar à discussão. "Rylie, pelo menos desta vez, faça o que o professor Powell diz! Você quase matou Nicolas com o remédio errado ontem. Se continuar assim, vai acabar no tribunal!"

Com Stacey botando pilha, os murmúrios se espalharam pela multidão.

Entre os espectadores, alguns amigos de Stacey comentaram sobre as supostas notas baixas de Rylie, disseminando fofocas e fomentando o ressentimento.

Parada por perto, uma equipe do instituto de bio-pesquisa começou a se aproximar.

Com uma expressão sombria, Rylie segurou as mãos de Timothy, interrompendo sua tentativa de compressões torácicas. "Este homem não está respirando e a traqueia está deslocada. Ele apresenta um quadro de pneumotórax hipertensivo. Se você começar a RCP agora, só vai piorar a situação."

Esse desaforo à competência de Timothy, sobretudo diante de seus alunos, deixou seu rosto enrubescido de raiva. No entanto, vários integrantes do grupo de pesquisa se uniram a ele, apoiando seu diagnóstico.

"Rylie, pare de falar bobagem! O professor Powell é o profissional aqui, não você!"

Sem se abalar com o comentário, Rylie se livrou do aperto de Timothy, desinfectando seus instrumentos conforme respondia: "Suor frio, palidez e desmaio - o pneumotórax pode ser confundido com uma insolação. Se você pelo menos verificar se há deslocamento da traqueia ou se o tórax apresenta um som de tambor, perceberá a diferença. Isso não costuma passar batido por um charlatão."

Suas palavras incisivas motivaram alguns estudantes a se aproximarem para examinar o paciente, a curiosidade superando a insegurança.

"Parece que o diagnóstico de Rylie está correto", admitiu um aluno, o que endureceu a expressão de Timothy ainda mais.

Com a postura ereta e uma voz firme, Timothy retrucou: "Você não passa de uma assistente insignificante que só arquiva documentos, mas se acha uma especialista? Se você conseguir reanimá-lo com essa agulha, a cadeira de mentor é sua!"

Sem desperdiçar o tempo com essa discussão, Rylie terminou de esterilizar e inseriu a agulha de descompressão habilmente.

Com um chiado agudo, o ar preso escapou e a cor voltou ao rosto do paciente imediatamente, ao passo que sua respiração se estabilizou.

"Olhe! Ela estava certa o tempo todo! Ele teve um pneumotórax!", gritou um aluno, maravilhado.

O reconhecimento cintilou nos rostos dos presentes enquanto os que tinham formação médica percebiam o que acabara de acontecer - a avaliação de Timothy estava equivocada.

Nesse momento, um estudante expressou o que passava na mente de todos: "Se Rylie não tivesse se posicionado e o professor Powell tivesse prosseguido com a RCP, teríamos nos deparado com uma catástrofe."

Timothy logo arranjou uma justificativa para o seu erro. "Bem... todos vocês me entenderam mal. Na verdade, eu sabia que se tratava de um pneumotórax o tempo todo."

Na tentativa de salvar sua autoridade, ele olhou para Rylie e o grupo antes de acrescentar: "Minha intenção era só testar Rylie. Afinal, ela tem fama de pegar atalhos."

Antes que Rylie pudesse se manifestar, o paciente - ainda fraco, mas irradiando um poder discreto - interrompeu do chão: "Você arriscou minha vida só para testar uma aluna? Isso te desqualifica como médico, quanto mais como professor!"

Apesar de ainda se sentir debilitado, o homem se levantou, sua presença imponente impossível de ignorar. Esses aspectos marcantes, combinados com uma determinação inconfundível, fizeram Rylie perceber que ele era tudo menos comum.

Lançando-lhe um olhar calmo, ela deu uma instrução simples: "Poupe suas forças e deixe o hospital do campus fazer mais exames."

O homem deu um aceno de cabeça e, com uma voz rouca, disse a Timothy: "Você deveria pedir desculpas a quem realmente me salvou."

Diante da exigência, a compostura de Timothy se desfez. "Espere... O que você disse?"

Sem perder a chance de ganhar aprovação, Stacey logo interveio: "Rylie, o professor Powell tinha boas intenções e só estava preocupado com o seu aprendizado. Um professor tão gentil como ele não deveria ter que se desculpar."

No instante seguinte, uma resposta contundente atravessou a multidão: "E por que ele não deveria?"

A voz pertencia ao reitor, que acabara de chegar acompanhado de vários médicos.

A atenção de todos se voltou para ele, que se aproximou do paciente apressadamente e se curvou num gesto de pesar. "Senhor Owen, lamentamos profundamente pelo que aconteceu. Você não deveria ter passado por esse caos. Por favor, nos permita te acompanhar até nossas instalações para um check-up adequado."

Ao ouvir o nome Owen, Rylie se lembrou de ter ouvido que a poderosa família de Kouhron estava procurando pela filha perdida. A seriedade e a presença desse homem não lhe deixaram dúvidas de que ele era um integrante dessa família.

Uma equipe de médicos logo apareceu com uma cadeira de rodas, ajudando Felix Owen a se sentar.

Apesar da urgência, Felix permanecia imóvel, sua presença irradiando uma autoridade seca enquanto mantinha um olhar firme.

"Peça desculpas a ela", ele exigiu mais uma vez, sua voz afiada como uma navalha.

Qualquer dano causado a alguém da família Owen poderia levar a instituição a um colapso.

O suor se acumulava na testa do reitor, que se virou para Timothy e exclamou com uma voz incisiva: "Você vai se desculpar com Rylie agora mesmo! Você valoriza seu cargo nesta instituição ou não?!"

Cercado por testemunhas e encurralado pela ordem do reitor, Timothy não pôde fazer nada além de abaixar a cabeça.

"Eu estava errado, Rylie. Peço desculpas", disse ele, cada palavra pesada com a humilhação relutante.

A raiva fervia nos olhos do homem, que, com os punhos cerrados, prometeu a si que Rylie um dia pagaria por essa humilhação.

Quando Rylie terminou de guardar seus instrumentos e estava prestes a sair, Felix a deteve e colocou um token de madeira entalhada na mão dela, declarando: "Este é um token da família Owen - ele pode ser trocado por qualquer favor. Se algum dia você estiver em apuros ou precisar de algo, é só ligar para o número no verso. O que você pedir, será concedido."

Rylie hesitou por um momento, mas reconhecendo o significado disso, pegou o token silenciosamente.

Quando Felix foi levado sob o olhar atento do reitor, murmúrios se espalharam entre os estudantes.

"Então é por isso que havia carros de luxo no estacionamento esta manhã. Pelo visto, a família Owen veio à procura da filha perdida."

O choque se espalhava pelo grupo.

"O quê?! Está dizendo que a filha desaparecida está em algum lugar deste campus? Quem poderia ser?"

"Ninguém sabe ao certo. A única coisa que eu soube é que eles a rastrearam até aqui."