Capítulo 4

Acordei em uma cama de hospital.

Mais uma vez.

Meus braços e meu tronco estavam cobertos por curativos, e no ar pairava o cheiro forte de pomada para queimaduras.

Caleb estava sentado em uma cadeira ao lado da janela, seu rosto impassível, duro como pedra.

"Está pronta para admitir que errou?", ele perguntou, sem qualquer traço de compaixão na voz.

Eu apenas o encarei, pois minha garganta ardia demais para responder.

"Se tentar algo parecido outra vez", ele continuou, num tom baixo e ameaçador. "As consequências serão muito piores. Entendeu?"

Assenti de leve, exausta demais para discutir.

Nesse instante, Hailie entrou, sorridente, como se carregasse luz no rosto. "Ericka! Estou tão feliz que você sobreviveu! Fiquei apavorada."

Ela se aproximou da cama e estendeu a mão para mim. Quando chegou mais perto, seu sorriso se distorceu cruelmente. Seus dedos, escondidos da vista de Caleb, apertaram com força a área mais sensível da queimadura em meu braço.

A dor me atravessou como uma lâmina em brasa. Um grito escapou antes que eu pudesse me conter, e a empurrei instintivamente.

Hailie tropeçou para trás, fingindo ser a vítima, e caiu no chão com lágrimas falsas surgindo nos olhos. "Ericka, por quê? Eu só queria ser gentil!"

"Chega!", Caleb rugiu, o rosto tomado por raiva. "Você é ingrata e cruel! Não merece compaixão alguma!"

Ele se aproximou do suporte de soro e arrancou a agulha do meu braço com brutalidade. "Sem mais medicamentos. Sem mais comida. Você ficará aqui, deitada, refletindo sobre o que fez."

Uma enfermeira entrou, apressada, mas congelou diante do olhar intimidador dele.

Caleb Skinner era dono da cidade, e todos sabiam disso.

Ele e Hailie saíram, deixando-me sozinha com a dor pulsante e o vazio frio do soro parado.

Passei dois dias na cama, recebendo apenas água. A dor se tornou minha única companhia.

No terceiro dia, no início da manhã, Caleb voltou.

"Levante-se", ele ordenou. "Estamos indo."

Logo, percebi a data - era o aniversário do falso "acidente" que virou minha vida de cabeça para baixo, o dia em que minha família fingiu desaparecer.

Mas ele não me levou para a vila, mas sim até um cemitério, conduzindo-me até três lápides de mármore polido.

Beverley Reid. Franklin Reid. Hailie Silva.

"De joelhos", ele ordenou.

Minhas pernas mal sustentavam meu peso, e obedeci.

"Você ficará assim, ajoelhada, do nascer ao pôr do sol", ele decretou. "Neste chão de cascalho, você se arrependerá. Esta é a sua penitência de hoje."

Ele e Hailie se afastaram, deixando-me sozinha.

O cascalho afiado rasgava o tecido fino da minha calça e minha pele. Em pouco tempo, o sangue começou a manchar as pedras afiadas, mas a dor física era pequena comparada à do meu peito.

Ajoelhei por horas, encarando os nomes dos meus pais, que agora provavelmente estavam em algum spa de luxo, e repeti "sinto muito" até perder as contas, a ponto de as palavras perderem qualquer sentido.

Quando o sol se pôs, meus joelhos estavam em carne viva, sangrando.

Caleb voltou e me olhou com uma satisfação sombria antes de me deixar ali. "Você irá para casa sozinha."

Mas em vez de voltar para casa, arrastei-me até o escritório do cemitério.

O homem atrás da mesa ergueu os olhos, chocado ao ver meu estado.

"Em que posso ajudar?", ele perguntou, com cautela.

Respondi com a voz firme apesar da dor: "Quero comprar um jazigo."

Ele piscou, atônito. "Para um parente?"

Olhei direto em seus olhos. "Não. Para mim."

Ele ficou sem fala, prestes a questionar, quando a porta atrás de mim se abriu com violência.

Caleb estava lá, seu rosto tomado por fúria. Ele havia voltado por algum motivo e me flagrou entrando no escritório.

"O que diabos você está fazendo?", ele gritou, a voz carregada de ódio.