Depois, pegou um canivete pequeno e cego e começou a desgastar a corda que prendia as minhas mãos, de forma lenta e proposital.
O ruído da lâmina roçando nas fibras era a contagem regressiva para o meu fim.
Olhei para baixo. Lá no concreto, eu ainda conseguia enxergar a marca escura e molhada onde Hailie havia despencado.
A corda finalmente arrebentou, e eu despenquei.
O choque contra o solo foi uma explosão de dor insuportável. Meu corpo inteiro parecia ter se estilhaçado em incontáveis fragmentos.
Pude sentir o gosto de sangue na boca.
Minha última lembrança antes de apagar foi a imagem de Caleb dando as costas e indo embora sem sequer olhar para trás.
Despertei mais uma vez em uma cama de hospital. Isso já estava virando um costume na minha vida.
Cada osso do meu corpo latejava, e cada inspiração era uma batalha.
Hailie estava no quarto, acompanhada de um grupo de amigas bajuladoras.
"Vejam só quem resolveu acordar", ela sussurrou, a voz escorrendo uma falsa compaixão. "Continua respirando? Você é bem mais forte do que eu imaginava."
Ela se aproximou de mim. "Mas saiba que isso é apenas o início. Vou adorar acabar com você, pouco a pouco."
Do nada, ela deu uma bofetada forte no próprio rosto, então puxou a gola do vestido, rasgando-o, e deu um berro estridente.
"Socorro! Por favor, ajudem-me! Ela está tentando me machucar!"
Caleb entrou correndo no quarto, com uma expressão furiosa no rosto. Ele observou o choro fingido de Hailie, seu vestido rasgado e minha figura quieta e coberta de curativos. Para ele, não era necessária mais nenhuma evidência.
Ele segurou meu queixo com brutalidade, seus dedos fincando no meu maxilar. "Você não consegue se controlar, não é mesmo? Precisa sempre ser o centro de tudo?"
Eu apenas continuei olhando para ele, sem forças nem mesmo para negar.
"Pois bem, já que você insiste tanto em ser a vítima...", ele grunhiu e se virou para os seus homens. "Podem trazer os rapazes."
Dois homens enormes e com cara de poucos amigos entraram no cômodo. Ao vê-los, um calafrio de puro pavor atravessou a minha espinha.
"Tranquem a porta", Caleb comandou. "Permaneçam aqui com ela e ensinem alguns bons modos para ela."
Quando ele se preparava para ir embora, Hailie o encarou com uma preocupação cínica. "Caleb, você não acha que isso é um exagero?"
"Ela procurou por isso", ele respondeu com frieza antes de se retirar.
O cômodo mergulhou no silêncio.
Os dois homens vieram na minha direção, com sorrisos perversos estampados no rosto.
Eu tentei berrar e me debater, mas estava imobilizada na cama.
Um deles cobriu minha boca com a mão.
No momento em que a minha visão começou a escurecer, um acesso de tosse violento e incontrolável me sacudiu. Tive uma convulsão, e um esguicho de sangue jorrou da minha boca, manchando a mão do sujeito e os lençóis brancos da cama.
Ele se afastou, apavorado. "Mas que merda é essa?"
O segundo homem encarou o sangue, seus olhos completamente arregalados de pavor.
O monitor de batimentos ao lado do leito começou a soar, emitindo um alarme estridente e contínuo.
A porta do quarto se escancarou e o doutor Evans entrou às pressas, acompanhado por uma equipe de enfermagem.
"Fora daqui, agora!", ele berrou para os dois sujeitos, que fugiram em disparada. "Código Azul! A paciente está tendo uma parada!"
Uma enfermeira tentou telefonar para Caleb, e eu pude escutá-la ao celular. "Senhor, é uma situação de emergência. O câncer dela avançou... ela está... Doutor, ele está dizendo que não acredita em mim."
As vozes foram ficando mais baixas. O som desesperado do monitor foi se tornando cada vez mais distante.
Uma sensação de paz inexplicável me envolveu por completo.
Então era isso - havia chegado a minha hora.
Fechei meus olhos, preparada para o breu que viria a seguir.